COLUNISTA

Se fosse assim? Quantos sobreviveriam?

Por |
| Tempo de leitura: 3 min
Ludhmila Hajjar, Professora Titular da USP é prestigiada pela ministra Simone Tebet, a cantora Marisa Monte e a médica Stephanie Rizk.
Ludhmila Hajjar, Professora Titular da USP é prestigiada pela ministra Simone Tebet, a cantora Marisa Monte e a médica Stephanie Rizk.

Em entrevista, a Professora Doutora Ludhmila Hajjar disse que “uma onda de picaretagem assola a medicina no Brasil”. A formação da médica e professora é inquestionável e sua experiência dá um peso muito grande a esta afirmação, além de outras ditas ao longo da sua entrevista ao vivo e por escrito.

Quando a Professora Ludhmila diz medicina, também se estende para todas as áreas biomédicas associadas incluindo a odontologia, enfermagem, nutrição, fisioterapia, biomedicina, farmácia e bioquímica etc. O universo deste tipo de conhecimento é o mesmo! Para isto, nem precisa frequentar o meio biomédico, é só ler diariamente os jornais, assistir as televisões abertas e os portais de notícias: é trapaça todos os dias.

Em um livro que também poderia se chamar “E se ...”, em cada capítulo a autora discorre sobre uma possibilidade hipotética, por exemplo, como viveríamos sem geladeira, fazendo várias conjecturas muito interessantes com a situação (Como faríamos sem ... Bárbara Soalheiro. Panda Books). E se vivêssemos sem telefone celular ou sem internet? Seria uma loucura! E reconheçamos que seria muito pior.

A CADA 5 ANOS

A faculdade em que se formou, depois de 5 anos ela não existe mais! Os prédios mudaram, os aparelhos e também os professores e funcionários são outros, em sua maioria. Para quem gosta de nostalgia, esquece! Não dá para voltar à sua querida faculdade e reviver o tempo de outrora, só mesmo em fotos e vídeos. Apenas os formados nas faculdades e que passassem no exame do Conselho Profissional, poderiam exercer a profissão.

Na ciência, todo o conhecimento é renovado completamente em 5 anos. Os conceitos, as verdades, as ideias, as técnicas, os aparelhos e os produtos, incluindo os medicamentos, são quase tudo trocados! Esta é uma das razões que o comprometimento, o apego e a saudade não estão em moda, tudo é muito passageiro e perecível, inclusive todos os tipos de relações humanas.

Muitos, e não são poucos, propõem que tudo que seja estável e duradouro acabe, como por exemplo os cargos de juiz, desembargadores e ministros nos tribunais, até do STF, para que as coisas se renovem e atualizem-se. Como assim são com os professores e outros. E se tudo e todos não tivessem mais a estabilidade, tudo teria que ser periodicamente renovado a cada 5 anos, inclusive os profissionais.

Todas as profissões como o médico, cirurgião dentista, arquiteto e outros, teriam autorização profissional para continuar a exercer, apenas depois de passar a cada 5 anos, por um rigoroso exame de qualificação hiper e ultra controlado pela sociedade: sós os bons passariam e continuariam! Esses exames seriam organizados e de responsabilidade dos conselhos de cada profissão, como a OAB faz tão bem com a advocacia.

DUAS REFLEXÕES FINAIS

“E se ...” assim fosse, poderia haver quantas e tantas faculdades que quisessem, às centenas como acontece hoje com a medicina e a odontologia, e se os alunos não fossem bem formados, não passariam no exame para o exercício profissional. Sobreviveriam apenas as boas faculdades, aquelas com bom índice de aprovação nestes exames. As demais fechariam, pois quais famílias iriam colocar seus filhos nelas?

Os profissionais teriam que estudar sempre para passar a cada 5 anos no exame de renovação para o exercício legal da profissão. Deixariam de existir os profissionais que estudaram apenas na época da faculdade e não renovaram seus conceitos continuadamente. Desta forma, provavelmente haveria uma queda brusca das picaretagens (ou trapaças) que se tem na medicina de hoje, como disse a Professora Doutora Ludhmila, mas também em todas as outras áreas.

Depois de alguns anos com este sistema avaliador instalado, talvez perguntemos uns aos outros: - Como conseguíamos viver sem o controle adequado do exercício profissional minimamente competente? Reflitamos.

Alberto Consolaro é Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC.

Comentários

Comentários