ENTREVISTA

Entrevista da Semana com a cantora Ariane Vieira; confira

Ela rompeu barreiras no universo predominantemente masculino do rock e potencializa o legado musical deixado por sua família

Por Tisa Moraes | 14/04/2024 | Tempo de leitura: 5 min
da Redação

Arquivo pessoal

Ariane Vieira decidiu realizar o sonho de viver de música há quatro anos
Ariane Vieira decidiu realizar o sonho de viver de música há quatro anos

RIFFS E RAÍZES

A música permeou a vida da cantora Ariane Vieira, 33 anos, literalmente, desde seu primeiro segundo de vida. Criada em uma família em que acordes e vozes sempre estiveram presentes, acabou seduzida por esta herança familiar e mergulhou no universo do rock.

Formou-se em música, mas, em meio a incertezas, optou pelo serviço público e deu aulas por oito anos na prefeitura de Presidente Alves, cidade onde nasceu. Com a chegada da pandemia de Covid-19, a urgência em realizar seu maior sonho bateu à porta. A artista, então, mudou-se para Bauru, onde, em quatro anos, consolidou-se como cantora profissional. Recentemente, gravou sua primeira música em estúdio, "Vidas Plásticas", com a banda Cavalo de Guerra, do Rio de Janeiro.

Tendo como maiores referências musicais a cantora Janis Joplin e a banda Iron Maiden, Ariane transita por vários subgêneros do rock, como vocalista de outras três bandas: Áries Rock Band, NightSense e Danger, esta última formada apenas por mulheres. E compõe, ainda, um duo acústico com o músico Bruno Piza.

Filha de Suely e Aparecido, ela conta, nesta entrevista, como quebrou barreiras em um gênero musical predominantemente masculino e como sua jornada dá continuidade ao legado deixado pela mãe, que participou de festivais sertanejos, e pela avó Firmina Maria (Nena), que cantou nas rádios em uma dupla caipira. Leia, abaixo, os principais trechos.

JC - O que a motivou a investir na carreira de cantora há quatro anos?

Ariane - A música sempre esteve presente na minha vida, porque meus pais e minha avó cantam, meu avô tocava. Quando nasci, meu pai e seus amigos estavam tocando e cantando do lado de fora da maternidade. Na infância, havia festas em casa, com meus pais e amigos tocando, cantando. Sempre gostei de cantar e comecei a fazer aulas de teclado aos 9 anos. Quando fui escolher uma graduação, queria música e alguma outra coisa, porque, na época, nem passava pela cabeça viver de música, ainda mais rock no Interior. Cursei música na USC e fiz conservatório de piano popular. Cheguei a passar no vestibular para direito e arquitetura, mas não fiz nenhum.

JC - Que caminho seguiu ao concluir a faculdade?

Ariane - Passei no concurso da prefeitura de Presidente Alves para ser monitora, onde trabalhei por oito anos. Comecei na sala de aula, na educação infantil, e depois fui dar aulas de teclado e canto na Casa de Cultura. Voltei para a educação infantil e, em 2020, veio a pandemia. Foi quando resolvi pedir demissão, em setembro daquele ano, para viver do meu sonho. Em outubro, já estava morando em Bauru, uma cidade que já conhecia e gosto.

JC - Imagino que o começo tenha sido difícil, ainda mais em uma pandemia.

Ariane - Quando cheguei, o ramo de entretenimento estava retomando, mas, em janeiro de 2021, parou de novo. Fiquei sem trabalhar e fui me aprofundar nas técnicas de canto e pedagogia vocal. Em junho, comecei a dar aulas de canto no Instituto Guitarisma, onde continuo até hoje. Eu estava em uma banda quando cheguei em Bauru, mas fui conhecendo pessoas, formando outras bandas. E, hoje, estou em três e em um projeto acústico, com shows em cidades da região Central e Oeste do Estado: Áries Rock Band; Danger, uma banda de meninas; NightSense; e o duo voz e violão com o Bruno Piza. E, em 2023, fui convidada a integrar um projeto autoral do Rio de Janeiro, o Cavalo de Guerra. Lançamos uma música em fevereiro agora, "Vidas Plásticas", e lançaremos a segunda provavelmente ainda neste mês.

