
O fechamento da empresa Inovarte, em Pirajuí (a 56 quilômetros de Bauru), ocorrido há alguns dias, deixou seus 50 funcionários desamparados. Vários deles não têm outra fonte de renda e não sabem como farão para manter os compromissos da família em um futuro próximo. Um dos trabalhadores, que revela detalhes sobre os últimos dias antes do sumiço do empresário, diz ter sofrido um golpe.
Funcionário da área de vendas e contratado como PJ (pessoa jurídica), ele diz conhecer o dono da empresa, que é do ramo de comunicação visual, há 20 anos. Há seis meses, foi convencido a deixar um cargo em outro emprego com promessas de lucros altos e melhores condições de trabalho. No entanto, o empresário sumiu e não cumpriu com qualquer uma das obrigações.
"Ele ofereceu um salário fixo e comissões. Deixei um emprego estável porque confiei nele. Mas, desde dezembro, os pagamentos estavam atrasando. As comissões nunca vinham”, narra o vendedor de 38 anos. De acordo com ele, a única comissão que recebeu foi no valor de R$ 2 mil, quando deveria ser de R$ 5 mil. “E só pagou porque se comoveu com problemas de saúde que eu estava enfrentando", acrescenta.
Todo mês, quando era questionado sobre o acerto, o homem relata que o empresário falava que não dava para pagar porque estava “apertado”. No entanto, o trabalhador destaca que, mesmo nesta circunstância, a atitude de desaparecer foi drástica demais. “A gente não sabe o motivo, pois ele tinha fluxo de caixa, uma boa movimentação de dinheiro. No ano passado, a empresa vendeu R$ 10 milhões”, revela.
Pressão
Nos dias anteriores ao sumiço, o empresário passou a pressionar a equipe de vendas para fechar negócios rapidamente e de qualquer maneira, segundo informam os funcionários. “Na sexta-feira (21), falei que não tinha conseguido fechar um contrato de R$ 250 mil. Depois, ele me ligou dizendo que, se o cliente não aceitasse a proposta, ele mesmo iria até o local passar o cartão por um valor mais abaixo que, certamente, daria prejuízos. Pedi que ele aguardasse para avaliarmos melhor'”, relembra. Na sequência, seu patrão desistiu da ideia.
O empresário desapareceu no final de semana passado junto com sua família e tudo de valor que estava no galpão da Inovarte. "Na segunda, vi que ele me bloqueou. Achei que tinha me dispensado de maneira infantil, mas quando fui à fábrica, percebi que era mais grave. O galpão estava vazio, parecia cenário de guerra. O que eles não levaram, espalharam pelo chão", afirma.
Prejuízo
O vendedor foi convidado para trabalhar na Inovarte com uma condição: dedicação exclusiva. Com o sumiço do patrão, a vítima perdeu a renda com a qual sustentava sua esposa, uma adolescente de 16 anos e uma criança de 9. "Eu saí do meu trabalho com a esperança de estar mais presente em casa e com melhor saúde financeira. E acabou tudo jogado por água abaixo”, lamenta.
Por conta das promessas do proprietário, a vítima mudou para uma casa maior. No entanto, precisou vender o carro para saldar suas dívidas. O maior prejuízo, porém, é para a reputação, segundo ele.
Isso porque ele trouxe clientes de uma multinacional para a Inovarte e agora teme perder a credibilidade construída ao longo da carreira. "Minha venda é baseada em confiança. Eu estou auxiliando meus clientes que foram lesados, mas é complicado. Agora, preciso recomeçar do zero. Eu coloquei como o projeto da minha vida. Hoje sou o rosto do enganado, do traído", desabafa.