Quando éramos jovens, os passos eram leves, ligeiros, quase descuidados. Corremos pelas ruas, subimos escadas sem tocar o corrimão, descemos de dois em dois degraus, rimos do tropeço que nunca vinha. O tempo parecia infinito, e os caminhos se abriam sem resistência.
Os anos passaram sem que percebêssemos. E, um dia, os passos já não foram os mesmos. Vieram mais curtos, mais pesados.
Primeiro, um cansaço leve, depois um incômodo no joelho, uma dor no tornozelo. O chão, que antes nos recebia com segurança, tornou-se traiçoeiro. O corrimão, antes ignorado, virou um aliado discreto.
Hoje, à minha frente, um velho caminha devagar. Ele se move com esforço, como se cada passo fosse um cálculo, um risco. Eu o observo e, por um instante, sinto impaciência. Quero que ande mais rápido, que se apresse, que não atrase o meu dia. Mas então percebo—sou eu, um dia serei eu. Todos seremos.
Os passos que antes nos faziam correr agora nos ensinam a esperar.