Mais de 50 leilões foram levados a leilão pela Caixa neste ano por falta de pagamento das parcelas de financiamento. Na maioria dos casos, tratam-se de apartamentos ou casas em loteamentos populares, com custo abaixo de R$ 200 mil, localizados em regiões afastadas do Centro e Zona Sul da cidade.
Conforme levantamento elaborado pelo Jornal da Cidade no site da instituição financeira, no início de outubro havia 47 imóveis ofertados em leilão, metade deles (24) apartamentos de residenciais novos, construídos entre 2017 e 2021, com área oscilando de 39 a 46 metros quadrados e preço avaliado de R$ 155 mil a R$ 198 mil.
Outras 12 habitações tinham sido levadas a leilão entre janeiro e setembro de 2024, entre elas uma unidade de um residencial horizontal entregue em 2021 e dois apartamentos de empreendimentos concluídos entre 2018 e 2019.
Presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto explica que a principal razão para o número expressivo número de imóveis levados a leilão é a incapacidade dos mutuários em honrar com as parcelas do financiamento contraído junto à Caixa.
"Na maioria das vezes, as prestações têm valor superior ao do aluguel que a família deixou de pagar. Estas parcelas têm reajustes e a renda da família, muitas vezes, não. Quando o morador fica inadimplente, o banco até oferece refinanciamentos, mas, às vezes, não é o suficiente e a pessoa vai morar com algum parente ou volta a pagar um aluguel mais barato", avalia.
Viana Neto acrescenta que divórcios também são um grande problema para o setor da habitação quando o imóvel está sendo quitado com recursos do casal e um deles deixa de fazer parte do compromisso financeiro. E, para se ter ideia, conforme os dados mais recentes da Pesquisa Estatísticas do Registro Civil, divulgados neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios em Bauru cresceu 33,6% em uma década: foram 922 dissoluções extrajudiciais e judiciais em 2012 e 1.232 em 2022.
Adaptação
Proprietário de uma imobiliária em Bauru, o engenheiro Guilherme Busch avalia que a maioria das famílias que adquire apartamentos populares nunca residiu em uma habitação como esta e, pela inexperiência, pode não conseguir dimensionar os custos extras envolvidos, como o pagamento de taxa condominial. Além disso, pontua eventuais dificuldades de adaptação a uma moradia sem quintal e com regras de convivência mais rígidas.
"A pessoa fica empolgada em ter o imóvel próprio pagando prestações de R$ 600,00, mas não pensa que, onde morava, tinha perto um mercadinho, a casa da mãe, a creche ou escola dos filhos pequenos. E, às vezes, a creche e a escola mais próximas desses empreendimentos ficam longe. É toda uma logística nova e, se ela fica sem capacidade de continuar pagando as parcelas, acaba abandonando", pondera.
Já as moradias de loteamentos horizontais populares, em sua maioria, são entregues apenas com estrutura básica, quase sempre nem mesmo dotada de muros. "A família tem que arrumar dinheiro para pagar a mudança, as prestações. Complicado".