CRISE HÍDRICA

Bela Vista pode sair do rodízio e projeto do DAE reduz perdas

Por André Fleury Moraes | da Redação
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André Fleury Moraes
O presidente do DAE, Leandro Joaquim, durante entrevista em seu gabinete na sede da autarquia
O presidente do DAE, Leandro Joaquim, durante entrevista em seu gabinete na sede da autarquia

Presidente do Departamento de Água e Esgoto (DAE), o engenheiro Leandro Joaquim acredita que o Bela Vista deve sair do racionamento de água em breve, se não já nesta segunda-feira (1), devido às obras de interligação que retiram a dependência do bairro sobre o sistema de abastecimento da lagoa de captação do Rio Batalha.

"Temos um poço no Distrito Industrial 3 que produz 120 mil litros por hora. Ele abastece a região Norte de Bauru. O [bairro] Caic, por exemplo, é um deles", explica o presidente. Essa fonte de captação, somada a dois novos poços que o DAE pretende perfurar ainda sob o regime de emergência hídrica, serão interligados ao reservatório 9 de Julho - que abastecerá, por sua vez, a rede Bela Vista. "Isso deve ser feito ainda neste ano", diz Leandro.

As tratativas para a perfuração já estão avançadas com o Departamento de Águas e Energia Elétrica, autarquia do governo estadual responsável pelo gerenciamento dos recursos hídricos, afirmou o engenheiro ao JC na quinta-feira (28). "O 9 de Julho está a cerca de três quilômetros e meio do sistema Bela Vista. Existe uma interligação entre os dois. Não é a melhor, mas existe", aponta.

O DAE já projeta estudos, porém, para realizar nova perfuração entre as duas regiões com um método não destrutivo. A previsão é utilizar uma das tecnologias mais avançadas no mercado. Um equipamento perfura o solo sem que seja sequer percebido e já instala ao mesmo tempo a tubulação.

"Não é uma iniciativa cara dentro do setor. Estimamos entre R$ 2 milhões a R$ 3 milhões. Isso estabiliza definitivamente o abastecimento do Bela Vista", comenta.

A exclusão do Bela Vista do sistema de rodízio tem como consequência natural maior disponibilidade de água para outras regiões dependentes do Batalha - que poderão, neste caso, passar para o sistema de racionamento 24 por 24; isto é: 24 horas de abastecimento e 24 horas de desabastecimento.

Hoje, enquanto isso, o rodízio está sob regime 24 horas de abastecimento frente a 48 horas sem água.

A interligação do Bela Vista é uma das medidas elencadas pelo Plano Diretor de Águas (quadro) que vence neste ano e que foi quase que integralmente cumprido - a maior parte, aliás, a partir de 2023, quando Joaquim assumiu o DAE.

Os dois novos poços que a autarquia prevê perfurar na Zona Norte acompanham dados científicos levantados pelo projeto Soluções Integradas Para Cidades Resilientes (Sacre), conduzido pelo pesquisador Ricardo Hirata, professor da Universidade de São Paulo (USP).

Dados preliminares do estudo, como noticiou o JC no início de junho, apontam que o Aquífero Guarani - de onde a maioria dos poços de Bauru retira água - sofre um "afunilamento" na região do Centro e da Zona Sul e isso dificulta a captação hídrica nessas regiões. As informações justificam, ao menos em parte, a dificuldade de produção de água a poços nos locais onde o aquífero afunila.

O Sacre também indicou a necessidade de novos reservatórios, inclusive superficiais, e isso também está nos planos do DAE. "Não abrimos mão de uma nova fonte de captação [superficial], embora seja um projeto caro", disse o presidente. Mas do Batalha, e não do rio Tietê, que está distante de Bauru. "Para se ter uma ideia, utilizamos dois produtos químicos basicamente para tratar água de poço, o flúor e o cloro. A do Batalha já exige 12 deles. Imagine o Tietê", observou o presidente.

DAE avança para renovar comportas na ETA; medida reduz perda em 50%

O Departamento de Água e Esgoto (DAE) já abriu licitação e pode renovar até o final de agosto o sistema de comportas da Estação de Tratamento de Água (ETA), medida que deve reduzir as perdas globais de água em até 50%.

A aquisição vem na esteira de um processo interno da autarquia realizado para identificar os problemas dentro da ETA - cuja estrutura o próprio presidente do DAE, o engenheiro Leandro Joaquim, classifica como "muito antiga".

"Hoje temos dois reservatórios replicantes na ETA. Eles são alternados em termos de tratamento porque temos de fazer a limpeza dos filtros, outra causa de perda de água. O primeiro passo é a substituição das comportas", disse Joaquim ao JC na quinta.

Se hoje o DAE perde pouco mais de 1 milhão de litros de água por dia somente na ETA, a renovação do sistema de comportas tem potencial para reduzir o montante a cerca de 550 mil litros por dia. Há margem para reduzir ainda mais num projeto a longo prazo - mas não totalmente.

A maior perda de água hoje, afinal, é exatamente na estação de tratamento. Além das comportas há também rachaduras por onde o líquido se esvai. Neste caso, diz o engenheiro, a manutenção pode ser de baixo custo e está sendo avaliada.

Outro problema está na lavagem dos filtros, processo que exige quantidade substancial de água e entra num planejamento de modernização a longo prazo.

O projeto de concessão do sistema de esgoto, aprovado pela Câmara em maio, impõe como contrapartida da futura concessionária a construção de uma nova Estação de Tratamento de Água. Isso não significa que a primeira será abandonada.

"Vamos modernizá-la. A que temos ainda é mecânica. Queremos investir para instalar equipamentos de eletromecânica", afirma Joaquim. "Neste caso, quem sabe, ela pode até virar uma espécie de 'pulmão' para os reservatórios", explica. O DAE também negocia com o Estado a limpeza de três córregos que desembocam no rio Batalha. "A ideia é melhorar o sistema Batalha como um todo para garantir previsibilidade", explica.

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