COLUNISTA

Não tão obscuro quanto se imagina

Por Hugo Evandro Silveira | 07/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril.

A era medieval, que se estende desde o declínio do Império Romano no século V até o alvorecer da Renascença no século XV, muitas vezes é subestimada e mal interpretada. Ao longo desses mil anos denominado como "Idade das Trevas" também podemos encontrar progressos notáveis em várias esferas que desempenharam um papel fundamental na formação da sociedade medieval e estabeleceu as bases para o progresso futuro.

Um dos aspectos mais notáveis da Idade Média foi o avanço tecnológico e agrícola. Novas práticas, como a rotação de culturas e a especialização agrícola, revolucionaram a produção de alimentos, resultando em uma maior disponibilidade de recursos alimentares e no consequente crescimento populacional. Além disso, a introdução de inventos como o carrinho de mão, o poço artesiano, os moinhos de vento e os moinhos de água contribuiu significativamente para a melhoria da eficiência e da qualidade de vida nas comunidades medievais.

Contudo, a Idade Média enfrentou desafios consideráveis. O domínio do clero frequentemente resultava em uma estrutura social hierárquica e desigual, onde a autoridade religiosa exercia influência preponderante sobre a vida cotidiana das pessoas. Ademais, o desprezo pelo pensamento racional, sujeiras, miséria, bruxas, pessoas morrendo em fogueiras, atraso intelectual, alta religiosidade e pouco valor às liberdades eram dominantes.

Mas é crucial reconhecer tanto os obstáculos enfrentados quanto os progressos, ainda que tímidos, para uma compreensão mais abrangente. Enquanto as conquistas tecnológicas e culturais podem ser aplaudidas, também devemos confrontar as injustiças sociais e as tragédias que caracterizaram essa era. A Idade Média se revelou como um período de nuances, onde avanços e desafios se entrelaçaram de maneira intricada. Ao examinarmos criticamente esse capítulo da história, podemos ganhar insights valiosos a respeito da evolução da civilização e concluir que talvez esse período não tenha sido tão obscuro quanto se imagina.Por exemplo, há uma incerteza persistente sobre a suposta infelicidade das pessoas durante a Idade Média. Contrariamente Oregistros comuns, outros documentos assinalam uma vida vibrante e cheia de celebrações nas cidades medievais. Contos populares floresceram nessa era, repletos de histórias, anedotas, festividades e fábulas, refletindo uma determinada produção cultural. Cada aspecto da vida cotidiana era motivo para eventos festivos e cerimônias. A influência da Idade Média na formação do mundo contemporâneo é indiscutível, especialmente quando se trata do estabelecimento das universidades. Cidades como Paris, Bolonha, Pádua, Oxford, Praga e Colônia emergiram como centros de conhecimento e aprendizado, onde estudiosos se dedicavam ao estudo e à pesquisa em diversas disciplinas, incluindo medicina, biologia, filosofia e teologia. A concessão de diplomas, que reconheciam graduações em mestrado ou doutorado, conferia prestígio internacional aos graduados, validando seus conhecimentos em toda a Europa. Esse modelo educacional, conhecido como a comunidade internacional de escolásticos, facilitou o intercâmbio de ideias e impulsionou o avanço do conhecimento no mundo. Além dos avanços na educação e na filosofia, a Idade Média testemunhou um florescimento cultural e artístico. As bases da música clássica foram estabelecidas durante esse período, com a invenção das notas musicais, harmonias e ritmos ocidentais que ainda são apreciados hoje em dia. No campo da arquitetura e da engenharia, foram erguidas algumas das mais magníficas estruturas da história humana, como as catedrais góticas, desafiando os construtores em sua complexidade. Edificados com técnicas refinadas por pedreiros, carpinteiros, pintores, escultores e vidraceiros, esses monumentos foram criados sem o auxílio de máquinas modernas ou energia elétrica. Por meio de talhas, manivelas e andaimes, artesãos medievais demonstraram uma notável inteligência, força e criatividade, adornando espaços amplos com cores e luz, produzindo uma beleza que perdura para ainda serem vistas.

Durante a Idade Média, a fé no Criador era difundida de acordo com os princípios das Escrituras Sagradas, sendo defendida por proeminentes pensadores como Anselmo de Cantuária, Alberto Magno, Tomás de Aquino, João Duns Escoto e Guilherme Ockham. Essa convicção divina também se refletia na abordagem científica, conforme evidenciado por Nicolau Copérnico, astrônomo e matemático, e pelo filósofo Nicolau de Cusa, que mantinham uma perspectiva alinhada aos preceitos bíblicos em suas pesquisas.

Apesar de muitas vezes retratada como uma época sombria, a Idade Média não deixou de testemunhar avanços e progressos significativos. Diante das incertezas e desafios da contemporaneidade, é legítimo ponderar se não estamos regredindo em termos de civilidade em comparação com esse período historicamente designado como de "Trevas". Ao negligenciar o legado medieval e suas contribuições, especialmente como participantes de um contexto atual marcado por múltiplas formas de escuridão, revelamos ignorância e sobre tudo uma soberba que, conforme adverte o livro dos Provérbios (16.18), precede a queda.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

62 anos atuando Soli Deo Gloria

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