PIVÔ NO CASO HACKER

Irmão de Vitorelli tem celular e computador apreendidos

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
O escrivão Felipe Garcia Pimenta, meio-irmão do cunhado da prefeita, uniformizado e com câmera corporal; ele foi alvo de busca e apreensão
O escrivão Felipe Garcia Pimenta, meio-irmão do cunhado da prefeita, uniformizado e com câmera corporal; ele foi alvo de busca e apreensão

O escrivão Felipe Garcia Pimenta, meio-irmão do cunhado da prefeita Suéllen Rosim (PSD) Walmir Henrique Vitorelli, foi alvo de busca e apreensão no mês passado, na sala onde trabalha na Delegacia de Polícia de Araçatuba, e teve de entregar seu celular e seu computador às autoridades.

A medida veio no âmbito do inquérito instaurado pela Corregedoria Auxiliar da corporação que apura eventual violação de sigilo funcional de Pimenta na participação no episódio envolvendo a invasão de dispositivos da vereadora Estela Almagro (PT) e do jornalista Nelson 'Itaberá'.

O caso foi revelado no ano passado e tem como protagonista o hacker Patrick César da Silva Brito, que foi preso na Sérvia pela Interpol, a Polícia Internacional. Ele confessou ter invadido os dispositivos da parlamentar e do jornalista e admitiu que quem o contratou foi Walmir.

O cunhado de Suéllen nega irregularidades, mas deu depoimentos contraditórios sobre o caso. Procurado, ele afirmou que "não vou me manifestar porque não tenho absolutamente nada a ver com o caso", embora o episódio envolva diretamente seu nome.

A reportagem não obteve retorno de Felipe Pimenta.

O mandado de busca foi autorizado e expedido pelo juiz Roberto Soares Leite, da 1.ª Vara Cível de Araçatuba, em decisão que concordou com os argumentos da Corregedoria Auxiliar.

A condução do inquérito, que tramita sob segredo de Justiça, está a cargo do delegado Gustavo Barbosa de Siqueira.

Ele confirmou, por exemplo, a denúncia feita pelo próprio hacker no ano passado de que "a pedido de Walmir, [Felipe] Pimenta pesquisou todos os Registros Digitais de Ocorrência de Nélson no intuito de encontrar algo que desabonasse a sua honra, sendo que nada foi encontrado".

Houve três buscas pelo nome do jornalista no sistema da Civil, segundo aponta relatório da Corregedoria, todas em julho de 2021. A pesquisa foi feita pela conta de um outro policial, do setor de perícias, que relatou à investigação desconhecer as medidas.

A Corregedoria descobriu que o endereço de IP (Protocolo de Internet) do computador a partir do qual essas buscas foram feitas é justamente de Felipe Pimenta.

"Existem fundadas razões que evidenciam a possibilidade concreta de que, no aparelho celular de Pimenta, possam ser encontradas mensagens pelo aplicativo Whatsapp ou outro trocadas entre ele e o investigado Patrick César da Silva Brito ou mesmo com Walmir Henrique Vitorelli que indiquem eventual conduta ilícita", afirma documento ao qual o JC teve acesso.

Segundo o relatório da busca, Pimenta foi abordado no corredor da delegacia e não esboçou reação ao ser informado do mandado.

O delegado Carlos Henrique Cotait, chefe da unidade policial e investigado em outro inquérito por monitoramento de grampos telefônicos, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, acompanhou o caso. O hacker Patrick diz que foi Cotait quem o aliciou para trabalhar ilegalmente à delegacia - isso aconteceu, segundo ele, inclusive na Operação Raio-X, que investigou o hoje ministro Márcio França.

Os aparelhos apreendidos na sala de Pimenta serão periciados. O relatório deve ser entregue dentro de algumas semanas.

O caso envolvendo o monitoramento ilegal de desafetos do governo Suéllen Rosim também é investigado num inquérito da Polícia Federal (PF), que abriu apuração depois que o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), um braço do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), declinou da competência para analisar o episódio.

A prefeita, enquanto isso, sugeriu em dezembro do ano passado que a denúncia teria sido "arquitetada pela oposição" e ameaçou "tomar medidas judiciais cabíveis". Walmir também fez o mesmo. Mas nenhum processo foi ajuizado até o momento.

Hacker vê dificuldade para acessar provas contra ele mesmo

Réu numa ação penal que o denunciou pela invasão do celular do prefeito de Araçatuba, o hacker Patrick César da Silva Brito até agora não conseguiu acesso às provas que a Polícia elaborou contra ele. A Justiça já determinou que a corporação fornecesse, mas sem sucesso até o momento.

A solicitação envolve o relatório da extração de informações de seu aparelho telefônico.

Em petição protocolada no dia 9 de maio, a advogada Karine Nakad Chuffi, que defende Patrick no caso, disse que "o delegado Pedro Paulo da Costa Negri é contumaz em, propositadamente, descumprir as determinações judiciais, tudo com o manifesto intuito de criar injustificável embaraço ao processo e prejudicar, a qualquer custo, o réu".

"Principalmente porque se trata de Patrick, já conhecido até pela imprensa local e internacional, no já instaurado caso hacker, onde o réu acusa o referido delegado, o também delegado Carlos Henrique Cotait e alguns dos seus subordinados de praticar emvários ilícitos administrativos e penais", prossegue.

O Ministério Público chegou a dizer que as provas só deveriam ser fornecidas após o trânsito em julgado (quando não há mais recursos), segundo afirmou em manifestação assinada pelo promotor Flávio Hernandez José.

"O MP, por razões ainda a serem esclarecidas pelos altos escalões, contrariando à Lei, asseverou que o réu só poderia ter acesso às informações após o trânsito em julgado da presente Ação Penal", afirmou a advogada Chuffi.

Walmir Henrique Vitorelli diz que não tem nada a ver com o caso, embora seja protagonista do episódio (crédito: Guilherme Matos)
Walmir Henrique Vitorelli diz que não tem nada a ver com o caso, embora seja protagonista do episódio (crédito: Guilherme Matos)

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