COLUNISTA

'Se queres podes curar-me'

Por Dom Caetano Ferrari | 10/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min

Bispo Emérito de Bauru

Prosseguindo na leitura contínua do Evangelho de São Marcos prevista para o presente ano, ouvimos na santa Missa deste sexto domingo do tempo comum o relato de mais uma cura de Jesus no trecho evangélico que fecha o capítulo primeiro, a saber: Mc 1,4-45. Desta vez, um leproso se ajoelhou diante de Jesus e disse: "Se queres, podes curar-me". Jesus, cheio de compaixão, estendendo a mão, tocou nele e disse: "Eu quero, fica curado!" Imediatamente, ele ficou curado. São Marcos continua a destacar os milagres de Jesus, porque são muito importantes para aclarar o sentido messiânico e salvífico de sua vida e missão. Os milagres, de um lado, farão a grande popularidade de Jesus, que ajudarão na sua missão evangelizadora, todavia, de outro lado, fomentarão a ira dos seus opositores que maquinarão o modo como persegui-Lo e eliminá-Lo. De tudo isso, tomamos conhecimento à medida da escuta do Evangelho, segundo São Marcos, que ouviremos ao longo deste ano.

Na Igreja há leigos e clérigos, todos são filhos de Deus e têm igual dignidade em razão da pertença a Cristo pelo Batismo. Deus envia os leigos para construírem o Reino de Deus na sociedade, numa família, com o seu trabalho e como cidadãos. Pelo Batismo e a Confirmação, Deus lhes concede os dons do Espírito Santo para bem viverem; e, ainda fortalecidos pela oração, a Eucaristia, os demais sacramentos e a vida na comunidade eclesial, para poderem alcançar a realização pessoal, familiar, comunitária e social, a santidade e a salvação. Os clérigos são vocacionados por Deus e ordenados ministros para o serviço do governo eclesial, do ensino doutrinal e da santificação sacramental. Em ambos os estados também há cristãos que pelos votos da obediência, pobreza e castidade se colocam à disposição de Deus na vida religiosa consagrada (Cf. Youcat, 138). Como enfatizou o Concílio Vaticano II, a "Igreja é Povo de Deus" que vive na história, onde todos os seus membros põem à luz do dia a "comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça (Lumen Gentium, 8)."

Já no primeiro século a expressão "leigo" foi usada na Igreja para distinguir o simples fiel do diácono e do presbítero. São João Crisóstomo, no século IV, aprofundou a reflexão teológica sobre a identidade dos leigos vocacionados à santidade em todas as circunstâncias em que as pessoas vivem, isto é, no meio do mundo. Ele ficou conhecido como o "Pai do Laicato". No Vaticano II, o Decreto "Apostolicam Actuositatem" sobre o Apostolado dos leigos põe em destaque a participação dos leigos na missão da Igreja. "Uma vez que é próprio do estado dos leigos viverem no meio do mundo e dos negócios seculares, eles próprios são chamados por Deus a exercerem aí o seu apostolado, à maneira de fermento, com entusiasmo e espírito cristão" (AA, 2). É tarefa primordial dos leigos inculturar a Igreja em toda parte do mundo, vivendo a vida cristã na sociedade. A consagração do mundo a Deus é, enfim, a missão do leigo. A Exortação Apostólica "Christifideles Laici" do Santo Padre o Papa São João Paulo II, que é tida como a "Carta Magna" dos leigos, convida os fiéis leigos para que escutem o chamamento de Cristo para trabalharem na sua vinha, para tomarem parte viva, consciente e responsável na missão da Igreja, nesta hora magnífica e dramática da história, no limiar do terceiro milênio (ChL,3)." No capítulo III fala da corresponsabilidade dos leigos na Igreja-missão, acentuando que chegou a hora de uma nova evangelização, para a qual devem participar, a partir da vivência do Evangelho, do serviço à pessoa e à sociedade, da promoção da dignidade humana, da garantia do direito inviolável à vida, da defesa da liberdade religiosa, da promoção da família, da caridade como sustentáculo da solidariedade, do protagonismo da política, do pôr o homem no centro da vida econômico-social, da evangelização das culturas. No Documento n°105, aprovado pela CNBB, os Bispos do Brasil aprofundam a reflexão sobre os "Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade." Os Bispos afirmam como ponto de partida e princípio de base que "A sociedade humana em construção e a Igreja em missão contam com cristãos convictos da própria responsabilidade para a edificação do Reino de Deus." No fim, como conclusão, os Bispos agradecem os leigos por sua atuação na Igreja e por seu trabalho na construção do mundo justo, sustentável e fraterno. Agradecem também os que vivem e batalham pelos princípios cristãos em sua vida secular, como professores liberais, formadores de opinião, lideranças sociais e trabalhadores em geral. Reconhecem o direito e a autonomia das diferentes formas de organização e articulação do laicato. Rogam a Maria, mãe da Igreja, para que acompanhem a todos os leigos e leigas, seus filhos e filhas, em cada dia da vida (ns: 276-284).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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