Eleger presidentes populistas, só produz o caos - alertava Eric Hobsbawm historiador contemporâneo que escreveu "Era dos Extremos". Enquanto candidatos, os demagogos prometem riqueza para todos e o resgate de antigos valores que nem sabe se existiram.
Trump se elegeu prometendo a América Grande Outra Vez, como se o país tivesse perdido sua hegemonia econômica e geopolítica. Os Estados Unidos continuam os mais ricos do mundo. O PIB do país é de mais de 30 trilhões de dólares. A China, que vem em segundo, não chega aos 20 trilhões. O Brasil é que deveria estar reclamando, com seus 2,3 trilhões em moeda norte-americana.
Para conservar sua influência no mundo, os Estados Unidos, desde o presidente Harry Truman que governou de 1945 a 1953, sempre praticaram uma política de bons amigos. Sabiam que, para se manterem ricos, os norte-americanos precisam ter aliados no mundo todo. Seguindo este modelo, ajudaram a Europa e a Ásia a se reconstruírem depois de arrasados pela guerra. Não só os antigos aliados receberam ajuda. Mais ainda os inimigos derrotados, como a Alemanha e o Japão.
Em 1967, o francês Jean-Jacques Servan-Schreiber escreveu "O Desafio Americano", best-seller mundial. Advertia que se os Estados Unidos não tratassem de diminuir o "gap", isto é, o abismo econômico e tecnológico que os separavam do resto do mundo, chegaria o momento em que suas fronteiras, por mais bem vigiadas, seriam impotentes para conter a multidão de invasores famintos e desesperados.
John Kennedy, logo que eleito nos anos 1960, entendeu a advertência do seu amigo Servan-Schreiber e criou a Aliança para o Progresso, um programa de boa vizinhança voltado para a América Latina.
Até Bauru foi beneficiada quando o prefeito Nuno de Assis, no mandato 1964-1969, resolveu tomar recursos da Usaid, braço executivo do programa desenvolvimentista. Construiu a Estação de Tratamento de Água. O DAE pagou sem atrasar nenhuma parcela. Imagine Bauru sem a ETA. A Usaid acaba de ser extinta com uma canetada de Trump.
O mesmo Trump que acusa o mundo de explorar o seu país e promove o maior choque tarifário da história. Colocou-se contra o resto do mundo, como se os EUA não precisassem do Planeta. Deu meia-volta, é verdade, depois que o seu amigo Elon Musk chamou o conselheiro econômico da Casa Branca de burro.
As tarifas mais altas foram suspensas por 90 dias, mantendo a cobrança mínima de 10%, com exceção da China, cuja taxa foi alçada a 145%. Xi Jimping deu a resposta. Não vai aceitar o bullying tarifário como arma de pressão.
Trump mudou o tom. Chamou o mandatário chinês de "meu amigo". "Gosto dele, o respeito, é um cara inteligente". Acha que acontecerá um acordo. Ele disse que se referia a "esses países que estão me ligando, puxando o meu saco, doidos para fazer um acordo, pedindo por favor..." A expressão que se utilizou, "kissing my ass", literalmente se traduz por "beijando o meu traseiro". Equivale ao nosso "puxando o meu saco".
O emprego industrial, que Trump reclama, tem caído em todas as sociedades avançadas. É um fenômeno tecnológico que nada tem a ver com o comércio. A Nike tem 165 fábricas na China que produzem seus tênis e não é dona de nenhuma. A sede americana da grife tem um laboratório de pesquisas para produzir o melhor, de acordo com as exigências de cada modalidade esportiva.
Cria o designer, seleciona os insumos, faz o marketing e manda produzir fora, porque é mais barato. Se fabricar nos Estados Unidos fosse mais lucrativo, isso seria feito. E se é para aumentar o número de empregos, isso vai contra diminuir a importação, pois, para produzir é preciso importar e produzir a um custo razoável. Isso não é economia. É uma questão de contabilidade. Não dá para produzir café, camiseta, calcinha. Fica mais caro.
O autor é jornalista.