COLUNISTA

Qual Cristianismo?

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

No vasto universo religioso, o cristianismo se apresenta nas prateleiras do mercado da fé de maneiras variadas, algumas excludentes, outras complementares. Cada indivíduo que se autodenomina cristão pratica sua fé conforme sua consciência. No entanto, apesar da multiplicidade de abordagens, a essência do cristianismo reside inevitavelmente na conformidade aos valores éticos e doutrinários pré-estabelecidos. A Bíblia fornece orientações fundamentais para a caminhada cristã, direcionando para uma verdade singular a ser seguida.

A Reforma Protestante proporcionou uma das contribuições mais significativas ao estimular a liberdade da interpretação bíblica. No entanto, essa autonomia criou um terreno fértil para inúmeras opiniões sem um fundamento ortodoxo. Com a liberdade, surgiram incontáveis desvios, aventureiros, impostores e distorcedores da doutrina cristã. Defender a fé cristã é um desafio, mas não uma tarefa inútil. Por isso, o cristão deve permanecer firme diante das mudanças litúrgicas que exaltam o secularismo, o utilitarismo e o individualismo, bem como todas as heresias que causam desequilíbrio na fé genuína.

A metodologia cristã precisa retornar às suas origens na fé e aos valores fundamentais que Jesus pregou e que foram transmitidos pelos apóstolos. A vivência cristã autêntica deve destacar a busca por uma conexão com o Criador através dos preceitos ordenados em Sua Palavra. É essencial notar que, ao longo da história cristã, homens e mulheres escolheram conscientemente renunciar ao conforto da secularização, abraçando a vida da renúncia e da humildade. Esses indivíduos perseverantes são um testemunho vivo de um compromisso profundo, em contraste com aqueles que propagam um "cristianismo" diluído e superficial.

A ideia de um deus morto, a bem da verdade, não foi concebida por Nietzsche em sua complexa teoria, mas sim pela cultura moderna de religiosidade superficial que propaga um deus que não existe. A concepção de um deus constantemente disponível para proteger seus súditos de tragédias, dores ou desconfortos não corresponde à realidade e não representa o Deus descrito na fé cristã. Um deus que infantiliza adultos não possui fundamentação histórica e bíblica. Interpretar Deus como alguém que simplesmente mima seus adeptos é um equívoco, uma distorção da fé apostólica.

Não é preciso ser muito perspicaz para notar que os justos, os íntegros, as pessoas virtuosas e os cristãos devotos enfrentam desafios e até muitas dificuldades na vida. É fato que Deus não intervém nas responsabilidades humanas. Assim, a Bíblia sagrada não relata em nenhum de seus textos que os fiéis cristãos desfrutem de uma bolha de proteção; pelo contrário, frequentemente enfrentam conflitos até mais intensos. Consciente dessa verdade, Santa Teresa de Ávila (século XVI) ponderou com ironia que "se Deus trata dessa maneira aqueles que são seus amigos, não é surpreendente que Ele tenha tantos inimigos!".

O caminho para um cristianismo genuinamente frutífero está na convocação bíblica ao arrependimento, que busca uma consciência madura e que abraça valores essenciais que transcendem o egoísmo. Ser cristão não se restringe a simplificar a vida, mas implica enfrentá-la com responsabilidade, solidariedade e dignidade diante das adversidades. A vida cristã deve ser marcada pela graça, fé e perseverança.

Nesse sentido, a verdadeira essência cristã concentra-se na subordinação da fé a Jesus Cristo, na transformação em um seguidor de Cristo sob o poder do Espírito Santo; é encarar a existência crendo que todas as circunstâncias podem contribuir para nossa conformação à imagem de Jesus Cristo; é libertar-se do ódio e viver uma vida de amor a Deus e ao próximo; é receber perdão e praticar o perdão; é descansar nas promessas de Deus e confiar em Seu caráter inabalável; é tornar-se filho de Deus (João 1.12) e experimentar um renascimento da mente e do coração, sendo transformado em uma nova criatura; é adorar a Deus e não às coisas materiais.

Ser cristão é viver em amizade com Deus, em paz com Ele e para Ele, em contraste com a rotina egoísta que se concentra em si mesma. É amar o próximo de maneira altruísta e autêntica. É ser santo, separado do mal e do pecado. É refletir a luz de Jesus Cristo. É ser liberto da necessidade de buscar glória própria. Qual cristianismo você vive? O verdadeiro cristianismo guia seus seguidores a uma vida de harmonia com o Pai Eterno, por meio de Cristo Jesus, dependendo do Espírito Santo, sob a ortodoxia da Palavra de Deus.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

62 anos atuando Soli Deo Gloria

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