BAURU

Crime organizado abandona biqueiras e jovens assumem vendas

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Larissa Bastos
Delegado Marcelo Bertoli Gimenes, titular da  2.ª Dise, investiga o tráfico de drogas em Bauru
Delegado Marcelo Bertoli Gimenes, titular da 2.ª Dise, investiga o tráfico de drogas em Bauru

"O crime organizado está focado na economia. Faz questão de fornecer as drogas para as biqueiras, mas não de controlar esses pontos de vendas". A afirmação é de Marcelo Bertoli Gimenes, delegado titular da 2.ª Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (2.ª Dise) da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic).

De acordo com ele, por conta dos riscos, a comercialização passou a ser assumida por jovens que buscam lucrar com o tráfico e que se responsabilizam, por exemplo, pela gestão de turnos nas biqueiras. O cenário ocorre em todo o Estado de São Paulo, inclusive, em Bauru.

"Existem situações em Bauru que sabemos que o crime organizado está por trás, mas a predominância é do crime focado na distribuição de drogas. Eles não estão mais comprando essas brigas nem se envolvendo diretamente nas questões de bairro. Se um vendedor ('vapor') ou alguém que abastece vai ser preso, isso é secundário. Está (a comercialização) na mão de outras pessoas, não necessariamente ligadas ao crime organizado. Mas reforço que não é uma situação preto no branco", afirma Gimenes em entrevista ao JC.

Durante a entrevista, o delegado ressalta que gestão dos pontos de venda não é simples. São necessários de três a quatro turnos de vendedores para que a biqueira funcione por 24h. Também é preciso um local para fracionar e armazenar os entorpecentes, além de transportar os ilícitos de um ponto a outro. "Seja qual for a facção, a ideia é perseguir o dinheiro ilícito. Com o tempo, eles estão percebendo, especificamente aqui no Estado de São Paulo, que o gerenciamento de biqueiras é trabalhoso e problemático e não gera tanto dinheiro quanto a compra e venda de drogas em grandes quantidades", reitera o delegado.

NOVOS GESTORES

De acordo com Gimenes, os novos gestores são jovens envolvidos no tráfico, o que tem provocado homicídios por conta de conflitos por disputa de territórios. "Eles estão gerenciando essas biqueiras e, parece que por conta de um aspecto próprio da juventude, entram em conflito uns com os outros e brigam dentro do próprio grupo", explica. Há quem confunda, mas grupo criminoso é diferente de facção, que conta com regras e hierarquia, por exemplo.

Esses conflitos por tráfico de drogas motivaram, inclusive, aumento de 66,67% nos homicídios em quatro anos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP). Em 2021, foram 18 casos, seguidos de 22 em 2022, 29 em 2023 e 30 em 2024.

Parte dos jovens, diz o delegado, é levada ao tráfico justamente pelo comportamento que exerce enquanto usuária. "Eles não gostam de horário fixo e normalmente invertem o dia pela noite. Então, tem dificuldade em ter um trabalho de carteira assinada. De repente, ele vê a chance de conseguir ganhar dinheiro e manter essa rotina inconstante e errática. A gente identifica esse tipo de comportamento nos usuários, o que casa bem com o dos vendedores de drogas. Eu nunca conheci um 'vapor' que não use alguma substância", declara Gimenes.

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