COLUNISTA

Dia das Crianças

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

O Dia das Crianças é um momento de celebração, repleto de festas, brinquedos, delícias e passeios. É um dia de pura diversão, alegria e carinho. No entanto, também é uma oportunidade para que os adultos reflitam sobre o legado que estão transmitindo às novas gerações. Na Bíblia, em Deuteronômio 6.7-9, encontramos uma passagem que ressalta a importância de educar as crianças: "Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Ensine quando estiver sentado em casa, andando pelo caminho, ao deitar e levantar". Esse ensino orienta os pais a serem comprometidos e cuidadosos na formação de seus filhos.

Preparar as crianças para a vida e ensiná-las em todas as áreas demanda tempo e dedicação. O psiquiatra Içami Tiba aborda esse princípio de maneira profunda em seu best-seller Quem Ama Educa, defendendo o árduo, porém necessário, investimento na educação familiar. Tiba, assim como a Bíblia em seus ensinamentos milenares, enfatiza que o amor incondicional, por si só, não é suficiente para formar indivíduos emocionalmente equilibrados e responsáveis. Ele refuta de forma categórica a ideia de que o "tempo de qualidade" pode substituir o tempo dedicado em quantidade.

Isso significa que precisamos viver intensamente ao lado de nossas crianças, participando ativamente de suas vidas, tanto dentro quanto fora de casa. Adotar um estilo de vida de instrução contínua requer que tenhamos um relacionamento intencional, profundo e presente com nossos filhos. Esse envolvimento frequente e de qualidade deixará o maior legado para o futuro deles. Em resumo, a educação verdadeira exige tempo e investimento constantes.

Na apresentação de crianças aqui no Estoril, costumo brincar dizendo que elas têm os olhinhos 'bem arregalados' para os pais, observando cada detalhe. Seus olhos são mais poderosos que seus ouvidos, o que quer dizer que essas crianças incríveis e amadas aprendem muito mais pelo que veem do que pelo que ouvem. Embora o ouvir tenha imensurável valor, nosso empenho na educação precisa ser mais abrangente. As crianças devem ver, perceber, ouvir e sentir a autenticidade em seus pais. Isso nos faz refletir sobre o quanto a imitação de comportamentos é mais eficaz do que palavras. Por exemplo, os pais podem instruir seus filhos sobre a importância da educação, respeito, tolerância e amor a Deus e ao próximo, mas se o que as crianças mais recordarem for a imagem de pais gritando, ofendendo, mentindo ou desrespeitando, elas certamente serão moldadas por essas vivências. Falar sobre Deus e ensinar valores importantes da vida, seja em casa ou durante o dia a dia, ao deitar ou levantar, perde toda sua eficácia se não houver genuinidade no que é vivido. Ensinar e instruir é de extrema importância, mas se a prática diária não reflete o discurso, todo o esforço se torna vazio. Vivemos em uma era preocupante em que muitos pais são 'nem-nem' - nem ensinam, nem dão bom exemplo. Isso cria um grande desafio para a formação de crianças que, mais do que ouvir, precisam ver exemplos verdadeiros para seguir.

Além do mais, não se pode deixar um legado significativo sem incluir Deus na formação das crianças. A desordem do mundo pós-moderno é consequência de uma sociedade que tem ignorado os princípios divinos, por mais que isso pareça utópico para alguns. O filósofo Friedrich Nietzsche, conhecido por sua teoria da "transvaloração de todos os valores", criticava a sociedade de sua época e previa um futuro onde o homem, distanciado de Deus, afirmaria que "Deus está morto". Sua famosa declaração reflete uma crítica à humanidade que, sem os valores divinos, se torna egocêntrica e perdida. Nietzsche ilustra essa ideia com a figura de um homem angustiado que grita: "Para onde foi Deus?". Sem vê-Lo refletido nas pessoas ao seu redor, conclui: "Nós o matamos — vocês e eu. Somos todos assassinos!". Mas como isso seria possível? Como "matar" Deus? Isso é impensável. A verdade é que Deus não está morto — Nietzsche é quem está morto, assim como todos que tentaram eliminar a ideia de Deus. Deus permanece vivo, eternamente. Por isso, a maior herança que podemos deixar para as nossas crianças é educá-las com exemplos visíveis de comportamento e ensiná-las de que Deus é real, presente e fundamental para seus valores morais e espirituais. Esse é o maior presente que podemos oferecer nesse Dia das crianças.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL
62 anos atuando Soli Deo Gloria

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