COLUNISTA

Quando o chamado é repintar os rodapés


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Na busca por significado e propósito, Gladir Cabral escreveu: "Queria tocar os sinos da majestosa catedral. Pensei em compor os hinos, pintar as faces do vitral. Mas Tu me fizeste olhar o chão, e repintar os rodapés, silenciar-me em meio à sombra do jardim. E foi assim que eu aprendi a aguardar o tempo bom". (Alhambra - Gerson Borges, Gladir Cabral). A letra inicia com um desejo grandioso—tocar os sinos da catedral, compor hinos, pintar vitrais—mas o sujeito é chamado a algo menor e mais humilde: repintar rodapés, silenciar-se no jardim. Essa passagem transmite uma lição valiosa sobre humildade e a necessidade de valorizar as pequenas coisas, os momentos de silêncio e introspecção. A imagem do jardim reforça a ideia de que a vida tem seus ciclos e que a paciência é essencial para compreender e aceitar o tempo certo para cada coisa.

O PESO DA VIDA

Você já sentiu como se carregasse o peso do mundo? As pressões diárias, as responsabilidades familiares e os desafios da vocação podem ser esmagadores. Às vezes, sentimos que nos faltam tempo, recursos ou capacidade para cumprir nossa vocação. Pais enfrentam a tarefa desafiadora de educar e formar seus filhos, conscientes de que não podem controlar tudo. Para além disso, lidamos com a própria fragilidade da existência: somos mortais, e a eternidade está em jogo. C. S. Lewis, em seu sermão "O Peso da Glória", destaca que a glória do próximo é um fardo tão pesado que apenas a humildade pode carregá-lo. Mas como cultivar essa humildade necessária para suportar tais fardos?

O CRESCENTE PESO DA VIDA

Joe Rigney em seu artigo, "Be Comforted in Your Smallness" afirma que nos momentos de maior pressão, ele encontra conforto em uma passagem do romance Perelandra, de C. S. Lewis. Porque nessa história, Elwin Ransom viaja para um planeta distante a fim de impedir uma catástrofe. "A rainha desse mundo é tentada por um ser maligno, e Ransom sente o peso da responsabilidade de protegê-la. Durante dias, ele debate com o enganador, mas percebe que palavras não bastam—ele precisa agir. Finalmente, Ransom entende que sua missão exige mais do que argumentação: ele precisa lutar fisicamente contra o mal. Durante a batalha, ele se fere, mas persevera até vencer. Exausto, diante de seres angelicais, ouve palavras que ressoam profundamente: 'Não é obra sua. Você não é grande, embora tenha evitado algo grandioso. Seja consolado, pequeno, em sua pequenez. Ele não coloca mérito em você. Apenas receba e fique feliz'. Essas palavras, segundo Rigney, trazem alívio nos momentos de cansaço e sobrecarga: 'Não precisamos carregar tudo sozinhos'".

O CONSOLO DA HUMILDADE

"O paradoxo da vida cristã é que, embora tenhamos responsabilidades reais, não estamos sozinhos. Assim como Ransom carregava um fardo, mas percebeu que a grandeza da obra não dependia dele, nós também precisamos descansar na humildade. Nosso valor não vem do que fazemos, mas de quem nos sustenta. Davi expressa esse sentimento no Salmo 131: "Acalmei e aquietei a minha alma, como uma criança desmamada com sua mãe; como uma criança desmamada é a minha alma dentro de mim" (v.2). Uma criança desmamada não se angustia com responsabilidades além de sua capacidade; ela descansa na certeza de que será cuidada. Quando nos sentimos sobrecarregados pelas responsabilidades, exigências da vida ou até mesmo pela família, devemos lembrar desta verdade: "Seja consolado, pequeno, em sua pequenez". O peso do mundo não está sobre nossos ombros. Alguém já o carregou por nós—subiu a Cruz, enfrentou a morte e ressuscitou para nos dar esperança".

A BELEZA DA RENDIÇÃO

Em Alhambra (palácio e fortaleza em Granada, Espanha, famoso por sua arquitetura e jardins serenos), o sujeito lírico da canção enfrenta tristeza e desânimo, sentindo que nunca mais será alguém. Ele considera desistir. No entanto, é convidado a olhar para o céu e ver o amor divino envolvendo sua dor. Isso lhe permite voar além das limitações terrenas. A poesia da música reflete a esperança e a renovação que surgem a cada novo dia, reforçando que, mesmo nos momentos mais sombrios, há uma luz divina guiando o caminho. Assim, aprendemos que há beleza e propósito na humildade e na rendição, seja na paciência de um trabalho silencioso, na superação da tristeza ou na descoberta de uma nova perspectiva. A fé transforma nossa fragilidade em força, nosso cansaço em descanso e nossa incerteza em esperança.

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