COLUNISTA

Deus tem paciência, espera nossa conversão

Por Coluna semanal da Diocese de Bauru |
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A parábola da figueira estéril ou parasita, que suga o húmus da terra e nada produz, contada por Jesus, segundo o relato feito por São Lucas no trecho evangélico lido na santa Missa deste terceiro domingo da Quaresma - Lc 13, 1-9 - é uma história da paciência de Deus que dá novas oportunidades na esperança de que as pessoas se convertam. Essas pessoas eram a multidão dos judeus que ainda não entendiam os sinais dos fatos presentes, não sabiam compreender a vinda de Jesus, sua presença no meio deles, a chegado do Reino de Deus. Por isso, estavam a rejeitar Jesus, progressivamente, pois Jesus subia a Jerusalém para morrer. Esse povo era realmente de cabeça dura, pessoas que não mudaram em nada na sua antiga fé e no modo de vivê-la, mas persistiam nas velhas crenças e práticas. Assim sendo, estavam a choramingar a morte de Judas, o Galileu, e de seus companheiros no entrevero que tiveram com a polícia de Pilatos. Jesus disse a essas pessoas que era também inútil chorar a morte daquelas 18 vítimas do desabamento de uma torre em construção no bairro de Siloé. Elas continuavam a acreditar que essas vítimas de morte violenta estavam a pagar por pecados pessoais próprios, como um castigo divino de vingança pelos erros e pecados que elas mesmas teriam cometido. Jesus estava percebendo que a sua pregação com a qual começava dizendo - "Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1,15) - estava sendo infrutífera. Essa multidão de Judeus da Galiléia e de Jerusalém, sobretudo seus líderes religiosos e políticos, não se convertiam nem davam a entender que quisessem se converter, ao contrário, continuavam hipócritas e cegos que estão a rejeitar a Jesus, recusando a salvação que Ele, em nome do Pai, veio lhes trazer. Então, Jesus disse: "se vós não vos converterdes, ireis todos morrer do mesmo modo", isto é, de morte violenta igual à daqueles galileus. Eram como a figueira da parábola, estéril e parasita. Assim como seria melhor cortar a árvore já, para não continuar ocupando e sugando a terra em vão, melhor seria também que tivessem a morte já, porque do modo como se comportavam não passavam igualmente de parasitas. No entanto, Deus está a lhes dar novas oportunidade, acrescentando-lhes os cuidados da sua graça e bênção, na esperança de produzirem dignos frutos de conversão e de bem, à semelhança da nova chance que o dono da vinha deu à figueira, mandando cavar ao redor e pôr adubo, confiando que para o ano ela viesse a produzir os frutos esperados. A primeira leitura da santa Missa - Êxodo 3,1-8.13-15 - relata que Deus se manifestou a Moisés como fogo na sarça ardente, no Horeb, diante de quem ele tirou as sandálias e cobriu o rosto. Deus revelou-lhe seu nome: "Eu sou aquele que sou", "Javé", o "Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó". Diga ao povo de Israel que o "Eu sou" teve pena de todos que sofrem sob a opressão no Egito e veio para libertá-los. Por isso te envio para anunciar-lhes que os conduzirei a uma terra boa e espaçosa onde corre leite e mel. Na segunda leitura - 1Cor 10,1-6.10-12 - São Paulo recordou aos Coríntios que os que foram salvos no tempo de Moisés se afastaram de Deus pela idolatria e adultério. O que aconteceu com eles no Êxodo servia de exemplo para os Coríntios. Serve de exemplo também para nós, hoje, a fim de estarmos atentos e vigilantes e produzirmos frutos de boas obras, aproveitando este tempo de Quaresma na busca da conversão individual e comunitária de vida.

A mensagem evangélica da Liturgia de hoje também nos questiona com toda crueza e dureza: Somos uma videira estéril, uma figueira parasita? O que somos e o que desejamos ser? A Quaresma é tempo de conversão e mudança de vida. Com toda a paciência de pai e mãe, Deus está a nos dar novas oportunidades e a derramar sobre nós graças e bênçãos, como adubos da melhor qualidade, confiando que venhamos, enfim, a produzir frutos de arrependimento, de bens espirituais em relação a Deus, que nos santificam, e materiais em favor dos outros, especialmente, daqueles que voltam seus rostos feridos e aflitos, esperando de nós o calor da proximidade e o gesto da misericórdia que nos humanizam. Será que, hoje, Deus se queixaria de nós como, outrora, pela boca de profetas se queixou de seu povo, e os ordenou a vaticinar contra o povo com severas advertências?

Figueira e vinha são imagens muito usadas na Bíblia. Particularmente os profetas usavam as imagens da vinha e da figueira ora para ressaltar que elas são símbolos da prosperidade, paz e tranquilidade da nação e da fartura de bens para o povo, ora para afirmar que vinha e figueira são o próprio povo e que Deus é o seu proprietário, que cuida deste seu povo com todo o desvelo como o agricultor cuida delas com zelo.

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