OPINIÃO

O sonho continua

Por Reinaldo Cafeo |
| Tempo de leitura: 4 min
O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

Há quatro anos, um pouco antes das eleições municipais de Bauru, escrevi neste espaço artigo relatando o sonho do eleitor bauruense. No artigo, relatava as inúmeras travas da cidade, os desafios de vários setores da prefeitura, as autarquias, enfim, a gestão como um todo. Passados estes anos, volto a renovar o meu sonho, à medida que os desafios ainda estão presentes.

Como bauruense, vivendo diariamente a cena política local, enxergo o quanto a cidade vem perdendo protagonismo regional. Mesmo insistindo para que nossos governantes locais assumissem as rédeas de uma condução regional, identificando deficiências coletivas, problemas de infraestrutura comum, como por exemplo a destinação do lixo (só para citar um exemplo), nada foi feito e o espaço está em aberto.

Vale lembrar que Bauru é sede administrativa de um total de 39 cidades e representa 32% do Produto Interno Bruto Regional. Não é possível que sendo praticamente um terço do PIB regional a cidade seja incapaz de assumir tal protagonismo. Aqui cabe destacar que identificar e fortalecer os clusters da região pode ser um bom começo. O sonho de protagonismo regional, continua.

A discussão do verdadeiro propósito da existência da Cohab, sua linha de visão e até mesmo sua vida útil não saíram do papel. As dívidas se acumulam e o município pode se inviabilizar no futuro. O sonho de uma solução para a Cohab, continua.

Na mesma linha tem o equacionamento dos recursos necessários para que a Funprev seja viável ao longo dos anos. Continuo sonhando com uma Funprev que não inviabilize a capacidade de investimento do município.

A Emdurb teria que ser reestruturada. Seu leque de serviços ampliado. Os contratos deficitários eliminados. A influência política na gestão simplesmente desconsiderada. A estação rodoviária teria que ser repaginada. A gestão dos cemitérios, ser exemplar. O monitoramento eletrônico do trânsito deveria ser uma realidade e o a coleta e destinação do lixo, revisto e sustentável ao longo dos anos. O sonho de reinvenção da Emdurb, continua.

A vulnerabilidade social deveria estar em queda, mas o que se observa é o contrário. Nos últimos quatro anos o número cresceu quase 30 mil. Não é possível aceitar que, mesmo com a pandemia, a cidade tenha 27% da população, ou seja, mais de 105 mil pessoas vivendo, ou melhor, sobrevivendo abaixo da linha da pobreza. O sonho de uma cidade com menor desigualdade social, continua.

A Seplan deveria ser impecável e exemplo na gestão de processos. Agilidade, facilidade, ser porta de entrada dos empreendimentos, uma referência no Estado, mas continua, lenta, sem continuidade, sem mapeamento de processos, sem digitalização de seus procedimentos, portanto, o sonho de uma Secretaria de Planejamento que efetivamente atenda o anseio dos munícipes, continua.

A educação deveria ser referência pela sua qualidade e não pela quantidade de imóveis adquiridos ou volume gasto em uniformes e material escolar. Por sinal, o cartão educação mais uma vez ficou em segundo plano. Continuo sonhando com uma educação municipal de qualidade, sem ruídos, para falar o mínimo, em seus processos licitatórios e suas decisões de gastos.

A saúde da cidade continua agonizando. Continuo sonhando com os leitos de UTI para abrigar àqueles que não conseguem vagas nos Hospitais Estaduais. Inclusive sonho com a humanização do atendimento e a ampliação das equipes de Saúde da Família. Também tem sido um sonho ter todo o setor informatizado, com otimização de seus processos e atendimento com qualidade. O sonho continua.

Sonho com o DAE terminando a Estação de Tratamento de Esgoto. Sonho com esporte de inclusão. Sonho com o lazer nos bairros, sonho com a revitalização do centro e incentivos ao assentamento humano no local. Sonho com o uso de galpões e outros prédios públicos, atualmente abandonados como instrumentos de desenvolvimento da cidade.

Sonho com o uso da Estação Ferroviária e com o fim do abandono dos trilhos da ferrovia e vagões ali esquecidos.

Sonho com o Plano Diretor, com a Lei de Uso e Ocupação do Solo, sonho com o avanço das Parcerias Público e Privadas, sonho com projeto de Estado e não de governo para dar um fim as enchentes na cidade. Sonho com a reforma do sambódromo e com a construção de estações de geração de energia fotovoltaicas.

Sonho com a segurança, com discussão da guarda municipal e o efetivo videomonitoramento da cidade.

Sonho que o diálogo entre os poderes seja a tônica e o interesse coletivo esteja acima dos interesses pessoais, de poder, e que toda a sociedade, incluindo a sociedade civil organizada tenha voz e vez.

Há outros sonhos, mas quero deixar espaço para que os seus sonhos, pelo menos no pensamento, completem esta lista.

É uma pena reconhecer que boa parte destes sonhos poderiam e podem ser realidade, mas o foco na próxima eleição fala e tem falado mais do que a próxima geração.

Como sonhar não custa nada, ao menos espero que meu próximo artigo, daqui a quatro anos, seja no sentido de sonho realizado. De qualquer maneira, meu sonho de uma cidade melhor, com qualidade de vida, continua.

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