Em um país de proporções continentais, onde o povo dança entre a esperança e a resistência, um dado recente chama a atenção: um em cada cinco brasileiros vive em domicílios alugados. A trajetória de crescimento dessa condição, que passou de 12,3% em 2000 para 20,9% em 2022, revela algo mais profundo sobre a relação do brasileiro com o lugar que chama de lar. Dados do IBGE, divulgado neste mês.
Setenta e dois por cento da população ainda reside em domicílios próprios, seja porque foram pagos, herdados, ou estão em financiamento. No entanto, quando analisamos além das paredes de alvenaria - que cobrem 87% das moradias - vemos um Brasil que é, em si, um reflexo de suas desigualdades.
Em 2022, por exemplo, enquanto quase 90% das residências tinham acesso à internet, 44,5% das famílias indígenas permaneciam desconectadas. E, apesar de um salto impressionante no acesso a máquinas de lavar (de 31,8% em 2000 para 68,1% em 2022), 74% das famílias indígenas ainda não possuem esse eletrodoméstico básico. Para a população negra e parda, os números também contam uma história: cerca de 41% dessas famílias ainda vivem sem esse conforto doméstico.
Não bastasse isso, um Brasil de extremos emerge também no tamanho das casas. Apenas 0,2% da população vive em residências de um cômodo, enquanto quase 6% residem em moradias com 10 cômodos ou mais. Essa desigualdade de espaço físico reflete, talvez, o fosso social que ainda separa muitos brasileiros.
Olhando para trás, há progresso, sim. Em 1970, 29% dos lares tinham até três cômodos; hoje, esse número caiu para 9%. Menos pessoas dormem amontoadas em um mesmo dormitório - a proporção de domicílios com mais de três moradores por quarto caiu de 9,6% em 2000 para 2,6% em 2022.
Mas será que estamos apenas pintando paredes velhas com uma nova camada de tinta? O aumento no número de aluguéis, combinado com a alta concentração de propriedades em mãos de poucos, sugere uma precarização velada. É o sonho da casa própria escapando pelos dedos de muitos, enquanto o preço do aluguel sobe.
Esses dados são mais do que números. São um retrato de quem somos e de quem estamos nos tornando. Um povo que, entre cômodos e contrastes, luta para transformar paredes em lares.
Que essa luta continue. E que as portas dessas casas, sejam próprias ou alugadas, nunca se fechem para a dignidade.
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