COLUNISTA

Começa a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

Na Quarta-feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência de carne, começou o tempo da Quaresma. São quarenta dias de preparação para a Páscoa, a celebração maior do mistério de Cristo, sua paixão, morte e ressurreição. Na santa Missa foi lido o profeta Joel, conhecido como o profeta da Quaresma. Diante da calamidade que se abateu sobre a terra de Judá, da qual a invasão de gafanhotos foi um sinal, o profeta convidou a comunidade à conversão. Ele fez forte apelo à penitência, conclamando o povo a usar vestes de saco e luto, ao jejum e à oração comunitária com a oferta de súplicas e oblações ao Senhor. Eis, por exemplo, como o profeta se dirigiu ao povo: "Agora, portanto - oráculo de Javé - retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e gritos de luto. Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas, retornai a Javé, vosso Deus, porque Ele é bondoso e misericordioso, lento para a ira e cheio de amor, e se compadece da desgraça" (Joel 2,12-13). A realidade que se apresentava ao profeta era esta: a praga dos gafanhotos, a crise política e social, o sofrimento do povo. Lendo esses sinais à luz da fé em Javé, ele viu o pecado por trás disso tudo, convidou à conversão e anunciou o perdão e a misericórdia de Deus, e, por fim, a bênção divina que afastou o flagelo e devolveu a abundância de bens.

A nossa realidade não é muito diferente: temos as pragas da Dengue, Covid, a crise política, econômica e socioambiental, as guerra da Ucrânia, Gaza, e o sofrimento dos pobres. Então, vêm as perguntas à luz da nossa fé: O que estes sinais do nosso tempo nos querem dizer? Que sentido nos dão para a nossa vida? Que caminhos de saídas nos apontam?

A Quaresma toma a Palavra de Deus para iluminar os nossos dias, essa realidade que se nos apresenta tão dramática, desafiadora e causadora de tantos sofrimentos e angústias, e vem nos ajudar na leitura dos sinais do nosso tempo. Ela aponta dois caminhos de saída e libertação do flagelo: a conversão penitencial pessoal e comunitária, e o cuidado com a vida, desde a vida da natureza até a vida humana e a vida eterna. No Evangelho da santa Missa deste primeiro domingo da Quaresma - Lc 4,1-13 - São Lucas nos conta que Jesus, vencendo as tentações, nos ensina que a experiência da tentação, dos sofrimentos e provações nos ajudam a entender o processo mediante o qual Deus nos cura, nos liberta e salva. O Espírito conduziu Jesus através do deserto durante quarenta dias, onde foi tentado pelo diabo. No deserto Jesus passou quarenta dias e noites em jejum e depois disso teve fome e o tentador veio para tentá-lo. A primeira tentação está ligada à fome. O diabo disse-lhe: "Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão". Replicou-lhe Jesus: "Está escrito, não só de pão vive o homem". Na segunda tentação vem à tona a riqueza. O "demo" lhe mostra do alto de um monte os reinos deste mundo e o instiga: "Eu te darei todo poder sobre esses reinos, porque tudo isso me foi entregue e eu posso dá-lo a quem eu quiser, mas sob a condição de tu te prostrares diante de mim e me adorares. Replicou-lhe Jesus: "Está escrito: adorarás ao Senhor teu Deus, e só a Ele prestarás culto". A terceira tentação toca a questão do poder. "Se és Filho de Deus, atira-te daqui para baixo, porque está escrito, Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, para que te guardem e para que não tropeces em alguma pedra". Jesus respondeu: "Foi dito, não tentarás ao Senhor, teu Deus. Terminada a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno". Jesus está a exigir de nós, hoje, seguir às tentações do diabo ou seguir decididamente a Ele. A Campanha da Fraternidade deste ano pede-nos a ação penitencial contida no seu tema: "Fraternidade e Ecologia Integral" e o lema: "Deus viu que tudo era muito bom!" (Gn 1,31).

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