
Há cinco anos, no dia 30 de março de 2020, Bauru confirmou os dois primeiros casos de Covid-19. Os infectados eram dois homens, de 31 e 51 anos, que conseguiram se recuperar. Mas, no dia 4 de abril, houve a confirmação da primeira morte em decorrência da doença, de um homem de 79 anos com hipertensão. Naquele mês, sete moradores da cidade perderam a batalha contra o novo coronavírus, sendo que seis tinham mais de 60 anos e apresentavam comorbidades.
Com a escalada da pandemia, outros perfis de pacientes também passaram a enfrentar manifestações graves da Covid-19, incluindo crianças e jovens. Em abril de 2021, por exemplo, a doença ceifou a vida de 17 bauruenses com menos de 40 anos.
Com o fim da crise sanitária decretado e a redução do volume de casos e óbitos, os idosos com doenças preexistentes voltaram a ser, em sua grande maioria, as vítimas fatais da doença. Segundo dados da Divisão de Vigilância Epidemiológica (DVE) da Secretaria Municipal de Saúde, os quatro pacientes que morreram por Covid-19 em 2025 tinham 60 anos ou mais e ao menos uma comorbidade.
Outro dado relevante é que todos eles estavam com a vacinação contra a doença desatualizada. "Hoje, a estratégia contempla uma dose a cada seis meses para os idosos. E, entre estas vítimas, três tinham se vacinado pela última vez em 2022 e uma em 2023. Os reforços são importantes porque a vacina, com o passar do tempo, vai perdendo sua eficácia", alerta a diretora da DVE, Natália Paes Marcante (leia mais abaixo).
3 mil mortes
Desde o início da pandemia até agora, foram registradas cerca de 3 mil mortes por Covid-19 em Bauru. Deste total, conforme mostram as estatísticas do painel da Fundação Seade, 70% são de pessoas com 60 anos ou mais. A plataforma também revela que, enquanto a letalidade do vírus para a população em geral é de 1,7%, o índice sobe para 15,9% entre os moradores com comorbidade.
Médico infectologista que atua nas redes pública e privada de Bauru, Taylor Endrigo Toscano Olivo pondera que, mesmo no ápice da pandemia, quando muitas pessoas mais jovens perderam a vida, a proporção de óbitos de pacientes idosos com doenças preexistentes sempre foi maior.
"O vírus provoca um processo inflamatório sistêmico no organismo, atingindo diversos órgãos. Então, estes pacientes com problemas cardíacos, renais, diabetes, enfisema, cirrose, obesos, imunossuprimidos acabam tendo uma descompensação de todos esses órgãos e sistemas", explica.
O conhecimento sobre tipo de complicação já é bastante consolidado entre os especialistas e estudos científicos já têm demonstrado a eficácia de algumas medicações específicas, indicadas para pacientes acima de 65 anos ou que tenham comorbidades, antes da piora do quadro de saúde após o diagnóstico de Covid-19. "Uma delas é o Paxlovid, medicação gratuita, disponível no SUS. Mas, como é muito específica, médicos que não são infectologistas e recebem estes pacientes nas unidades de saúde, podem desconhecer ou ter receio de prescrever, mas ela deve ser dada precocemente", frisa.
Legado
Moradores de Bauru ouvidos pelo Jornal da Cidade revelaram as mudanças que a pandemia de Covid-19 provocou em suas vidas. De prejuízos para a saúde mental a hábitos mais saudáveis e novos aprendizados, como a familiarização com compras online e o home office, muitas transformações ocorreram nestes cinco anos (leia mais na página 7). Para o médico infectologista Taylor Endrigo Toscano Olivo, alguns dos principais legados são o maior entendimento da população sobre a importância do investimento em Ciência e sobre a necessidade de buscar informações de boa qualidade para a tomada de decisões, sem a influência do medo. "Toda a tecnologia envolvida na vacina contra a Covid já vinha sendo desenvolvida há 10, 15 anos, principalmente para os estudos relacionados ao HIV. Então, quando há investimento, a Ciência tem capacidade de dar respostas rápidas em situações emergenciais. E elas vão acontecer de novo em algum momento, já que vírus e bactérias - que vivem há muito mais tempo no planeta do que a gente - estão circulando entre os animais", completa.
60+ devem se vacinar a cada seis meses
Em 2025, o Ministério da Saúde atualizou a estratégia de vacinação contra a Covid-19 e a inclusão de idosos e gestantes no Calendário Nacional de Vacinação está entre as novidades. As grávidas devem ser imunizadas com uma dose em qualquer período de cada gestação e os idosos recebem uma dose a cada seis meses. Além disso, o esquema para crianças de 6 meses a menores de 5 anos passou a ser com duas doses da vacina da Moderna ou três doses da Pfizer.
Já pessoas imunocomprometidas, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, puérperas, trabalhadores de saúde, pessoas com deficiência, pessoa com comorbidade, população privada de liberdade, funcionários do sistema prisional, jovens sob medida socioeducativa e a população em situação de rua devem receber uma dose por ano.
"Porém, infelizmente, nossa cobertura é muito baixa. Um exemplo é a taxa de vacinação em crianças menores de um ano, que é de apenas 3,14%, considerando o esquema completo de duas ou três doses", observa Natália Paes Marcante. Para Taylor Endrigo Toscano, a disseminação de informações falsas sobre os imunizantes é a principal causa da baixa adesão da população às campanhas, situação que tem favorecido, inclusive, alta de casos de coqueluche em crianças.