PARANORMALIDADE

Padre exorcista de Bauru faz alerta sobre aparições sobrenaturais

Vaticano criou novas regras para regulamentar fenômenos paranormais; padre explica mudanças

Por Guilherme Matos | 2 dias atrás | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Guilherme Matos

Padre Guido Mottinelli completou 51 anos de sacerdócio
Padre Guido Mottinelli completou 51 anos de sacerdócio

Imagens de Jesus em objetos inusitados, santas que choram e aparições misteriosas — todos os anos a Igreja Católica recebe milhares de relatos descritos como “paranormais” ou manifestações do Divino Espírito Santo. No entanto, a maior parte desses fenômenos não passaria de eventos naturais confundidos, propositalmente ou não, com o sobrenatural. Por isso, o Vaticano publicou no último dia 17 de maio um documento que tornou mais rigorosas as regras para lidar com estes casos.

Atualmente em Bauru, padre Guido Mottinelli, 77 anos, completou recentemente 51 anos de sacerdócio e é conhecido por ser um dos 30 exorcistas que atuam no País. Para ele, as aparições sobrenaturais ocorrem desde a formação do homem, continuamente, em diversos lugares no mundo. "As funções destes fenômenos são renovar o entusiasmo de ser cristão; corrigir determinados erros; purificar a vida; chamar a atenção quando as coisas não vão bem e zelar pelos valores que constroem a vida humana”, afirma.

O problema, porém, é que muitos dos supostos fenômenos paranormais acabam sendo apenas imaginação ou falsificações propositais com intuito de lucrar com a fé. “Isso pode criar até vantagens pessoais e, por isso, a Igreja interfere. Ela não quer permitir a transformação da fé religiosa em um proveito comercial. Jesus, por exemplo, usou um chicote e expulsou do templo os vendedores porque haviam transformado a casa de Deus no mercado”, relembra Guido.

O padre narra um caso que testemunhou em Criciúma (SC) há muitos anos atrás. No vidro de uma janela da cidade, se observado em determinado ângulo, era possível ver uma forma semelhante a uma hóstia. “O povo já começou a clamar e falar que era milagre. A fila para ver o suposto fenômeno, inclusive, atraiu vendedores de churrasco, cerveja etc”, conta.

Critérios

O documento, basicamente, se resume em seis pontos, conforme explica Mottinelli. Esses pontos vão classificar os fenômenos de falsos a possivelmente verdadeiros. O primeiro deles é o Nihil obstat (nenhuma dificuldade ou total aprovação, em tradução livre do latim). Esta categoria indica que o fenômeno, após cuidadosa investigação, não apresenta elementos que contrariem a fé ou a moral da Igreja. O bispo diocesano pode, portanto, reconhecer a experiência espiritual e até encorajar a devoção associada a ela, inclusive promovendo peregrinações ao local do evento.

Prae oculis habeatur (deve-se ter em mente) indica que, apesar de haver sinais positivos, existem também elementos de confusão ou possíveis riscos. O bispo deve realizar um discernimento cuidadoso e manter diálogo com os envolvidos. Se houver mensagens ou escritos, pode ser necessário um esclarecimento doutrinal para garantir que tudo esteja em conformidade com a fé.

O terceiro é o Curatur (é cuidado) em que há diversos elementos críticos, mas o fenômeno já tem ampla difusão e mostra frutos espirituais verificáveis. Neste caso, proibir o fenômeno poderia perturbar os fiéis. O bispo é aconselhado a não encorajar diretamente, mas a buscar alternativas de devoção e a reorientar o perfil espiritual e pastoral da experiência.

No Sub mandato (sob comando), os elementos críticos não são ligados diretamente ao fenômeno, mas sim a indivíduos ou grupos que fazem uso impróprio da experiência espiritual para vantagens econômicas indevidas ou atividades pastorais paralelas. O bispo diocesano ou uma pessoa delegada pela Santa Sé deve tomar a condução pastoral do local para evitar abusos e desordens.

Prohibetur et obstruatur (é proibido e obstruído), por sua vez, afirma que mesmo com alguns elementos positivos, os riscos e elementos críticos são graves. Para evitar confusões ou escândalos que possam prejudicar a fé, o bispo deve declarar publicamente que a adesão ao fenômeno não é permitida. Além disso, deve oferecer catequese para explicar as razões da decisão e reorientar as preocupações espirituais dos fieis.

Por fim, o último é o declaratio de non supernaturalitate (declaração de não sobrenaturalidade). Este caso, por exemplo, é aplicado quando um presumido vidente declara ter mentido. Também pode acontecer quando testemunhas credíveis fornecem elementos que permitem descobrir a falsidade de um fenômeno, com intenção errada ou mitomania.

Ao ser questionado sobre como essas mudanças podem afetar seu trabalho como exorcista, padre Guido afirmou que, de maneira indireta, os novos critérios também impactam a prática do exorcismo. "O exorcista atua como um representante do bispo, e qualquer novo documento que interfira nos fenômenos paranormais também pode refletir em nosso trabalho, exigindo maior cautela e rigor na identificação de manifestações sobrenaturais."

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