A 1ª prefeita do campus da USP
Acessível, minuciosa, motivada. Estes são alguns atributos que ajudam a definir a cirurgiã-dentista e professora Karin Hermana Neppelenbroek, 45 anos, primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Bauru desde sua instalação, em 1985. A docente titular do Departamento de Prótese e Periodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP) chegou à instituição em 2008, quando era a única mulher do setor de prótese, especialidade em que atua.
Desde então, conquistou espaços e, com amor à educação e foco no cuidado com o próximo, assumiu diversas funções de comando, entre elas a de editora-chefe da Journal of Applied Oral Science, revista internacional da FOB. Foi ainda presidente da Comissão de Graduação, quando implantou programas como o duplo diploma em parceria com a Universidade do Porto, em Portugal, e o Instrumental para Todos, que fornece equipamentos odontológicos a alunos oriundos de escola pública.
Nascida em Orlândia e criada em Ituverava, região de Ribeirão Preto, Karin é casada com André Luís de Souza Turini. Influenciada por um ambiente familiar de educadores e profissionais da saúde, seguiu a carreira acadêmica que, desde julho de 2023, concilia com a gestão da Prefeitura do Campus, a fim de garantir o bem-estar da comunidade universitária e infraestrutura para a unidade desenvolver suas atividades. Na entrevista abaixo, ela relembra sua trajetória e fala sobre o trabalho realizado em Bauru. Leia os principais trechos.
JC - Por que optou pela área acadêmica em saúde?
Karin - Meus pais, já falecidos, foram professores e várias pessoas na família trabalham na área da saúde, como meu único irmão, que é médico e também deu aulas. Meu pai era holandês e veio para o Brasil aos 25 anos para ser padre, mas acabou pedindo dispensa do bispo. Anos depois, ele e minha mãe começaram a namorar em Ituverava, onde ambos davam aulas, e se casaram quando ele tinha 44 anos e ela, 36. Então, sempre quis ser professora e optei por odontologia por gostar de trabalhar com habilidade manual.
JC - Terminou o curso com foco em ser professora?
Karin - Sim. Depois de fazer o terceiro colegial em Ribeirão Preto, fui cursar odontologia da Unesp de Araraquara, que concluí em 2000. Lá, também concluí o mestrado em 2003 e o doutorado em 2005. Queria permanecer no Estado de São Paulo para ficar perto dos meus pais, que já estavam idosos e doentes, mas, em 2006, por concurso, fui dar aulas no curso de odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná. Também estava dando aulas como temporária em Curitiba, onde encontrei o professor Luiz Fernando Pegoraro, da FOB, que me incentivou a prestar o concurso em Bauru. Em janeiro de 2008, fiz o concurso da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, e um mês depois, o daqui.
JC - Foi quando veio para Bauru?
Karin - Declinei em Curitiba quando soube que tinha sido aprovada em Bauru, porque sempre foi meu sonho trabalhar na USP. Não conhecia ninguém aqui e era a única mulher da área de prótese na universidade, então, a adaptação foi difícil. Mas aos poucos fui conquistando espaços, tornei-me orientadora de alunos de mestrado e doutorado, depois membro de algumas comissões estatutárias. Em 2010, tornei-me editora associada da Journal of Applied Oral Science, que está entre as melhores revistas do mundo na área de odontologia. Já em 2016, passei à coeditora-chefe e, em 2017, à editora-chefe, cargo que ocupei até 2022.
JC - Paralelamente, seguiu dando aulas?
Karin - Sim. Também integrei a comissão de graduação, cuja vice-presidência assumi em 2016. Entre 2018 e 2022, fiquei na presidência e, em 2020, veio a pandemia. Foi desafiador, mas conseguimos estruturar 93% das aulas de forma online em uma semana. E a odontologia foi o primeiro curso da USP a retomar as aulas presenciais com estrutura de segurança, o que é motivo de orgulho, apesar das dificuldades que vivi com os alunos como professora da clínica. Também em 2020, à frente da comissão e junto com o professor Carlos Ferreira dos Santos, diretor à época, implantei o programa de duplo diploma entre FOB e Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, o primeiro na área da saúde da USP, que permite aos alunos intercambistas trabalhar como dentistas na Europa e no Brasil. Já em 2019, abracei o projeto Instrumental para Todos, de empréstimo de instrumentais de odontologia a alunos provenientes de escola pública, que têm 50% das vagas reservadas no vestibular.
JC - Como foi tornou-se prefeita do campus?
Karin - Conversava bastante com o ex-prefeito, o professor José Henrique Rubo, e achava a função interessante. Sendo docente de clínica e muito aberta ao diálogo, sempre tive contato com alunos e funcionários e vi na prefeitura a possibilidade de atender suas demandas. Então, em 2022, tornei-me assistente técnica de direção na prefeitura para aprender sobre este trabalho de gestão e, em julho de 2023, assumi como prefeita no lugar do Rubo, que havia decidido deixar o cargo. Agora, pensando no bem-estar da comunidade, estamos reformando o alojamento dos alunos, inauguramos o Centro de Vivência e vamos ampliar o complexo poliesportivo com novas quadras, academia e um prédio para o Centro Acadêmico.
JC - O que a motiva a dedicar-se a este trabalho?
Karin - O amor pelo que faço. Gosto de cuidar desde os detalhes para deixar as pessoas felizes. É muito bom poder tornar o campus um lugar melhor, promovendo o bem-estar da comunidade com responsabilidade sobre o uso do dinheiro público. Na clínica, falo para os alunos atenderem o paciente como se fosse a mãe deles e ensino também sobre o não desperdício de materiais. Na prótese, restaurar um sorriso traz autoestima ao paciente e ver essa transformação é a maior alegria, então, ajudo o aluno a fazer esse trabalho com ética e precisão. Gosto muito de gestão, mas não me imagino sem dar aulas.
O que diz a prefeita do campus
'Sempre tive contato com alunos e funcionários e vi na prefeitura a possibilidade de atender suas demandas'
'É muito bom poder tornar o campus um lugar melhor, promovendo o bem-estar da comunidade'
'Restaurar um sorriso traz autoestima ao paciente e ajudo o aluno a fazer esse trabalho com ética e precisão'