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Câncer em jovens: cada vez mais!


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Estilo de vida e comportamento contam muito para o início de um câncer e não importa a idade: reflita sobre isto!
Estilo de vida e comportamento contam muito para o início de um câncer e não importa a idade: reflita sobre isto!

Mudar de casa é um trabalho insano. Imagine dividir uma casa em duas iguais em todos os itens! Temos 10 trilhões de células se dividindo em duas todos os dias, o que se chama mitose. A célula tem que reorganizar 25 mil genes e a chance de erros é inevitável, e pode se gerar células malucas, atípicas, autônomas e independentes, um verdadeiro clone de células rebeldes. O câncer é um erro na proliferação celular. Viver décadas sem câncer é vitória sobre a estatística.

MECANISMOS ANTICÂNCER

São três mecanismos de controle de qualidade celular para não ter câncer. 
1)    O gene p53 se ativa frente a anormalidades captadas e que poderia dar origem a um câncer. Ao desativar este gene, a célula murcha e enruga igual maracujá e, como uma flor, vai despetalando. Sem gerar dor ou reação, ela morre silenciosamente.  Isto ocorre todos os dias e se chama apoptose.
2)    As células do sistema imunológico também reconhecem a estranheza destas células que ficam defeituosas. E fazem os linfócitos T citotóxicos liberarem produtos que perfuram e destroem impiedosamente as células atípicas atrevidas.
3)    As células NK ou “natural killers” são assassinas naturais preparadas para matar as células frente a menor suspeita de que algo está errado. Elas não precisam pedir para as demais células imunológicas para fazer isto, já perfuram e explodem estas células suspeitas.

EXEMPLOS

Um câncer significa que estes três mecanismos falharam, foram inibidos ou ignorados pelas células defeituosas ou atípicas. O HPV ou papilomavírus não deixa o p53 ser ativado e a células atípicas não entra em apoptose dando origem a um clone maligno.
Algumas substâncias químicas também alteram estes mecanismos como herbicidas, hidrocarbonetos dos escapamentos, álcool, peróxido de hidrogênio e centenas de substâncias contidas nos cigarros eletrônicos ou não. O sol modifica as células durante as mitoses, deixando as células atípicas em maior quantidade, o que facilita algumas escaparem dos mecanismos e gerar câncer de pele.
Algumas condições inibem esses mecanismos anticâncer como o sedentarismo, que deixa o sistema imunológico e a inflamação quase inativos, sem circulação e estímulos frequentes, deixando-os os fáceis de ser enganados pelas células atípicas. A obesidade interfere na atividade anticâncer dos mecanismos.

CÂNCER EM JOVENS

A alteração pode ser mínima e os mecanismos não captam, mas daqui a pouco uma outra se soma à anterior, até que se torna atipia importante. Na carcinogênese, o efeito somatório está presente e pode ser determinante. No estilo atual de vida, se tem muitas radiações eletromagnéticas nos eletrodomésticos, computadores, celulares e linhas de alta tensão, muitas vezes relacionados com o aumento das leucemias.
Pesquisa da American Cancer Society, em 24 milhões de pacientes com câncer nos registros oncológicos dos EUA a partir de 2000, revelou que as pessoas mais jovens da geração X (1965-1980) e os millenials (1981 e 1995), cada vez mais tem câncer mais cedo e em maior quantidade maior do que os nascidos anteriormente. Especialmente os cânceres de intestino, mama, tireoide, rins e pâncreas. 
A justificativa é o elevado índice de sedentarismo, obesidade e de consumo de produtos ultraprocessados. Os mais jovens se alimentam muito mal, tem vícios e sedentarismo. Estilo de vida e comportamento são determinantes.

REFLEXÃO FINAL

É necessário um ajuste estatístico na frase antiga que dizia: quanto mais velho você fica, maior a probabilidade de desenvolver câncer! Isto não é mais absolutamente verdadeiro e cada vez mais têm-se câncer em jovens. Para tê-lo, basta estar vivo e em condições que favoreçam seu desenvolvimento ao deixar células atípicas do dia a dia escaparem dos mecanismos anticâncer! Reflita sobre sua alimentação com ultraprocessados, sedentarismo, obesidade, promiscuidade e vícios como álcool e qualquer forma de tabaco!

Alberto Consolaro é professor titular da USP em Bauru e colunista de Ciências do JC.

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