COLUNISTA

 Bluetooth é uma homenagem

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 4 min
Professor titular da USP em Bauru e colunista de Ciências do JC
Harald Blåtand e as letras vikings de seu nome, sobrepostas, deram nome ao Bluetooth
Harald Blåtand e as letras vikings de seu nome, sobrepostas, deram nome ao Bluetooth

Perguntava para inquietar: - porque o “bluetooth”, ou dente azul, tem este nome? Fiz isto por anos e dizia: - imaginem o Luciano Huck ligando e dizendo: vale 50 mil reais se responder certo a pergunta! Se não soubesse iria passar vergonha e perder a chance do dinheiro. E não é que ele me faz esta pergunta no quadro “quem quer ser milionário” e o candidato perdeu a chance de ganhar um milhão! Aconteceu!

Mais recentemente contei esta história para muitas pessoas, e elas continuam não sabendo por que “bluetooth” tem esse nome, apesar do que se passou em rede nacional! Eu já escrevi sobre, mas achei melhor revisitar o assunto, pois este espaço é para ciência, tecnologia e curiosidades.

ERA ASSIM

Os povos mais evoluídos são os escandinavos como a Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia e Islândia, mas acrescento outros como Nova Zelândia, Austrália e o Canadá. Apesar do elevado desenvolvimento social, econômico e ético, a história viking foi sangrenta com saques e escravidão. Eram reinos pequenos, desorganizados, sem limites precisos, onde o mais violento e rico, mandava. Não havia regras e constituição, predominava a força. As embarcações partiam para saquear outras regiões da Europa e traziam muito ouro e escravos.

O número de deuses e o paganismo imperava entre os vikings. O mais elevado destino era morrer em batalha, pois haveria um paraíso de glórias e prazeres. A desorganização ao longo de séculos acabou levando-os a uma derrocada. Os povos europeus saqueados, aprenderam se defender e as expedições vikings já não eram tão rentáveis!

Os europeus, organizados pela igreja, pactuaram entre si que cristãos não atacavam cristãos, logo planejaram invadir a Escandinávia, começando-se pela Dinamarca. Para sobreviver, um dos reis das terras dinamarquesas Harald Blåtand, conseguiu interagir com outros reis vikings e se uniram em torno de uma ideia: não serem dizimados!

Inteligente, o rei Blåtand conversou com o papa e se converteu ao cristianismo, criando-se dioceses, bispados e igrejas. Esta conversão imediata da nobreza e reis teve grande repercussão na Europa. Enquanto investia em obras públicas, fortificações, pontes e defesa de território, Blåtand estendeu seu poder até a Noruega, levando o cristianismo até lá, onde o rei Olaf 2º também conseguiu unir os vários reinos caoticamente organizados e se tornaram cristãos e ele virou Santo Olavo. Na Suécia, o mesmo ocorreu com o rei Olof.

Os patriarcas dos três países foram Harald, Olaf e Olof e as monarquias predominam até hoje. Os saques e violência acabaram e os viking hoje são extremamente organizados, pacíficos e socialmente muito desenvolvidos. Esta sobrevivência pode ser atribuída a Harald Blåtand, que conseguiu sacar, conectar, interagir e unir os reis e líderes vikings!

Bluetooth

Um grupo de empresas procurava desenvolver e padronizar uma forma de ligação (link) de rádio de curto alcance para conectarem os celulares, tablets, computadores, teclados, mouses e fones de ouvido, sem o uso de fios ou cabos.

Criou-se a associação “The Bluetooth Special Interest Group” para comandar o desenvolvimento desta tecnologia com ondas de rádio, em 1996. Entre as empresas estavam a Intel, Ericsson, IBM e a Nokia, que queriam evitar a fragmentação da tecnologia desta comunicação sem fio. Este grupo deu o nome provisório ao modelo de “Bluetooh”, ou dente azul em inglês, uma homenagem ao rei Harald Blåtand, famoso pela união e interação dos povos vikings.

O que tem a ver Blåtand com Bluetooh. Em dinamarquês, “Blå: significa homem de pele ou dente escuro e “tan”, um homem notável. Traduzindo para o inglês ficou Blåtand = Dente Azul. A pronúncia de Blåtand em inglês facilitou por ser próximo de “bloutonf”. Tal como entre nós, que temos Renato Casagrande e Nei Matogrosso, o rei se chamava traduzindo para Haroldo Dente Azul, mas não tinha dentes azuis. Isto rende muitas lendas e histórias paralelas.

Ficou pronta e outros nomes foram sugeridos para a tecnologia, mas no fim concordaram que Bluetooth seria o nome mais interessante, inclusive para o marketing. O logo e marca ficou como se fosse duas runas ou letras vikings sobrepostas (hagall e berkanan) ou H e B das iniciais de Harald Blåtand.

REFLEXÃO FINAL

“Bluetooth” homenageia um homem inteligente que agregou pessoas em torno de um objetivo comum, tal como o “bluetooth” faz com computadores, mouses, ipads, celulares e etc. Agregar e compartilhar, dois verbos exemplares para usarmos no dia a dia!

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