
O cantor e compositor Thiago Amud apresentou nesta sexta (4), no Sesc Pompeia, em São Paulo, o show de seu quinto e recém-lançado álbum, "Enseada Perdida". Além da sofisticação de música e letra que ele traz desde a estreia fonográfica com "Sacradança", de 2010, o novo trabalho traz algo incomum: Chico Buarque e Caetano Veloso em um mesmo álbum. Os gigantes da MPB cantam em faixas diferentes, mas há muito tempo não estavam tão próximos.
"Tem ares de proeza, né?", diz Amud, com um sorriso. A amizade com Zeca Veloso, filho de Caetano, contribuiu para essa dupla participação. Bem antes dessa amizade surgir, Caetano já elogiava constantemente Amud, embora eles nunca tivessem se encontrado. Amud arriscou - deixou um CD de seu segundo álbum, "Ponta a Ponta, Tudo é Praia-Palma", de 2013, na portaria do prédio onde Caetano morava. Até que aconteceu. "De repente, ele citava meu nome na imprensa, elogiando. Eu fiquei muito instigado, mais até do que envaidecido. E aí consegui o e-mail dele e viemos nos falando." Foi quando conheceu Zeca e, no período da pandemia, fez o arranjo da música-título do disco "Meu Coco", de Caetano.
Em 2023, quando Amud voltou ao Rio de Janeiro após um tempo em Belo Horizonte, Zeca insistiu que o amigo enviasse uma canção para Caetano gravar. Ele mandou então "Cidade Possessa", que abre o novo álbum. No fim, o colega repassou a música ao produtor de Chico Buarque, que entoa os versos que abrem o novo álbum. "Essa música é a cara do Chico. Manda outra para o meu pai", disse Zeca. O interesse de Chico também foi reforçado por outra amizade de Amud. No estúdio, o veterano falou que conhecia o trabalho dele por causa de Guinga, outro monstro sagrado da MPB, que participa das peladas semanais com o compositor. Como Zeca havia avaliado, "Cidade Possessa" é um frevo de inclinação buarqueana. Já Caetano interpreta 'Cantiga para Ninar o Mar'.