ENTREVISTA DA SEMANA

Zildene Pedrosa de Oliveira Emídio: mulher à frente do tempo

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Arquivo pessoal
Zildene no IPMet
Zildene no IPMet

Uma das mais antigas meteorologistas em atividade no Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet), Zildene Pedrosa de Oliveira Emídio, 64 anos, completa, em 2025, 35 anos de carreira na unidade. Nascida em Maceió (AL) e criada em uma família com dez irmãos, ela decidiu cursar meteorologia na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) quando conhecia o assunto apenas pelas previsões do tempo.

Porém, acabou apaixonando-se pela área que, mesmo com o apego à família e à cidade natal, a fez cruzar a costa brasileira rumo a Piracicaba, onde fez mestrado em agrometeorologia na Esalq/USP. Depois, concluiu doutorado em geociências e meio ambiente na Unesp de Rio Claro.

Antes da segunda titulação, contudo, Zildene já era meteorologista do IPMet, concursada na Unesp, onde encontrou seu lugar no mundo para trabalhar. Atualmente, ela integra o time de veteranos do centro e, ao lado dos colegas, elabora previsões do tempo que impactam decisões do cotidiano das pessoas e ações de Defesa Civil de diversos municípios paulistas.

Ao longo da carreira, Zildene ainda atuou em um projeto em Maceió, ocasião em que conheceu o marido, Natanael, com quem tem as filhas Camile Maria, 29 anos, e Natália Maria, 26 anos. Católica, esta nordestina orgulhosa de sua trajetória relembra, nesta entrevista, momentos marcantes em sua cidade natal, fala dos desafios enfrentados após a mudança a 2,5 mil quilômetros de distância e ao administrar o trabalho com a maternidade, e exalta o amor pela família e pelo trabalho.

JC - Até que idade viveu em Maceió? Como foi esse início de vida?

Zildene - Meu pai era construtor e minha mãe, dona de casa. Eles tiveram 12 filhos, mas os dois primeiros, gêmeos, morreram. Então, foram criados dez irmãos, cujos nomes começam com a letra Z. Morávamos em uma casa grande, uma das primeiras com piscina na cidade. Estudei em colégio de freiras até o ensino fundamental 1 e fiquei em Maceió até me formar pela Ufal em meteorologia, área que só conhecia pela previsão do tempo, mas pela qual me apaixonei. Todos os meus irmãos fizeram curso superior, menos um, que morreu aos 15 anos em um acidente de trânsito. Mais recentemente, perdi uma irmã e um irmão para o câncer. Então, hoje, somos sete.

JC - O que a trouxe para o Estado de São Paulo?

Zildene - Quando estava quase me formando, comecei a trabalhar no setor de reservas do Laguna Praia Hotel, de uma das minhas irmãs e do meu cunhado, em Maceió. Fiquei por cerca de dois anos, mas saí quando fui fazer mestrado na Esalq, em Piracicaba, com enfoque em balanço hídrico. Eu tinha 28 anos, estava saindo de casa pela primeira vez e foi uma experiência de vida. Morei com uma amiga peruana do mestrado, a Irene, e convivi muito com boliviano, nicaraguense, argentino, salvadorenho. Foi um tempo maravilhoso.

JC - Quando surgiu o IPMet na sua história?

Zildene - No curso de meteorologia, já gostava muito de sinótica, que tem a ver com previsão do tempo. Inclusive, meu TCC foi nesta área. Quando estava fazendo mestrado, nossa turma foi visitar o IPMet e eu disse: um dia venho trabalhar aqui. E fui aprovada no concurso público para meteorologista em 1990. Quando cheguei, dividi casa com a Rita, que também é alagoana, e a Laura. Logo, comprei uma moto, que eu chamava de Pretinha, para ter um meio de transporte, porque o ônibus, na época, só ia até a Sorri, e tinha escala de trabalho à noite, de madrugada. Ia para todo lado com a Pretinha.

JC - Nunca mais voltou a morar em Maceió?

Zildene - Voltei em duas ocasiões. No fim 1992, fui liberada para trabalhar no Núcleo de Meteorologia, um projeto federal em convênio com o Estado de Alagoas, ganhando bolsa de estudos do CNPq. Fiquei lá por dois anos, na Secretaria de Desenvolvimento e Tecnologia. No mesmo prédio, funcionava a Secretaria de Transporte e Obras, onde o Natanael trabalhava e nos conhecemos. Começamos a namorar e, como meu tempo de permanência lá estava acabando, em três meses, noivamos, eu engravidei e nos casamos. No dia seguinte, fui apresentar um trabalho em um congresso em Minas Gerais e lá foi nossa lua de mel. Em outubro, completamos 31 anos de casados.

JC - Ele veio morar em Bauru com você?

Zildene - Não. Vim para Bauru e, perto de ter a Camile, entrei em licença e fui para Maceió. Meses após o parto, voltei com ela sozinha e foi difícil conseguir contratar babá, porque eu trabalhava em final de semana. Foram várias tentativas, mas achei uma creche particular onde tinha uma moça, a quem eu pagava a mais para ficar com minha filha quando a creche estava fechada. Eu tinha um Chevette e, um dia, deixei a chave no carro e travei a porta com a Camile dentro. Ela tinha menos de um ano e tive que quebrar o vidro do corta-vento. Foi um desespero, mas percebi que estava esgotada. Então, decidi deixá-la com meu marido e minha sogra em Maceió, mas, um mês depois, veio com a Camile para Bauru. Depois, consegui vaga na creche da Unesp e tudo foi resolvido.


JC - Quando voltou a Maceió pela segunda vez?

Zildene - No fim de 1996, para trabalhar no mesmo projeto por mais dois anos, com bolsa de estudos da Fundação de Amparo de Pesquisa de Alagoas, e fomos nós três para Maceió. Nesta época, nasceu a Natália e voltamos para Bauru quando ela tinha um mês. Depois, fiz doutorado na Unesp de Rio Claro, com enfoque em geoestatística e balanço hídrico com uso de dados de radar, ao mesmo tempo em que trabalhava no IPMet. Foi bem corrido. Confesso que gostaria de ter compartilhado mais momentos com a minha família em Maceió, com quem tenho forte ligação, mas sou agradecida a Bauru por tudo o que conquistei e muito orgulhosa da minha trajetória. Amo minha profissão, que está inserida em todas as atividades do ser humano, desde a roupa que as pessoas vão vestir para sair de casa, até o turismo, a aviação, os transportes marítimos, as decisões na agricultura e nas usinas hidrelétricas. É um trabalho importante, que produz informações que irão dizer o que acontecerá com a atmosfera no presente e no futuro.

Zildene (a segunda, da esquerda para a direita) com os pais e os irmãos
Zildene (a segunda, da esquerda para a direita) com os pais e os irmãos
Com as filhas Natália e Camile e o cão Lorde
Com as filhas Natália e Camile e o cão Lorde
Com o genro Vinícius, as filhas Natália e Camile e o marido Natanael
Com o genro Vinícius, as filhas Natália e Camile e o marido Natanael

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