Irineu Azevedo Bastos - historiador bauruense - já nos dizia: ''A Câmara é a fotografia (ou retrato, não me lembro bem ao certo) da cidade". Sinceramente, não estou convencido disso, de toda forma, por meio do voto direto, ela foi escolhida no último domingo e sua 'nova' composição não nos traz nada de tão novo assim. Dos 21 vereadores eleitos - lembrando que eram 17 na legislatura passada - 13 foram reeleitos, 2 retornaram e 6 se elegeram pela primeira vez. Chiara Ranieri e Benedito Meira, ambos vereadores, estiveram foram da disputa, pois foram candidatos a prefeita e vice-prefeito, respectivamente. Portanto, a renovação se manteve na casa dos 30%, média registrada nos últimos anos.
De novo mesmo nestas eleições foram os financiamentos das campanhas (ah, esse tema sim merece ser mais debatido e analisado profundamente). O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), o chamado ''fundão eleitoral'', foi criado em 2017 e este financiamento público custou ao país neste ano R$ 4,9 bilhões. Aqui em Bauru, o repasse foi algo em torno de R$ 3,237 milhões de reais, sendo R$ 2,156 milhões aos os candidatos a prefeito e R$ 1,081 milhões aos candidatos a vereador.
O atual presidente da Câmara, por exemplo, reeleito vereador, recebeu R$ 100 mil reais. Já entre os candidatos ao Executivo a prefeita reeleita Suéllen Rosim foi quem mais recebeu os recursos: R$ 700 mil reais. Talvez o desempenho dos eleitos, em parte, esteja relacionado a esses valores. Se em 2020 a média de votos válidos (v.v) entre os vereadores eleitos foi de 1,47%, em 2024 esse índice saltou para 1,80%. Dos 17 parlamentares da legislação passada,10 obtiveram menos de 1% v.v., já em 2024, dos 21 eleitos apenas 2 obtiveram menos de 1% dos votos válidos. PSD com 19,05% dos votos válidos lidera o ranking dos partidos na Câmara Municipal de Bauru seguido por MDB e Podemos, ambos com 14,29%, e PL, PP e Republicanos, com 9,52% cada um.
Este texto visa colaborar por meio dos números como foi composto o quadro eleitoral em nossa cidade. Através deles, é possível afirmar que o cenário político permanece o mesmo da eleição passada, ou seja, o da soberania da direita, seguindo inclusive a tendência nacional de domínio do PSD de Kassab e crescimento do PL de Bolsonaro. Entender como chegamos a esses números requer uma outra análise e essa bem mais complexa; a política, que nos permita, inclusive, a compreender porque 85.913 eleitores (30,45%) não compareceram às urnas, abstenção muito acima da média nacional que foi de 21,71%.
As urnas sempre nos trazem mensagens. Nem rir nem chorar, apenas é preciso entendê-las.
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