ECONOMIA

Demandas da geração Z desafiam empresas e dificultam contratações

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
JC Imagens
Elion Pontechelle Junior, consultor jurídico da CDL
Elion Pontechelle Junior, consultor jurídico da CDL

Estudo da empresa norte-americana de consultoria McKinsey aponta que, em 2025, profissionais da geração Z representarão 25% da força de trabalho no mundo, proporção que, em cinco anos, deverá chegar a 30%. Ocupando cada vez mais espaço no ambiente corporativo, estes jovens têm valores e expectativas profundamente diferentes das gerações anteriores e representam um grande desafio para muitas empresas, que enfrentam dificuldades para o preenchimento das vagas de trabalho.

Segundo especialistas em recursos humanos, é uma realidade que teve impulso após a pandemia de Covid-19 e vem ganhando força em um cenário de baixas taxas de desemprego no País nos últimos anos. O índice chegou ao menor nível da série histórica da Pnad Contínua no terceiro trimestre de 2024, de 6,4%, e a 6,8% no trimestre terminado em fevereiro de 2025.

Para se ter ideia, as 800 lojas do comércio associadas à Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Bauru possuem, hoje, cerca de 70 vagas em aberto. Da mesma forma, os estabelecimentos vinculados à Associação Paulista de Supermercados (Apas) em 55 cidades da região acumulam mais de 1.300 vagas não preenchidas - no Estado, são 34,5 mil.

E, assim como o setor do comércio, este é um desafio enfrentado também por empresas de prestação de serviços, da indústria e da construção civil. Segundo Danielle Nascimento, consultora de RH em gestão de pessoas, a geração Z, nativa digital, cresceu com mais acesso à informação e, por isso, é mais esclarecida sobre cuidados com saúde mental e manutenção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e menos disposta a fazer concessões como trabalhar aos finais de semana, feriados e em períodos noturnos.

Estes jovens que nasceram entre 1997 e 2010 e atualmente têm de 15 a 28 anos também são mais propensos a procurar empresas alinhadas com seus valores pessoais e cujos líderes se comuniquem com transparência. "Eles não querem se submeter aos mesmos sacrifícios de seus pais e avós, que passaram a vida com medo do futuro, preocupados em garantir sua sobrevivência e o sustento da família. Embora, ao avaliar uma proposta de emprego, tenham interesse na possibilidade de progresso na carreira e nos benefícios oferecidos, também consideram a qualidade de vida e não têm medo de dizer não", acrescenta Danielle, que também é especialista em mentoria de carreiras.

Relação com telas

Já as corporações, em uma era dominada pelas tecnologias digitais, desejam profissionais com habilidades humanas como adaptabilidade, iniciativa, resiliência, resolutividade e capacidade de comunicação. Consultor jurídico da CDL, Elion Pontechelle Junior comenta que, provavelmente em razão de estarem habituados a se relacionar com pessoas por meio de telas, muitos trabalhadores desta nova geração são pouco assertivos na interação presencial com os clientes, além de serem mais imediatistas.

"Eles não têm desenvoltura para atender o consumidor, não são proativos para mostrar os produtos disponíveis na loja. Têm um perfil diferente do vendedor que abria e mostrava a mercadoria, porque, se o cliente não levar, são eles que terão de guardar de volta. Então, mesmo quando são chamados para um período de experiência, acabam sendo dispensados porque não correspondem às expectativas", lamenta.

Outra dificuldade, ressalta, é a preferência por trabalhos com flexibilidade de horário e local, enquanto, no comércio, são poucas as vagas de home office, oferecidas somente por empresas que possuem site com vendas online. E, em meio à valorização do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, parte dos profissionais com maior qualificação e experiência - em áreas como, por exemplo, da alimentação - acabou deixando a segurança do contrato formal de emprego para atuar por conta própria, como microempreendedor individual (MEI).

Capacitação e compreensão sobre asmudanças são necessárias, aponta sindicato

Para o Sindicato dos Empregados no Comércio de Bauru (Sincomerciários Bauru), o investimento em cursos de capacitação voltados a estes profissionais em início de carreira e o treinamento de líderes das empresas para maior compreensão sobre as mudanças em curso no ambiente corporativo são medidas necessárias para ajustar a lacuna existente entre os anseios dos trabalhadores e das corporações. Diante do atual desafio, o presidente Cilso José de Moraes conta que a entidade tem encaminhado currículos de profissionais às empresas com vagas em aberto.

"Os trabalhadores mencionam como pontos negativos a exigência de flexibilidade de horário, os baixos salários, jornadas cansativas, pressão pelo cumprimento de metas, que poderiam ser relativizados se houvesse mais benefícios trabalhistas e oportunidades de crescimento dentro da empresa", pondera.

Walace Sampaio, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Bauru e Região (Sincomércio), afirma que as empresas têm investido na capacitação dos candidatos ao primeiro emprego. "São treinamentos desde comportamento para adaptação à filosofia da empresa até para o desempenho de funções específicas. Outra tendência é a automação dos processos em algumas atividades e o uso de inteligência artificial como auxiliar dos colaboradores para aumento da produtividade. Além disso, as maiores empresas têm apresentado planos de carreira para acesso dos novos colaboradores", detalha.

Já na empresa de recuperação de crédito Paschoalotto, segundo a gerente de aquisição de talentos Gabriela Gigliotti Costa, várias iniciativas têm sido adotadas para preencher as vagas abertas e reter talentos. Entre elas, estão palestras em escolas a fim de atrair jovens ao primeiro emprego, programas de capacitação voltados a colaboradores e lideranças e estratégias para que os profissionais encontrem propósito junto à cultura da corporação.

"Temos uma área de bem-estar com psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeuta, auxiliar e médico do trabalho, que realizam palestras, além de atendimentos breves individuais com a psicóloga, mais de 20 campanhas anuais sobre saúde e bem-estar e sala de descompressão com videogame, jogos, televisões, ambiente de leitura. Entre os benefícios, temos uma plataforma de saúde psicoemocional com 52 sessões de terapia gratuitas ao ano e outra em parceria com academias, reforçando a importância da saúde mental e da qualidade de vida", completa.

Danielle Nascimento, consultora de RH em gestão de pessoas e especialista em mentoria de carreiras
Danielle Nascimento, consultora de RH em gestão de pessoas e especialista em mentoria de carreiras
Presidente do Sincomerciários Bauru, Cilso José de Moraes
Presidente do Sincomerciários Bauru, Cilso José de Moraes

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