COLUNISTA

Estou à porta e bato

Por Carlos Brunelli |
| Tempo de leitura: 3 min
IGREJA BATISTA DO ESTORIL

Este trecho de um versículo bíblico muito conhecido, normalmente é associado à imagem de Jesus em pé, à frente de uma casa e com movimento de quem está batendo à porta. Em muitas dessas figuras também aparece apoiado em um cajado. A tentativa de transportar a literalidade do texto à cena só não é mais enganosa que a figura do próprio Cristo com longos cabelos loiros, pele alva e, não raro, olhos azuis; diametralmente oposta ao provável biotipo de um homem da região da Palestina, no Oriente Médio.

Figurações fantasiosas à parte, o versículo é encontrado no livro de Apocalipse, dentro da carta endereçada à igreja de Laodiceia, uma das sete da região da Ásia Menor - hoje território da Turquia - instadas com advertências e princípios que serviam a todas elas.

Laodiceia era conhecida por sua riqueza, boa parte proveniente da manufatura de lã negra e de uma espécie de colírio famoso e muito desejado, pois curava muitos problemas oculares, produzido por uma escola de medicina. A cidade possuía teatros, estádio para competições e jogos, ginásio para formação e treinamento de atletas, e até um sistema bancário. Em certa ocasião até mesmo um aqueduto foi construído para transportar água quente de fontes termais distantes 10 km, como forma de amenizar o sério problema de abastecimento de água potável, mas o longo percurso fazia com que o líquido não chegasse nem quente nem agradavelmente fresco, apenas morno e nauseante.

Nesse ambiente de riqueza, luxo e bem-estar a sociedade local se julgava autossuficiente, tornando-se soberba e presunçosa. No ano 17 da era cristã, Laodiceia foi abalada por um terremoto e recebeu ajuda financeira do governo romano para a reconstrução, já que era grande o interesse do império em manter aquela rica cidade funcionando normalmente. Porém, quando na década de 60 d.C. um novo terremoto destruiu boa parte da localidade, seus moradores recusaram a ajuda governamental, pois alegavam ser ricos o suficiente para reerguer a cidade sem qualquer auxílio.

Seguindo essa mesma linha de pensamento, a igreja de Laodiceia, igualmente rica e abastada, era no entanto frouxa, indiferente, ociosa e repugnante. Alguns crentes entendem que ter posses materiais representa um sinal de bênção espiritual, porém a riqueza, a possibilidade de comprar o que se vê pode torná-los insensíveis, confiantes em excesso e acomodados, afastando-os do que não se vê, mas é mais valioso e eterno.

Reúna todo esse cenário de riqueza, prepotência e indiferença e pode-se entender a severa admoestação de Jesus em sua carta ao líder da igreja em Laodiceia. “Como você é morno, nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo de minha boca”, numa clara alusão à desagradável água proporcionada pelo imponente aqueduto. Ou “aconselho que você compre de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja, de fato, rico”, contrapondo o poder aquisitivo de coisas supérfluas aos verdadeiros tesouros espirituais. Ou ainda “compre vestes brancas para cobrir sua nudez e colírio para ungir os olhos e, realmente, ver”, contrapondo a justiça (vestes brancas) e a verdade (olhos ungidos) divinas à tinturaria de lã negra e ao unguento medicinal de que tanto os laodicenses se orgulhavam.

Não importa o que você possui ou quanto dinheiro seja capaz de ganhar; você nada terá se não tiver um relacionamento verdadeiro com Cristo. Não deixe que o nível de recursos afete seu apetite e desejo espiritual, nem se apoie no conforto e no luxo; antes busque a verdadeira riqueza que existe em Cristo.

Jesus bate à porta de nosso coração porque deseja nos salvar. Ele não invade, mas bate; permite que decidamos. E a quem abrir a porta do coração Ele promete plena satisfação, vida eterna.

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