
A empresária, palestrante e escritora Tatiane Souza, 42 anos, eleita uma das 50 criadoras de conteúdo mais influentes sobre empoderamento feminino no LinkedIn Brasil em 2024, tem uma trajetória marcada por desafios que a obrigaram a sair da zona de conforto. Natural de Jaú, ela começou trabalhar ainda na infância, motivada a conquistar seus sonhos em meio a uma realidade financeira difícil.
Aos 17 anos, ao descobrir sua primeira gravidez quando projetava ingressar na Seleção Brasileira de Tênis de Mesa, precisou se reinventar e imergiu no mundo corporativo. Com dedicação e perseverança, foi conquistando oportunidades até tornar-se gerente de RH em Bauru, aos 23 anos.
Três anos depois, fundou com o marido, Rogério Lopes, a Gente Mais Consultoria e Treinamento, que já atendeu marcas como Petrobras, Correios e Unimed. Já em 2017, criou o Instituto Muito Além de Cinderelas, que apoia o desenvolvimento de mulheres em situação de vulnerabilidade para que possam construir planos de vida. Foi devido às experiências neste projeto, compartilhadas no LinkedIn, que figura em 25.º lugar no ranking divulgado em dezembro passado.
Tatiane também é idealizadora do Congresso de Gestão e Recursos Humanos do Interior (Congerhi), um dos principais eventos do ramo no Interior paulista. Mãe de Bruno, 24 anos, Pedro, 22 anos, Jhuann, 20 anos, e João, 14 anos, ela, nesta entrevista, relembra sua trajetória e fala sobre seu compromisso com o desenvolvimento pessoal e em inspirar mulheres.
JC - O que a levou a empreender?
Tatiane - Vim de família simples e meus pais, Genésio e Neusa, dividiam as contas e brigavam muito devido à falta de dinheiro. Então, com meus 9, 10 anos, comecei a vender produtos por catálogo, rifa para poder comprar coisas que queria. Com 13 anos, conheci o tênis de mesa em uma demonstração na escola e haveria uma competição, cujo vencedor ganharia um troféu e uma página no jornal. Eu me dediquei muito e consegui ganhar. Comecei a competir e, quando estava em uma seletiva para ingressar na Seleção Brasileira, aos 17 anos, descobri que estava grávida.
JC - Decidiu parar de jogar?
Tatiane - O casamento era uma obrigação naquele momento. Então, me casei, fui morar no fundo da casa dos meus pais e passei a vivenciar as mesmas brigas por conta de boletos. Por isso, fui me dedicar ao trabalho. Era telefonista, entregadora de cesta básica, fazia bico em loja de R$ 1,99 e acabei me tornando recepcionista em uma fábrica de calçados. Lá, admirava a menina do RH, que era querida por todos. No dia em que ela saiu para assumir outro emprego, fui na sala do diretor. Perguntei se eu poderia ficar no lugar dela, sem saber nada de RH, e disse que, se ele me desse a oportunidade, eu aprenderia. Consegui a vaga.
JC - Como fez para estudar?
Tatiane - Comecei a me inteirar, pesquisar sobre faculdade e consegui uma bolsa de 90% do valor da mensalidade na FIB, em Bauru, para o curso de tecnólogo em gestão de pessoas no período noturno. Depois de um ano, vi um anúncio no JC sobre uma vaga de gerente de RH em uma empresa terceirizada da Telefônica, que exigia curso de tecnólogo completo e formação em psicologia. Eu me candidatei, cheguei até a etapa final de seleção e, após a última entrevista, falei para o diretor que aquela oportunidade transformaria minha vida e eu não o decepcionaria. Mesmo com limitações no currículo, fui escolhida e, aos 23 anos, pedi o divórcio, peguei meu filho e me mudei para Bauru.
JC - Quando decidiu empreender?
Tatiane - Essa empresa me abriu portas, tive acesso a muito conhecimento, fiz especializações, MBA, mas, em 2008, ela decretou falência, quando a Vivo incorporou a Telefônica. O Rogério trabalhava na área comercial da empresa e começamos a namorar durante este processo de fechamento. Comecei a dar cursos, aulas no Senai, até que, em 2009, criamos a Gente Mais, uma consultoria em gestão de pessoas que estrutura plano de cargos e salários, a engenharia dos times, avaliação de desempenho, desenvolvimento de liderança, principalmente de empresa transitando de pequena para média. E também damos treinamentos. Temos clientes do Brasil todo, mas a maioria é do Interior do Estado, como usinas, as concessionárias Cart e Eixo, Refrigás, Senai. Já atendemos mais de mil empresas, muitas conhecidas do público.
JC - O crescimento da Gente Mais foi rápido?
Tatiane - Foi. Começamos com recrutamento e seleção, que era a demanda do mercado. No segundo ano, fechamos um contrato com a matriz da Centauro e contratamos e treinamos funcionários dela em 17 estados. Em 2014, 70% do nosso faturamento vinha de recrutamento e seleção e o restante, de treinamento e consultoria, mas decidimos reestruturar a empresa para fazermos o que a gente faz hoje e ama.
JC - Depois, ainda fundaram mais duas empresas?
Tatiane - Inicialmente para mostrar quem éramos, criamos o Congerhi. Em sua décima edição em 2025, é um dos principais eventos de recursos humanos do Interior paulista, que reúne 600, 700 pessoas. E, para fazê-lo, criamos o Fabrika Produções e Eventos. Ainda temos o Instituto Muito Além de Cinderelas, que me permitiu chegar ao ranking do LinkedIn, onde falo sobre minhas experiências, dilemas e sonhos. O instituto nasceu em 2017 como um evento de empoderamento feminino para ajudar mulheres financeiramente. Fui me aprofundando em treinamentos e, em 2020, chegamos a nove países com conteúdos digitais. Em 2021, formalizamos o instituto, que apoia o desenvolvimento educacional de mulheres em vulnerabilidade para que possam construir planos de vida. Hoje, preparamos comportamental e psicologicamente as que querem fazer cursos de capacitação oferecidos por empresas que possuem vagas de trabalho abertas.
JC - Sobra tempo para o lazer?
Tatiane - Sobra, para viajar de moto com meu marido, escrever livros - e já estou escrevendo o sétimo. Também tenho sete composições musicais lançadas, gravadas pelo cantor gospel Adriano Lopes. Hoje, tenho buscado na espiritualidade preencher algumas lacunas que dinheiro não preenche e escrito músicas sobre o encontro com Deus, a fé, a esperança.

