COLUNISTA

Tolkien e a realidade

Por Hugo Evandro Silveira | 17/03/2024 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril.

A franquia "O Senhor dos Anéis" é uma das minhas preferidas, composta por sagas arrebatadoras. Embora ainda não tenha tido a chance de ler os livros, tenho planos de fazê-lo. O que mais me fascina nessa obra cinematográfica é como J.R.R. Tolkien consegue retratar a essência da vida de uma forma tão vívida. Cada filme é uma jornada épica, repleta de personagens complexos, cenários deslumbrantes e uma narrativa que transcende o mero entretenimento. Tolkien mergulha nas profundezas da condição humana, explorando temas universais como coragem, amizade, sacrifício e redenção. Como cristão que era, é perceptível os valores do cristianismo em suas obras. Seus mundos fictícios são ricamente detalhados, cada um com sua própria estória, mitologia e cultura, refletindo aspectos do mundo real de uma maneira que ressoa em conformidade com a narrativa bíblica. Através de seus personagens Tolkien nos mostra que mesmo em meio à mais profunda escuridão, há uma faísca de esperança que ilumina o caminho para um futuro perfeito.

Uma das cenas mais marcantes é a Batalha das Profundezas de Helm. Essa batalha intensa é um ponto crucial na trama de "As Duas Torres", o segundo livro da trilogia. À medida que as forças de Saruman avançam em direção à Fortaleza de Helm, no reino de Rohan, a sensação de iminente desgraça é palpável. Os Defensores, liderados pelo rei Théoden de Rohan, estão em clara desvantagem. O grupo dos Defensores é uma mistura de guerreiros experientes, jovens inexperientes e homens idosos, muitos dos quais não estariam normalmente em combate. Essa variedade entre os Defensores cria um forte contraste com o exército do mal, altamente organizado e numeroso, criado especificamente para a guerra e a destruição.

A Fortaleza, embora imponente com suas muralhas altas e sua proteção natural fornecida pelas montanhas ao redor, também se revela uma armadilha, sem uma rota clara de retirada ou escapada, intensificando a sensação de confinamento e claustrofobia para aqueles que estão dentro. Quando a batalha irrompe sob o manto da escuridão e uma chuva torrencial, o ataque incansável das forças de Saruman testa os limites dos Defensores, ao ponto de romperem as muralhas, forçando-os a retrocederem centímetro a centímetro. A brutalidade do ataque gera um sentimento de desespero entre os Defensores, fazendo com que cada pequena vitória pareça insignificante perante a inabalável maré das forças selvagens do mal. Contudo, mesmo diante de probabilidades avassaladoras, os Defensores enfrentam a batalha com uma determinação incansável. Sua bravura representa a luta mais ampla contra a escuridão e o desespero, evidenciando o poder da esperança, coragem e solidariedade diante de desafios aparentemente insuperáveis.

Essa batalha transcende o mero embate físico; é uma contenda moral e psicológica que encapsula os temas centrais da obra-prima de Tolkien: a resistência contra a escuridão dominante, a resiliência do espírito e a importância de manter-se firme diante de desafios esmagadores. Esse cenário serve como uma poderosa alegoria para a guerra espiritual enfrentada pelas pessoas em seu cotidiano, mesmo que a grande maioria não tenha plena consciência disso. O apóstolo Paulo aborda essa luta espiritual em sua carta aos Efésios: "Pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais" (Efésios 6.12). Nesta análise teológica do apóstolo, semelhante à narrativa fictícia de Tolkien, a fortaleza da fé representa o refúgio dos crentes, onde, embora pareçam estar em minoria e cercados por todos os lados, permanecem inabalavelmente firmes. As forças sombrias de Saruman podem ser equiparadas ao sistema maligno deste mundo, à carne e a Satanás - adversários persistentes e implacáveis na jornada cristã. Enquanto os altos muros da fortaleza oferecem proteção, também refletem a sensação de isolamento que os Defensores frequentemente enfrentam ao confrontar as tentações e terríveis provações.

Da mesma forma que os Defensores na saga de Tolkien se destacavam pela diversidade de suas origens, unidos na batalha contra as forças avassaladoras do mal, o corpo de Cristo é uma congregação de indivíduos provenientes de diferentes contextos, cada um enfrentando suas próprias batalhas internas e pressões externas. Mesmo diante de adversidades avassaladoras, a fé do crente não se fundamenta em sua própria força, mas naquele que o precede, o Senhor. Nessa batalha cósmica, cada ato de bondade, cada oração e cada verdade proclamada contribuem para a vitória final prometida por Deus. Assim como os Defensores na narrativa fictícia de Tolkien resistiram às trevas, os fiéis, na batalha da realidade, também permanecem inabaláveis, confiantes de que a vitória pertence ao Senhor e é garantida.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

61 anos atuando Soli Deo Gloria

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