ENTREVISTA DA SEMANA

Pastor Edson de Souza Quinezi: caminhos de fé e transformação

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Guilherme Matos
Pastor Edson de Souza Quinezi tem 81 anos e começou a pregar aos 17
Pastor Edson de Souza Quinezi tem 81 anos e começou a pregar aos 17

O pastor Edson de Souza Quinezi, 81 anos, líder da Igreja Batista Betel de Bauru e presidente do Espaço Socioeducacional Comunitário Ágape (Esca), possui uma trajetória de fé e dedicação ao próximo. Natural de Bauru, ele cresceu em um lar simples onde a influência da mãe evangélica o guiou desde cedo aos caminhos da igreja.

Começou a pregar aos 17 anos e seu interesse pela leitura e pelo conhecimento alimentou sua vocação. Ao mesmo tempo, tornou-se bancário e professor, o que lhe possibilitou investir em sua formação acadêmica e aprimorar seu trabalho junto à comunidade.

São ações marcadas pela prática do Evangelho de forma holística, inclusive com apoio material e emocional que ajuda a transformar a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade. Um exemplo é o trabalho do Esca, que há 11 anos oferece gratuitamente aulas de inglês, informática, música e reforço escolar a crianças.

Na companhia da esposa Wilma, dos filhos Wesley e Sergio e noras, o pastor impacta a vida de centenas de pessoas dentro e fora da igreja fundada há 60 anos e que hoje possui oito unidades em Bauru, São Carlos e Pirajuí. Nesta entrevista, ele conta como vive e prega o Evangelho, ajudando e inspirando pessoas, pelo exemplo de Jesus Cristo, a construir uma sociedade onde os indivíduos possam fortalecer sua fé e ter a oportunidade de um futuro melhor. Leia os principais trechos.

JC - O senhor teve orientação religiosa na infância? Fale um pouco sobre sua origem.

Pastor Edson - Passei a infância na parte mais pobre do Curuçá, onde hoje é a Vila Dutra, chamada Esmaga Sapo. Meu pai era ferroviário e minha mãe, dona de casa. Estudei no Ernesto Monte e, talvez por ser filho único, sempre fui muito reflexivo, com a mente cheia de imaginação, sonhos. Como minha mãe era evangélica, desde criança convivia na igreja e comecei a pregar aos 17 anos na primeira Igreja Batista de Bauru, na rua Virgílio Malta, onde tive a felicidade de ouvir bons pregadores e começar a construir meus próprios sermões. E, como gosto muito de ler - tenho uma biblioteca de 2 mil livros e mergulho nos de história, filosofia, teologia, sociologia - estou sempre me atualizando, trazendo novas reflexões para os sermões.

JC - O senhor também trabalhou fora da igreja?

Pr. Edson - Como via os pastores com dificuldades financeiras, fiz concurso no Banco do Brasil e me tornei bancário aos 21 anos. Tomei posse em Guararapes e pude custear meu primeiro curso de graduação, em letras na ITE de Araçatuba. Na época, também dei aulas de português em um curso técnico de contabilidade. Após dez anos, fui transferido para Bauru, quando cursei direito na ITE daqui, mas não cheguei a advogar. Fiquei 16 anos aqui e outros quatro em Marília, onde me aposentei. Ainda em Guararapes, comecei pregando embaixo de uma árvore e, quando saí, a igreja tinha prédio próprio. Já em Bauru, a igreja em que pastoreio estava com sérios problemas, sem nada. Eram cerca de 15 a 30 pessoas e hoje somos 600.

JC - Além das pregações, que trabalhos a igreja realiza?

Pr. Edson - Em Guararapes, comecei a trabalhar com pessoas simples e aquilo me apaixonou. São pessoas mais vulneráveis a quem apresentamos a verdade do Evangelho, oferecendo também ajuda material para que transformem suas vidas por meio da fé. Não vejo o Evangelho sem cuidar do homem holisticamente: corpo, alma e espírito. Então, se uma pessoa atravessa nosso caminho precisando de auxílio, a igreja abençoa. Já pagamos faculdade para uma menina órfã que tornou-se enfermeira padrão no Hospital Sarah Kubitschek, compramos um teclado para um menino que acabou fazendo doutorado em música nos Estados Unidos, pagamos até hoje uma clínica para um rapaz órfão que é esquizofrênico. Temos muitos exemplos. Esta é nossa filosofia de vida.

JC - Como é o trabalho do Esca?

Pr. Edson - O trabalho com crianças é outra paixão. O Esca é uma ONG onde 30 crianças da região do Parque Viaduto, gratuitamente, no contraturno escolar, aprendem inglês, informática e música e recebem reforço pedagógico. Ensinamos sobre valores, mas não falamos sobre a igreja. Todo o trabalho é mantido com recursos da nossa comunidade há 11 anos e, hoje, temos ex-alunos trabalhando, por exemplo, no Banco do Brasil. Em 2025, vamos construir uma quadra poliesportiva coberta para abençoá-las também aos finais de semana, afastando-as das ruas e do perigo das drogas.

JC - A família também faz trabalhos na igreja?

Pr. Edson - Sim, até porque conheci minha esposa dentro da igreja, começamos a namorar em 1961, nos casamos em 1966 e estamos juntos até hoje, felizes. Os filhos participam dos trabalhos e dão aulas na Escola Bíblica Dominical. Temos várias classes, de criança a adulto, nas oito unidades, além de uma escola de música aos sábados na unidade da Bela Vista, onde 86 alunos, com turmas iniciantes, intermediárias e de orquestra, aprendem, gratuitamente, a tocar violino, violoncelo, teclado, bateria, violão, saxofone. E fornecemos o instrumento para quem não pode comprar. Também damos aulas de alfabetização musical para crianças com até seis anos.

JC - Como se sente ajudando a transformar tantas vidas?

Pr. Edson - Meu objetivo não é trazer estas pessoas para nossa comunidade, mas que elas sejam bons cidadãos, incluídos na sociedade. E, com este trabalho, temos inspirado outras pessoas, como uma senhora que vendia reciclagem e trouxe uma mesa da casa dela para colocarmos as roupas que estávamos doando, o senhor que deixa os carros estacionarem gratuitamente em um terreno dele quando realizamos eventos ou a enfermeira que ajudamos a formar e que recebeu em sua casa, a nosso pedido, a família de uma pessoa que estava em tratamento de câncer em sua cidade. É algo gratificante. Não há alegria maior do que esta.

Wilma e pastor Edson (ao centro) com os missionários transculturais Márcia Silveira (mulheres refugiadas, São Paulo) e pastor Mário Ribamar (Rondônia)
Wilma e pastor Edson (ao centro) com os missionários transculturais Márcia Silveira (mulheres refugiadas, São Paulo) e pastor Mário Ribamar (Rondônia)
Em pé, ao centro, realizando batismos pela Igreja Batista Betel em 1985
Em pé, ao centro, realizando batismos pela Igreja Batista Betel em 1985
Com o filho Sergio, a nora  Vanessa, a esposa Wilma, o filho Wesley e a nora Sheila
Com o filho Sergio, a nora Vanessa, a esposa Wilma, o filho Wesley e a nora Sheila
No púlpito, por ocasião da comemoração aos 60 anos da Igreja Batista Betel de Bauru, em dezembro de 2024
No púlpito, por ocasião da comemoração aos 60 anos da Igreja Batista Betel de Bauru, em dezembro de 2024

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