Sabe aquele amigo que parece um podcast infinito? Que você só balança a cabeça enquanto ele entrega a sua biografia completa, os traumas da infância e a teoria de por que o ketchup deveria ser guardado fora da geladeira? Pois é, meu caro, até Rubem Alves já advertiu: "Amamos não a pessoa que fala bonito, mas a que escuta bonito. Quem só fala e não sabe ouvir é um chato."
E escutar bonito, como sugere o mestre Rubem, não é só fazer cara de pensador profundo enquanto a pessoa desabafa. É prestar atenção de verdade, sem já estar formulando mentalmente a sua resposta genial. É dar aquele "uhum" sincero, sem ser no modo automático, tipo quando você concorda com tudo, mas nem sabe mais sobre o quê.
Para quem acha que falar sem filtro é o auge da sinceridade, Adélia Prado, nossa poeta mineira, também tem um recado. Ela, que escreve como quem desabafa com um amigo no WhatsApp, já deixou claro: a verdade, quando bem dita e ouvida, toca mais do que um discurso ensaiado.
O que transborda de Adélia é um chamado à realidade. Merecidamente, ela recebeu do governo brasileiro na última terça-feira o Prêmio Camões de Literatura.
Como ela mesma disse: "O que a memória ama, fica eterno." E, como num sopro poético, Adélia também escreveu: "Escuto a chuva cair como se ela falasse. E ela fala. Sempre que escuto, ela me diz coisas que ninguém mais diz."
Infelizmente, alguns profissionais se julgam poderosos: há professores que falam o tempo todo sem deixar os alunos interagirem - coitados, saem da aula com as orelhas fervendo; e alguns da área jurídica? Falam como donos da última palavra, quase Deus - não me interrompam.
E outros da área da saúde? Gritam como se os pacientes fossem surdos - não dão a menor chance para o coitado doente falar de seus males. E lascam uma receita consoladora sem muita "conversa mole". E assim por diante em todas as áreas.
Dizer pensar sem ouvir o outro, é como dançar uma música sozinho - desengonçado e sem graça.
Então, "bora" praticar a escuta bonita? Mais ouvido, menos monólogo. Quem sabe, assim, a gente vira menos chato e mais interessante. Porque, no fim das contas, as melhores conversas são aquelas que parecem um bate-papo de boteco, não uma palestra sem tempo para perguntar e para terminar.
Agora, me conta aí: você escuta bonito ou já tá formulando uma resposta enquanto lê?