COLUNISTA

Ao mestre, com amor

Por Carlos Brunelli |
| Tempo de leitura: 3 min

A passagem de mais um Dia do Professor trouxe-me à memória o filme da Columbia Pictures lançado em 1967, que acabou por se tornar um clássico da sétima arte. Trata-se da estória de um negro professor britânico, encenado por Sidney Poitier - To Sir With Love - que nos cinemas brasileiros ganhou o nome de Ao mestre com carinho, numa suavização do sentimento expresso no título original.

O enredo em si, para esta reflexão, é o que menos importa, mas sim o título da película, pois me remeteu a um episódio bíblico narrado no capítulo 7 do evangelho de Lucas, dos versículos 36 ao 50. Jesus era tido e tratado como Mestre, pelos conhecimentos que possuía da Torá, dos livros históricos, dos livros proféticos, enfim da Palavra de Deus revelada à humanidade. Isso era muito intrigante para os intitulados Doutores da Lei, pois não concebiam um simplório galileu que sequer havia frequentado os ambientes de estudo e debates das Escrituras versar tão fluentemente acerca dos preceitos divinos, além de ensinar com desenvoltura e com viés libertador tudo que até então os tais doutores interpretavam e impunham como regras absolutas ao povo. Nesse cenário de confrontação é que se desenrola o tal episódio de Lucas 7, onde um fariseu de nome Simão convidou Jesus para jantar. A intenção de Simão, em sua arrogante pseudo superioridade, era, com menosprezo de atitudes, demonstrar que Jesus não merecia atenção e que deveria ser relegado a uma inferior consideração. Assim é que descumpriu deliberadamente várias regras da etiqueta judaica da época, ao receber Jesus em sua casa. Acontece que, em meio ao jantar, surge uma mulher da cidade, uma pecadora que se acomoda por detrás de Jesus. Como uma mulher invadiu com facilidade aquele ambiente exclusivamente masculino, em uma época de total discriminação do ente feminino, provavelmente deveu-se ao fato dela ser uma prostituta, e tocá-la para barrar sua entrada tornaria o autor impuro, segundo a dissimulada interpretação da Lei. A mulher, chorando, com suas lágrimas molhava os pés de Jesus e com seus cabelos os enxugava, para depois ainda beijá-los e perfumá-los com unguento. Essa cena serviu de pretexto para Cristo expor a descortesia de Simão e contrastar os fariseus com os pecadores.

As lágrimas sinceras e naturalmente derramadas contrapuseram-se à frieza da formalidade de uma bacia d'água que normalmente era disponibilizada para que o visitante pudesse lavar os pés empoeirados pelos caminhos de terra enfrentados. Os cabelos, utilizados em lugar da toalha não oferecida para enxugar os pés lavados, estavam ousadamente à mostra e desprotegidos de qualquer véu de hipocrisia. Simão não recebeu Jesus com a saudação de um beijo no rosto, como mandava a tradição, talvez por julgar-se bom demais para tratar Jesus como um igual. No entanto, a pecadora beijava os pés de seu Senhor em reverência e agradecimento por sua libertação. Também Jesus não teve sua cabeça ungida com óleo por Simão, outro aspecto da etiqueta em sinal de respeito que deveria ser seguida e oferecida. Porém a mulher perfumou com unguento os pés de Cristo, em verdadeiro sinal de adoração.

Muitos filmes sobre a vida de Jesus em seu curto ministério terreno já foram produzidos e esse episódio da mulher pecadora, se retratado nas telas, poderia ganhar um título semelhante ao da obra de 1967, mas com uma tradução mais literal - Ao Mestre, com AMOR - para enfatizar a retribuição que devemos prestar a tudo o que o Filho de Deus fez, faz e ainda fará pelos que Nele creem.

Igreja Batista do Estoril
62 anos – Soli Deo Gloria

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