Sem muita discussão ou consultas, vereadores de Bauru aprovaram em 2022 o aumento no número de cadeiras a partir de 2025. A Câmara passou a ter então 21 vereadores - 4 a mais do que anteriormente. Assim, vereadores garantiram sua permanência - menor concorrência -, oneraram ainda mais os cofres públicos e puseram mais gente para trabalhar pela cidade... O estranho, no entanto, é que, a despeito de todos os problemas da cidade, que pedem soluções urgentes e afetam sobretudo os menos favorecidos - os mais pobres -, a impressão é que falta o que fazer para os nobres edis. Então, num belo e ocioso dia resolveram conceder o título de Cidadão Bauruense ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a própria Lei Orgânica do Município, o título de Cidadão deve constituir uma homenagem a pessoas que reconhecidamente tenham prestado serviços relevantes ao município. A pergunta é: o que o Bolsonaro fez por Bauru? Para sempre há de ficar em nossa memória a imagem da arquibancada do anfiteatro Vitória Régia com mil velas acesas, em homenagem aos mil mortos por Covid até a data, quando Bolsonaro era presidente. Muitas dessas vidas poderiam ter sido poupadas se os brasileiros não tivessem sido privados da vacina. Bolsonaro foi chamado de genocida em manifestações pelas ruas da cidade e de todo o país, por sua omissão na compra dos imunizantes. Estima-se que em torno de 100 mil mortes poderiam ter sido evitadas no Brasil se não fosse pelo movimento antivacina e anti-isolamento defendido por ele. Ademais, ninguém quer que o título de Cidadão de sua cidade seja dado a um sujeito que, entre outras barbaridades, presta homenagem a um torturador, considerando-o herói nacional.
A manchete do JC sobre a homenagem a Bolsonaro dizia que, com o ato, a Câmara havia nacionalizado o debate, mas na verdade o que foi nacionalizado foi o constrangimento dos bauruenses, ou pelo menos boa parte deles, diante desse descalabro que há de ficar na história: 17 vereadores bolsonaristas concederam a mais alta honraria a uma pessoa que nada fez pela cidade... Um verdadeiro desserviço para os bauruenses.
A maioria dos eleitores votou, sim, em Bolsonaro, e, assim como esses 17 vereadores que aprovaram o projeto, há muitos bolsonaristas por aqui. Nada obsta que se reúnam para prestar suas homenagens, mas sem misturar essa idolatria com o verdadeiro papel da Câmara Municipal. Querem ser vistos como heróis? Pois que trabalhem, cuidem do bem-estar da população e dos interesses do município como um todo; é para isso que estão lá.
São remunerados com dinheiro dos impostos que pagamos, precisam trabalhar com seriedade e respeito por seus eleitores e também por quem não votou e nem nunca vai votar neles, por quem votou no Bolsonaro ou por quem votou no candidato que venceu as eleições. Falta seriedade e respeito com a população.
