Ruy Castro brincou com a premiação de Fernanda Torres e lembrou que, em 1976, uma reportagem perguntava a crianças, filhos de celebridades já consagradas e de anônimos, o que queriam ser quando crescessem. É claro, nossa atriz lá estava e Ruy fez um belo resgate histórico sobre os sonhos infantis de Fernanda Torres. Interessante que ela era Montenegro antes de consolidar o Torres no nome artístico, assim saiu publicado, e queria seguir a carreira artística. Porém, em entrevista para um programa de TV mais recente, quando artista consagrada, afirmou que queria ter sido médica.
Descobri, de forma interessante, que mapearem o que aconteceu com os demais entrevistados, pois a vida não é somente o que se sonha. Ruy nada falou sobre isso, mas dez anos depois fizeram outra reportagem com as mesmas crianças para saber no que haviam se tornado. Mauro Messias era filho de um pintor de uma comunidade que queria ser artista, e, com um nome bastante comum, não conseguiram localizá-lo. Na internet, a busca resulta em milhares de páginas. Impossível saber seu paradeiro, não fosse o próprio jornal insistir e, mais dez anos depois, conseguir localizá-lo e descobrir que não realizou o sonho de ser artista, tornando-se pintor como o pai. Com seis filhos, vivia modestamente em 1995, mostrando que, ao menos, conseguira sobreviver.
Escarafunchar os escritos antigos e arquivos de bibliotecas, em boa parte digitalizados agora, continua um excelente instrumento de pesquisa histórica, sendo a Biblioteca Nacional a fonte primeira e primária. Os anônimos são invisíveis, reconheço, e a memória é o patrimônio a ser preservado, além de ser o tema de "Ainda estou aqui". O filme fala dos tempos correntes, em que insistem em esquecer o passado tenebroso de um século atrás, repetindo a ascensão do nazismo e do fascismo.