Para desenvolver uma visão abrangente da existência do mundo, é essencial possuir uma compreensão correta de Deus, conforme Ele se auto-revela. Os aspectos da majestade divina que se manifestam na criação, especialmente no ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, são claramente definidos e se tornam evidentes quando refinamos nossa percepção para captá-los. Somente ao partir de uma perspectiva centrada em Deus, o ser humano pode verdadeiramente apreciar a beleza da criação, que se revela de maneira majestosa e benevolente. Dessa forma, adquire-se uma perspectiva correta para observar a vida e o dinamismo necessário para agir de modo coerente nas diversas áreas da existência, incluindo teologia, antropologia, filosofia, ecologia e, consequentemente, em toda nossa prática diária. João Calvino, o grande reformador e administrador da cidade de Genebra no século XVI, elucidou essa verdade ao afirmar: "É verdade que os mais ínfimos e mais insignificantes objetos, quer nos céus, quer na terra, refletem a glória de Deus."
O cristianismo entende que Deus é o Criador de tudo o que existe, trazendo à existência o que é distinto de Si mesmo. Além de criar, Deus sustenta todas as coisas por meio de Seu poder. Essa sustentação divina assegura que tudo cumpra o propósito para o qual foi criado, uma vez que a criação não possui a capacidade inerente de existir por si mesma. Sem a manutenção contínua de Deus, o universo deixaria de existir - como afirma Hebreus 1.3: "Ele é o resplendor da glória e a expressão exata do Seu próprio ser, sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder". Nada persistiria sem a preservação divina, e tudo retornaria ao nada. O próprio espírito da vida, presente em cada pessoa, é um dom do Deus que é a própria Vida. Assim, o ser humano recebe a responsabilidade de administrar o que lhe foi confiado. Cada coisa criada possui valor intrínseco por ser uma obra divina, o que elimina a necessidade de idealizar, humanizar ou divinizar a natureza. O valor da criação é inestimável simplesmente por sua origem no Deus Eterno, e isso é suficiente por si só.
A perda da sensibilidade espiritual tem sido um obstáculo significativo para que o ser humano reconheça a presença divina imersa em Sua criação, resultando em um rompimento profundo da comunhão com o Criador. Esse afastamento não só altera a relação com Deus, mas também reverbera através de todas as nossas interações e formas de engajamento com o mundo. Atualmente, enfrentamos uma era marcada por uma alienação não apenas de Deus, mas também de nós mesmos e dos outros, conduzindo a uma desumanização progressiva. Embora a humanidade ainda carregue a imagem e semelhança divina, a corrupção pelo pecado tem cultivado um egocentrismo que distorce e compromete sua dimensão ética. A vontade humana frequentemente se opõe à vontade divina, revelando um contraste notável entre a depravação humana e a retidão divina.
A criação é um testemunho eloquente da majestade e do poder de Deus, exigindo uma percepção espiritual aguçada para discernir Sua presença através de Suas obras. Embora o cosmos seja vasto, a complexidade intrincada do cérebro humano revela o paradoxo essencial da vida: a coexistência entre a transcendência e limitação, da eternidade e finitude. Enquanto o cérebro humano, em sua complexidade, reflete uma capacidade admirável de cognição e criatividade, ele também evidencia a limitação intrínseca de nossa condição finita. Assim, há uma tensão constante entre nossa capacidade de alcançar a transcendência e a realidade das nossas limitações. A ciência, conforme análise de pensadores como Blaise Pascal e Herman Bavinck, falha em resolver completamente essa contradição. Sem a iluminação da revelação divina, nem a ciência nem a arte podem oferecer uma compreensão completa do profundo significado da vida e da natureza humana. Apenas uma cosmovisão cristã, fundamentada na Bíblia Sagrada, é capaz de proporcionar uma visão holística da totalidade da vida, da humanidade, do tempo e da eternidade. Mais importante do que a vastidão do universo é o valor e a dignidade do ser humano, criado à imagem de Deus. Mesmo com limitações, o ser humano reflete a semelhança divina de maneira mais direta do que qualquer outra parte da criação. Para compreender plenamente o valor do ser humano, é essencial adotar uma perspectiva divina. Esse valor provém de sermos feitos à imagem de Deus, um dom que ultrapassa nossa capacidade de autocriação. Ignorar essa perspectiva é substituir Deus e desconsiderar nossa origem transcendente. A gestão dos recursos que Deus nos confiou deve ser vista não apenas como sobrevivência prática, mas uma missão de glorificá-lo.
IGREJA BATISTA DO ESTORIL - 62 anos atuando Soli Deo Gloria