
"Cada droga tem sua rota e a cocaína é mais difícil de fazer chegar. Então ela é mais misturada", explica Marcelo Bertoli Gimenes, delegado titular da 2.ª Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (2.ª Dise) da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic). Em entrevista ao JC, ele conta que Bauru, além de uma cocaína de péssima qualidade, tem pequenas plantações de maconha.
"Em prisões que estamos realizando, e que outras delegacias também, eventualmente vem um laudo negativo [ou seja, sem a presença de cocaína], de tão diluída com xilocaína, tetracaína, cafeína e talco", acrescenta Gimenes, ao destacar a situação local frente à dificuldade de trazer esse entorpecente para a região Central do Estado de São Paulo.
Do prensado ao haxixe
No caso da maconha, Bauru conta com opções de qualidades variadas, com preços entre R$ 5,00 (prensado) e R$ 120,00 (variações do haxixe), de acordo com investigações e apreensões da Polícia Civil. A 2.ª Dise, inclusive, já encontrou maconha cultivada em estufas ou em pequenas plantações no fundo do quintal.
"O prensado consiste no pé de maconha já seco que é, como o próprio nome diz, prensado com tudo: o caule, folhas e os galhos, que têm baixo teor de THC, além das flores, onde há maior concentração da substância. Então, ele vem para o Brasil nesse formato de tijolo. Essa maconha é vendida por R$ 5,00 o grama, devido ao baixo teor. Para fazer maconha prensada é necessária uma grande quantidade de pés de maconha. Em geral, as grandes plantações para produzir essa variedade estão no Paraguai", explica o delegado.
O tetrahidrocanabinol (THC) é o psicoativo encontrado da cannabis (gênero de plantas que inclui a Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis — nomes científicos para diferentes espécies da planta). Quanto maior a concentração dessa substância, maior é a sensação de relaxamento e prazer provocado pelo consumo da maconha.
As plantações bauruenses da cannabis são voltadas para a produção de "buchas" — nome popular para se referir às flores da maconha, onde está a maior concentração de THC. "Existem algumas variedades da planta que produzem buchas ainda jovens [poucos meses após o plantio]. Quem planta costuma ser traficante de bairro, que consegue cultivar de 10 a 20 pés de maconha dessas variedades. Eles não costumam ser faccionados. O valor dessa maconha é por volta dos R$ 50,00 o grama", diz Gimenes.
De acordo com ele, as apreensões de haxixe são comuns em Bauru. Essa substância é uma extração da resina das flores da cannabis. O 'hax' tem concentração de THC maior que as próprias buchas e é encontrado, também, em duas variações: o ice e o dry. O que muda são os processos de extração, mas, em geral, produzir essas resinas necessita de muitas flores.
"Uma placa de 100g de haxixe é vendida no atacado por cerca de R$ 3.000,00. No varejo, o preço por grama chega a R$ 120,00", comenta o titular da Dise. No caso desse "concentrado" de maconha, ele acredita que não existam produções em Bauru. No entanto, ela chega à cidade vinda do próprio Estado de São Paulo.
Perfil dos usuários
Em entrevista para o Programa Cidade 360°, o delegado afirmou que não existe um perfil de usuários de entorpecentes. Eles variam de classe social, idade e poder aquisitivo. O que muda, na visão dele, é a qualidade da droga que será adquirida e consumida.
"Anos atrás, as drogas eram mais consumidas por jovens. Não é o que vemos hoje. Esse é um problema de saúde pública que atinge todas as pessoas. Não existe um grupo para ser estigmatizado. Nas observações a distância que fazemos, dependendo do horário, você vê um tipo de usuário diferente. Num sábado à noite, por exemplo, você vê jovens indo para a balada que passam na biqueira. Se for às 19h, você vê pessoas na casa dos 30 ou 40 anos saindo do serviço para comprar drogas e ir para casa. Depende do horário e da biqueira", narra o delegado.
Gimenes acredita que é necessária uma ação do poder público no sentido de estimular a prevenção. "Nós temos uma carência muito grande de campanhas que tratem do tema sem medo ou tabu. A falta da prevenção leva ao aumento da demanda e amplia a base de consumidores", destaca.
Todos os anos, a polícia realiza milhares de apreensões e, mesmo assim, o tráfico se reorganiza para driblar os aparatos criados para suprimi-lo. Para Gimenes, o combate a esta prática é um trabalho "sem fim", diferente da investigação de outros crimes, como homicídios.
"Drogas sempre existiram na sociedade e sempre vão existir. Temos consciência que fazemos um trabalho de combate a uma patologia persistente. Não há, que eu saiba, uma sociedade que não sofra desse mal. Nossa missão é diminuir a oferta e dificultar o acesso das pessoas aos entorpecentes", finaliza.