Com a Liturgia do Domingo de Ramos abre-se a semana santa na qual celebramos os grandes acontecimentos de nossa fé: o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esta é a festa da Páscoa que condensa o mais rico conteúdo teológico salvífico, o tesouro de nossa fé, a redenção, a graça, o perdão dos pecados, a vida perpétua e feliz para sempre que começa desde aqui e agora para cada um de nós rumo à eterna Jerusalém, a pátria celeste. Neste Domingo de Ramos comemoramos a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém. Normalmente o povo se reúne fora da Igreja, onde se dá a bênção dos ramos ou palmas e se ouve a leitura da narração daquele acontecimento, nesse ano, tirada do Evangelho de São Lucas 19,28-40. Logo em seguida, a assembléia dos fiéis se põe em procissão acompanhando Jesus, o Filho de Deus, que vem como rei humilde e servidor, montado num jumento e, embora aclamado por nós, para morrer pregado numa cruz e assim perdoar os nossos pecados. Por causa dessa morte do Filho de Deus, vítima inocente, compreendemos o que nos ensina a nossa fé que foi por meio da cruz que Deus se identificou com as vítimas de todos os tempos. Deus crucificado é um escândalo para muitos religiosos e uma loucura para aqueles racionalistas que usurpam em favor do seu super-homem a condição divina. No entanto, segundo o apóstolo Paulo, ao contrário, Jesus Cristo, que é de condição divina como igual a Deus "usurpou" para si a condição humana, esvaziando-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens, conforme disse na segunda leitura da santa Missa em Filipenses 2, 6-11. A primeira leitura de Isaías 50,4-7 descreve o Servo sofredor esperando a vitória final, pois sua atitude é de absoluta confiança em Deus e de amor pelos irmãos. Durante a Semana Santa ouviremos várias vezes a leitura da paixão do Senhor segundo os Evangelistas sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), Neste ano a Liturgia nos apresenta na santa Missa de Ramos o testemunho de São Lucas 22,14-23,56 ou em trecho mais breve Lc 23,1-49. São Lucas apresenta Jesus como o tipo perfeito do mártir. Jesus combate contra satanás e ora por si e pelos inimigos e põe em prática o que Ele mesmo ensinou. O discípulo é aquele que segue e permanece com o Mestre na tentação, aquele que carrega a cruz atrás de Jesus; se depois não segue o seu exemplo, arrepende-se e volta a segui-Lo.
A Sagrada Liturgia nos convida a vivermos intensa e devotamente a Semana Santa, seguindo Jesus passo a passo rumo à sua Páscoa que também é a nossa Páscoa, a Páscoa de todo cristão. Sendo o cristão um homem criado por Deus e redimido por Jesus Cristo e santificado pelo Espírito Santo, desfruta pelo Batismo da alegria de participar da glória do ressuscitado e de estar erguido à altura de Deus, no aqui e agora desta vida. Por isso, o cristão não tem por que andar pela vida senão de cabeça erguida e não como um deus derrotado e expulso do paraíso, mas como uma pessoa - pecadora é certo - que o Pai abraçou, tendo lhe restituído a dignidade de filho de Deus. A missão do cristão é optar pela vida, preferentemente onde ela é mais ameaçada, dos abandonados, sofredores e pobres. O cristão vive da fé e esperança em Deus, enfrenta o presente com coragem, olha para o futuro com confiança e pratica a caridade a todo instante. Participemos mais uma vez neste ano da Semana Santa seguindo com respeito e devoção a "Via Crucis" de Jesus, suplicando que possamos nos solidarizar com Ele e com os irmãos na "via crucis" da vida de todos nós, assumindo-a também por amor, a fim de nos tornarmos dignos de participar da sua ressurreição e glória. Feliz e santa Páscoa!