JC - Como foi esse convite?

Ariane - O filho da minha madrinha, Rafael Bianzeno, é guitarrista e tocou com o tecladista Charles Soulz, conhecido por trabalhos autorais, com quem fiz amizade pelas redes sociais. No ano passado, ele me disse que uns amigos tinham um projeto autoral, mas estavam sem vocalista e perguntou se eu tinha interesse, porque o som deles era perfeito para eu cantar. E entrei no segundo semestre de 2023. Em janeiro, fomos a estúdio gravar essa primeira música, já disponível nas plataformas digitais. Foi a primeira vez que entrei em estúdio e agora, entendendo melhor esse processo, planejo gravar algumas composições minhas, que ainda são esboços com piano e voz.

JC - Como funciona a logística Bauru-Rio?

Ariane - A ideia inicial era gravar as canções para os músicos mostrarem aos filhos, netos. Mas, quando entrei, os rumos foram mudando. Então, provavelmente, a partir do ano que vem, começaremos a fazer shows. Ainda em 2024, vou para lá gravar dois videoclipes destas primeiras músicas e fazer sessão de fotos. É muito maluco porque ainda não os conheço pessoalmente, mas tudo está dando certo. Tive muito medo de começar e só quando vi as coisas acontecendo de forma tão natural entendi que nasci para viver de música.

JC - Como líder de bandas de rock, enfrenta muito preconceito, machismo?

Ariane - Quando cheguei aqui, praticamente não tinha meninas na cena. Hoje, vejo o movimento feminino crescendo nesse estilo, que é predominantemente masculino. Entre os profissionais, a aceitação é boa, mas, na plateia, ainda tem um pouco de desrespeito, assédio, por parte de alguns. Sendo algo absurdo, me posiciono quando desço do palco, para que entendam que não é porque uma mulher se coloca em uma posição de evidência que pode ser desrespeitada.

JC - Sua avó e sua mãe cantaram. Como se sente ao seguir com esse legado?

Ariane - Minha avó Nena fez dupla caipira com o irmão e ia nas rádios de Lins, onde morava, para cantar. Já em Presidente Alves, minha mãe teve uma dupla sertaneja, a Ju & Su, com uma amiga e ia para os festivais da região, ganhando muitos troféus e medalhas. Essa amiga sofreu um acidente, sobreviveu, mas as duas, que estavam se preparando para gravar um disco, precisaram interromper um sonho. Então, ser cantora é uma forma de dar continuidade ao legado dessas mulheres, de amor e dedicação à música.

O que diz a cantora:

'Em 2020, veio a pandemia. Foi quando resolvi pedir demissão para viver do meu sonho'

'Não é porque uma mulher se coloca em uma posição de evidência que pode ser desrespeitada'

'Ser cantora é uma forma de dar continuidade ao legado dessas mulheres (mãe e avó), de amor e dedicação à música'

Com Alexandre Ramos, Wanner Maurício e Danilo Ariosi, da NightSense (crédito: Arquivo pessoal)
Com Alexandre Ramos, Wanner Maurício e Danilo Ariosi, da NightSense (crédito: Arquivo pessoal)
Com Gabriela Cassaro, Thais Guzzo e Beatriz Penachi, da banda Danger
Com Gabriela Cassaro, Thais Guzzo e Beatriz Penachi, da banda Danger
Com Luciano Reis, Matheus Garcia e Rodolfo Batista, da Áries Rock Band (crédito: Arquivo pessoal)
Com Luciano Reis, Matheus Garcia e Rodolfo Batista, da Áries Rock Band (crédito: Arquivo pessoal)
Com a mãe, Suely Vieira, e a avó Nena em show da banda Áries (crédito: Arquivo pessoal)
Com a mãe, Suely Vieira, e a avó Nena em show da banda Áries (crédito: Arquivo pessoal)

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