NA ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da reunião dos dias 18 e 19 de março destacou alguns pontos importantes. Inicialmente, o texto apresentou um cenário otimista, argumentando a favor de uma desaceleração da atividade econômica no Brasil. No entanto, a partir do 10º parágrafo, o tom tornou-se pessimista, praticamente garantindo o descumprimento da meta.
O documento afirma que o "Comitê segue avaliando que o cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade econômica" e que "alguns indicadores mais recentes, como os de serviços, indústria e população ocupada, têm indicado moderação de crescimento após uma extraordinária resiliência no mercado de trabalho e na atividade econômica".
Há vários argumentos nesse sentido: "indicadores de confiança e pesquisas de sentimento de crédito têm sugerido uma desaceleração maior do que a observada nos dados objetivos" e "no mercado de trabalho, além da volatilidade inerente aos dados, observa-se redução na margem da população ocupada, mas em um ambiente de desemprego baixo e rendimentos elevados".
Na segunda metade da ata, o Copom adota um tom mais pessimista, começando pela advertência recorrente de que o país gasta muito e mal. O "debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas" e "reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, além das incertezas sobre a estabilização da dívida pública, têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia".
As conclusões da ata não poderiam ser diferentes: "As expectativas de inflação elevaram-se novamente em todos os prazos, indicando desancoragem adicional e tornando o cenário de inflação mais adverso. A convergência da inflação à meta exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado".
O resultado é inevitável. Segundo a ata, "em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior da meta por seis meses consecutivos, contados desde janeiro. Com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática".
Finalizando, se o comunicado divulgado no dia 19 de março indicava um Copom mais "dovish" (tolerante em relação à inflação), o texto atual mostra que o Comitê já considera praticamente certa a não-observância da meta. O texto revelou que os juros continuarão subindo, com nova alta prevista para a reunião de maio, que será menor do que 1 ponto percentual. A estimativa preliminar é de um aumento de, no mínimo, 0,5 ponto percentual, podendo chegar a 0,75 ponto percentual se o Comitê decidir ser mais rigoroso.
O tom foi duro e o aperto monetário continua.
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