BAURU

Entrevista da Semana: Ana Christina Ferreira; rompendo barreiras

Ela é a primeira mulher à frente da Associação Beneficente Portuguesa de Bauru, fundada há 110 anos e que deu origem ao Hospital Beneficência

Por TIsa Moraes | 10/03/2024 | Tempo de leitura: 5 min
da Redação

Tisa Moraes

Ana Christina Ferreira
Ana Christina Ferreira

Com sorriso fácil, voz calma, alma aventureira e talento em realizar, Ana Christina Ferreira, 65 anos, traz consigo uma herança de dedicação. Neta de um dos fundadores da Associação Beneficente Portuguesa de Bauru, ela conseguiu romper barreiras e tornar-se a primeira mulher a presidir a entidade, que deu origem ao Hospital Beneficência Portuguesa de Bauru há 110 anos.

A trajetória de Ana Christina começou como uma observadora atenta das ações do pai, Geraldo Ferreira, que também foi diretor executivo da instituição. Já integrante do Conselho Deliberativo, foi a primeira mulher a participar da diretoria do colegiado. Em 2012, foi eleita vice-presidente da associação e alçou à presidência dez anos depois.

Antes de seu envolvimento com a entidade, ela, que é formada em psicologia, dedicou décadas ao serviço público, inicialmente na reabilitação de trabalhadores acidentados e posteriormente em cargos de chefia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A experiência ajudou a moldar seu trabalho com foco nas pessoas.

Nascida em Bauru, casada com Cleber Tordivelli, mãe de Ana Carolina, 38 anos, e Ana Claudia, 34 anos, e avó de quatro netos, Ana Christina também dedica tempo para cuidar de si e compartilhar momentos ao lado da família e amigos. Apaixonada por viagens, música e estudos sobre desenvolvimento pessoal, ela é dona de uma trajetória inspiradora celebrada, nesta entrevista, na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher (8). Leia, abaixo, os principais trechos.

JC - O que a levou a atuar na associação?

Ana Christina - Meu avô, Antonio Augusto Ferreira, é português e um dos fundadores da associação, que, hoje, tem 470 associados. No começo do século passado, os portugueses vieram a Bauru para trabalhar na ferrovia e não tinham muitos amigos. Então, começaram a se reunir na casa de um deles para falar sobre Portugal, a família que tinham deixado, a saudade. Com a idade avançando e o surgimento de alguns problemas de saúde, eles se organizaram para montar um ambulatório. Em 1914, fundaram a associação e a estrutura do serviço de saúde foi crescendo, até chegar à criação do hospital, em 1927. Meu pai, Geraldo Ferreira, assim como muitos outros descendentes, manteve esse legado de pai para filho.

JC - Seu pai veio para trabalhar na ferrovia? Foi por influência dele que você assumiu a associação?

Ana Christina - Ele comprou terras e tinha gado, vendia leite. Trabalhou muito pela associação e eu acompanhava. Me tornei conselheira e, como era muito participativa, mais ou menos em 2010, fui a primeira mulher a ser convidada a participar da diretoria do Conselho Deliberativo. Em 2012, fui eleita vice-presidente da associação e, em 2022, em 108 anos, fui a primeira mulher eleita presidente da diretoria executiva da entidade. Este reconhecimento é gratificante. A diretoria é quem executa todas as ações burocráticas, como o contato com o hospital, a gestão dos recursos, aplicação de valores recebidos de alugueis de imóveis da associação e acompanhamento do contrato de gestão da Compliance.

JC - Você já estava na vice-presidência quando a Beneficência foi modernizada. Como foi esse processo?

Ana Christina - Em 2019, assinamos um contrato de gestão com a empresa Compliance Administradora Hospitalar e Ambulatorial, que é 100% capital da Unimed. Precisávamos de pessoas jovens para ampliar e modernizar os serviços e a estrutura do hospital, para que ele continuasse cada vez melhor. Houve uma grande injeção de orçamento. Agora, começará a construção do pronto atendimento adulto, o espaço onde ele fica hoje será remodelado para receber o pronto atendimento infantil.

JC - Antes de atuar na associação, trabalhou em que área?

Ana Christina - Me formei em psicologia e, antes de terminar a faculdade, passei no concurso do INSS. Fui trabalhar na área de reabilitação profissional física e psicológica, com pessoas, por exemplo, que perderam um braço ou uma perna em acidente de trabalho. O objetivo era possibilitar que elas voltassem ao mercado. Então, a equipe fazia as avaliações, prescrevia a conduta adequada, como, por exemplo, a confecção de uma prótese, trabalhava a parte psicológica, fisioterápica e de assistência social, dava cursos de capacitação, se necessário, para essas pessoas aprenderem um novo ofício, tudo gratuito, dentro do INSS. Era maravilhoso. Depois, em 2008, passei a gerente de agência em Botucatu, onde fiquei por dez anos, adquirindo uma experiência muito boa em gestão. Mas, como não queria mais viajar todo dia, voltei à unidade de Bauru como chefe da perícia médica, até me aposentar, em 2018. Fiquei no INSS por 37 anos e amava meu trabalho, mas chegou o momento de sair.

JC - Com a aposentadoria, além do trabalho na associação, o que mais gosta de fazer?

Ana Christina - Adoro passear. Minha mãe está acamada após uma queda e cuido dela, mas quando posso, a deixo com cuidadoras ou com meu irmão, que mora nos Estados Unidos, quando ele vem para cá, e viajo. Viajo uma vez por ano com três amigas e, recentemente, fomos para Ilha Grande (RJ). Também faço viagem uma vez ao ano com meu marido e a última, em dezembro, foi para a Irlanda, onde mora o filho dele. Agora, dia 21, vou sozinha, por três meses, realizar o sonho de uma vida, porque sempre quis morar fora e será uma forma de ter um pouco dessa vivência. Vou ficar um mês na França, depois vou para a Itália, passando pela Toscana, Florença, Siena, Roma e ficar uns 20 dias em Boston, nos Estados Unidos. Tenho cidadania espanhola e, agora, estou buscando a cidadania portuguesa e, no ano que vem, quero ficar três meses em Portugal. Também participo de um grupo de sete mulheres, denominado Grupo das Lobas e coordenado por uma psicóloga, que estuda livros de vivência e desenvolvimento interior. E gosto de rock. Já toquei guitarra e violão como hobby, mas hoje só acompanho meu marido, que tem banda e toca na noite.

O que diz a presidente da associação:

'Em 108 anos, fui a primeira mulher eleita presidente da diretoria-executiva da associação. Este reconhecimento é gratificante'

'Fazíamos todo o trabalho de reabilitação dos trabalhadores, inclusive psicológica, de forma gratuita, dentro do INSS'

'Agora, no dia 21, vou viajar sozinha, por três meses, e realizar o sonho de uma vida'

Ana Christina Ferreira no auditório da associação; ao fundo, a galeria de diretores executivos da entidade
Ana Christina Ferreira no auditório da associação; ao fundo, a galeria de diretores executivos da entidade
Ana Christina com Cesar Siqueira, vice-presidente da associação; Cleber Tordivelli, marido e conselheiro da entidade; Alberto Braud Sanches, do hospital; e o vereador Junior Lokadora, quando o hospital recebeu Moção de Aplauso por seus 95 anos, em 2023
Ana Christina com Cesar Siqueira, vice-presidente da associação; Cleber Tordivelli, marido e conselheiro da entidade; Alberto Braud Sanches, do hospital; e o vereador Junior Lokadora, quando o hospital recebeu Moção de Aplauso por seus 95 anos, em 2023

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