ENTREVISTA DA SEMANA

Dono da artilharia: Carlos Henrique de Moura Brito (Carlão)

Com o maior número de gols na Série A2 do Paulista, ele ajudou o clube a chegar às portas do acesso e conquistou o coração da torcida

Por Tisa Moraes | 06/04/2024 | Tempo de leitura: 5 min
da Redação

Bruno Freitas/Noroeste

Carlão comemora um de seus gols na Série A2 do Campeonato Paulista 2024
Carlão comemora um de seus gols na Série A2 do Campeonato Paulista 2024

Há pouco mais de um ano atuando no Esporte Clube Noroeste, Carlos Henrique de Moura Brito, o Carlão, 31 anos, ajudou o clube a chegar às portas do acesso à Série A1, cuja decisão ocorre neste domingo (7), e, com sua habilidade, humildade e simpatia, conquistou o coração da torcida. "Monstro", "gigante", "fenômeno" são elogios frequentemente direcionados ao atacante, artilheiro da Série A2 do Campeonato Paulista, com 11 gols.

Filho único de baianos, o atleta nasceu em Ribeirão Preto, onde foi criado pela mãe, Izabel, cozinheira que se formou posteriormente em administração. Descoberto aos 12 anos em uma escolinha de futebol, ingressou nas categorias de base do Paulista de Jundiaí, passando por diversos clubes brasileiros, inclusive na primeira divisão, como o Botafogo de Ribeirão Preto, São Caetano, Capivariano, Mirassol e Novorizontino.

O camisa 9 teve, ainda, uma experiência internacional na Arábia Saudita, onde enfrentou desafios culturais e linguísticos, mas também cresceu como pessoa e jogador. Na época, já era casado com Fernanda.

O retorno ao Brasil foi motivado pelo desejo de criar no País a filha do casal, Antonella, 1 ano, e culminou com a chegada do atacante ao Noroeste em 2023, a convite de Luiz Carlos Martins. Desde então, Carlão soma mais de duas dezenas de gols e, como consequência, arrebata admiradores.

Nesta entrevista, ele relembra sua trajetória, revela uma rotina de disciplina e os rituais pré-jogo que o ajudam a manter o foco, fala sobre sua relação com a torcida e projeta os próximos passos ao fim do Campeonato Paulista. Leia, abaixo, os principais trechos.

JC - Como você foi descoberto no futebol?

Carlão - Eu brincava muito de bola na rua, era fã do Ronaldo Fenômeno - que até hoje é uma inspiração para mim - e jogava campeonatozinhos de bairro. Aos 12 anos, entrei na escolinha de futebol e seis meses depois fui chamado para fazer teste no Paulista de Jundiaí, que tinha acabado de ser campeão da Copa do Brasil. O time estava no auge, tinha o Vagner Mancini como treinador, e ia começar a montar a categoria de base dos nascidos em 1992. Fui aprovado e fiquei lá por sete anos, sendo os dois últimos no profissional.JC - E saiu de lá para jogar onde?

Carlão - Em 2012, fui para Atlético Sorocaba e, em 2013, para o CRB, em Alagoas, retornando no mesmo ano para o Paulista. Em 2014, joguei no Capivariano na Série A2 e conseguimos o acesso. Depois, fui para o Botafogo de Ribeirão Preto e fomos vice-campeões da Copa Paulista. Em 2015, fui para o Paraná, na Série B, levado pelo Fernando Diniz, que foi um padrinho para mim. No fim de 2016, tive uma experiência na Albânia, minha primeira vez fora do País. Sempre tive vontade de jogar fora, mas lá foi diferente do que imaginava, porque não tinha brasileiro no time, não tinha tradutor e eles não falavam inglês. Fiquei um mês treinando e minha documentação nunca ficava pronta. Até que meu empresário me ligou falando que tinha dado errado, sem saber o que realmente aconteceu e voltei ao Brasil.

JC - Imagino que tenha sido difícil.

Carlão - Foi um baque, mas um aprendizado que levo para vida. De volta, fui jogar no São Caetano, levado pelo Luiz Carlos Martins, e fomos campeões da Série A2 em 2017. Fui artilheiro do campeonato e conseguimos o acesso. Em 2018, fui para o Sampaio Corrêa, na Série B. Depois, o Moises Egert me levou para o Mirassol e para o Novorizontino. Em 2019, fui para a Arábia Saudita, onde fiquei por quatro anos. Fui jogar no Al-Jabalain, na cidade de Hail. Eles falam inglês, havia brasileiros e a comissão técnica era de Portugal, o que ajudou muito. Mas a cultura do país é completamente diferente. Quando cheguei, só fazia dois anos que as mulheres podiam dirigir, ir a estádios, viajar sem os maridos. Elas só saíam em público cobertas, com exceção das estrangeiras, que podiam mostrar o rosto, usando véu para cobrir o cabelo. E tinha a questão da comida. Quando a gente viajava ao Brasil, voltava com uma mala de comida. Achei que a Fernanda não iria suportar, mas ela foi guerreira. Havia outros brasileiros com suas esposas e, com o tempo, fomos nos acostumando. Foi uma experiência muito boa, que abriu minha mente.

JC - Quando voltou ao Brasil, foi para jogar no Noroeste?

Carlão - Já tinha prometido ao Luiz Carlos Martins que, quando eu retornasse, iria jogar no Noroeste. Em 2022, minha esposa ficou grávida, era fim de ano e meu contrato com o Al-Jabalain só terminava em maio do ano seguinte. Como queria criar minha filha no Brasil, entrei em um acordo e vim. Mesmo tendo propostas financeiras maiores, optei pelo Noroeste pela promessa que havia feito, porque amigos daqui me falaram bem e a cidade fica próxima de Ribeirão. Cheguei em janeiro de 2023 e, desde então, vem dando tudo certo.

JC - Tão certo que já se tornou ídolo da torcida, não?

Carlão - Não esperava essa troca de carinho, ser abordado para tirar foto na rua, dentro do clube, a repercussão nas redes sociais, embora eu não seja muito ativo nelas. Acho que é o reconhecimento de um trabalho dentro de campo e fora também, pela forma de tratar as pessoas, de se preocupar em ser exemplo para as crianças. Nunca tive uma repercussão tão grande com a torcida como agora e é algo muito gratificante.

JC - Quem é o jogador Carlão e qual a probabilidade de continuar no Noroeste em 2025?

Carlão - Se o clube tiver intenção, penso muito em ficar, colocando na balança o que é bom para minha carreira e o projeto do clube. Eu gosto de desafios, de ser posto à prova. Tento me preparar para todas as situações e não ser pego de surpresa. Sou disciplinado, até chato, às vezes, sistemático. Gosto do que é correto. E sou um pouco supersticioso também. Entro no campo, por exemplo, com o pé direito, sempre calço primeiro o pé direito da meia, do tênis e, no aquecimento, só faço um chute a gol. São coisas bobas que me ajudam mentalmente.


Jogador com a esposa Fernanda e a filha Antonella

Carlão com a filha Antonella e fãs mirins no Estádio Alfredo de Castilho


Na infância, já íntimo da bola

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