COLUNISTA

Repartir o pão

Por Hugo Evandro Silveira | 25/05/2024 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Eu não aprendi a compartilhar o pão com base nos ensinamentos de Marx, mas sim na Bíblia. Quando mencionamos Marx, é comum surgirem inúmeras defesas fervorosas da "religião" que ele criou. Seus seguidores são realmente dedicados. No entanto, o objetivo deste texto é simples: destacar o valor do Evangelho de Jesus Cristo, excluindo totalmente a necessidade de Karl Marx no campo do altruísmo.

Na América Latina há uma corrente teológica que busca mesclar o evangelho do Reino de Deus com o Marxismo. Essa ideologia advoga pela intervenção estatal em diversas questões sociais. Apesar de começar com a preocupação com os necessitados, esse discurso se desvia dos princípios do Evangelho de Jesus Cristo. O resultado é sempre um Estado poderoso que restringe a liberdade individual e promove agendas contrárias aos valores bíblicos. O Evangelho de Cristo ensinou e exemplificou o cuidado com o próximo sem depender de ideologias políticas que frequentemente contradizem as Escrituras.

Esta reflexão ressalta a crucial necessidade de alimentar os pobres, um aspecto que merece ser analisado em profundidade. É espantoso que alguns cristãos coloquem a compreensão de Marx a respeito da pobreza em um pedestal, em vez de recorrerem às lições da Bíblia. A narrativa bíblica da multiplicação dos pães e peixes por Jesus para alimentar cinco mil pessoas é emblemática, ao mesmo tempo em que nos instrui sobre a importância de auxiliar os necessitados e condena a acumulação injusta de riquezas. Passagens como Deuteronômio 15.11, Jó 30.25, Salmos 9.18 e 72.4 sublinham essa autêntica preocupação com os pobres e oprimidos. Essas passagens destacam que a preocupação pelos pobres e oprimidos não foi uma ideia original de Marx. Ao analisarmos o ministério de Jesus Cristo no Novo Testamento, percebemos claramente sua demonstração de cuidado e amor pelos menos favorecidos. Por exemplo, em Lucas 14.12,13, Jesus instrui sobre a generosidade aos pobres, deficientes físicos, mutilados e cegos, em detrimento dos ricos, amigos, proeminentes e nobres.

Jesus não apenas ensina sobre compaixão pelos pobres, mas também vive esse ensinamento em seu próprio ministério, sendo um exemplo tangível para seus seguidores. As ações de Tabita e Cornélio, mencionadas em Atos 9.36 e 10.31, respectivamente, refletem essa compaixão em ação na comunidade cristã primitiva. Além disso, o início da igreja cristã, conforme narrado em Atos 2.42-47, destaca não apenas a generosidade material, mas também a comunhão e a solidariedade entre os crentes como parte integrante da prática da fé cristã. Esses exemplos históricos reforçam a mensagem central do Evangelho de amor ao próximo e cuidado pelos menos favorecidos.

A responsabilidade da igreja vai além da mera erradicação da pobreza global, como destacou Jesus em Mateus 26.11. Seu verdadeiro propósito é difundir o amor e a verdade de Cristo, como delineado em Mateus 28.16-20, buscando a transformação espiritual e moral das pessoas. Embora buscar a justiça social seja louvável, priorizar uma doutrina que busca igualdade a qualquer custo, em detrimento do Evangelho, desvia-se do cerne da missão da igreja. É crucial reconhecer que aderir de forma acrítica a causas politicamente corretas muitas vezes resulta em um aumento do poder estatal. A história nos ensina que onde o Estado exerceu maior controle, a pobreza, a injustiça e a miséria se agravaram. Portanto, a igreja deve buscar um equilíbrio entre promover a justiça social e preservar sua missão essencial de proclamar a mensagem do evangelho.

Os primeiros seguidores de Cristo se uniam por livre vontade e uma compaixão verdadeira, não por imposição ou coerção. Embora o seguimento de um cristianismo "politicamente correto" muitas vezes se afaste dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, nossa intenção é promover uma reflexão crítica, não emitir julgamentos políticos. Questionamos a associação do conceito de "repartir o pão" ao ensino de Marx, quando suas origens remontam a Cristo. Sugerimos uma análise mais profunda da história para compreender a verdadeira relevância da obra de Marx em relação a Cristo. Enquanto a igreja cristã primitiva serviu como um modelo de generosidade autêntica, é possível que Marx e seus seguidores não estejam dando a devida ênfase ao cuidado supremo pelos necessitados. A discrepância entre discurso e prática é evidente. Em suma, como observou o polemista William Ames, o amor a Deus está intrinsecamente ligado ao amor ao próximo. A igreja não apenas pregava o Evangelho, mas também vivia uma generosidade mútua. Em momentos de crises e catástrofes, como a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, a Igreja, os seguidores de Cristo continuam a fazer uma diferença genuína para os necessitados e aflitos. Que Deus seja glorificado!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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