Quem vive em Bauru, provavelmente, já ouviu falar do projeto social "Eu amo o sertão" ou ao menos viu, em algum canto da cidade, a identidade visual deste trabalho, em que o "t" de "sertão" é substituído por um cacto. E quem está à frente desta iniciativa, que beneficia mais de 4 mil moradores do semiárido pernambucano, é o pastor Willians Silva, 48 anos, fundador da Igreja Rasgando os Céus, que tem sede no município e uma filial em Curitiba.
Nascido em Osasco, ele mudou-se com a família para Bauru quando tinha 7 anos e aqui teve uma infância e início de adolescência com restrições financeiras. As dificuldades, porém, não foram suficientes para abalar sua fé. Filho de pastor, sabia desde pequeno que seguiria os passos do pai e, em 2014, fundou a Rasgando os Céus, que possui cerca de 4 mil fiéis e está prestes a completar dez anos.
Já a jornada solidária Willians no sertão começou em 2017. Desde então, com ajuda de voluntários, o projeto leva comida, água e atendimento de saúde aos moradores, entre outras ações que proporcionam melhoria das suas condições de vida. Formado em teologia, o pastor também é cantor, marido de Fúlvia e pai de Lincoln e Luan, que participam dos trabalhos desenvolvidos pela igreja.
Nesta entrevista, ele relembra o início difícil em Bauru, fala sobre o crescimento rápido da igreja, conta detalhes do projeto social, que foi ampliado para atender Bauru e região, e manifesta esperança de que, um dia, o sertão terá a estrutura que seus moradores merecem.
JC - Você nasceu em Bauru?
Willians - Nasci em Osasco. Meu pai tinha lojas de conserto de eletroeletrônicos, mas sofreu uma perda financeira grande. Viemos para Bauru quando eu tinha 7 anos, porque aqui moravam parentes da minha mãe, que nos ajudaram a recomeçar. Meu pai foi vender louças de porcelana na rua, meu irmão, salgadinho no Calçadão. Fazíamos pipa e vendíamos na Feira do Rolo. Depois, meu pai trabalhou perfurando túmulo em cemitério, com enxada, e levava a gente para ajudar. Eu tinha 11 anos e, com 12, tive meu primeiro emprego, como office boy, em uma empresa de engenharia.
JC - Nessa época, você já tinha despertado para a religiosidade?
Willians - Minha família era católica e, em 1981, nós nos tornamos evangélicos. Em 1987, meu pai foi consagrado pastor, abriu uma unidade da Igreja O Brasil para Cristo na sala de casa e fez cultos em família por um ano e meio. Depois, uma pessoa ofereceu um salão e a igreja foi avançando, chegando a cinco templos. Nela, fui líder de jovens, diácono e presbítero, até ser consagrado pastor, em 2008. Em 2014, tive um chamado de Deus e, em 1 de agosto daquele ano, fundei a Igreja Rasgando os Céus. O nome vem de uma música que um amigo, Evandro Vieira, compôs ao meu lado, em cima de um monte, quando eu tinha 12 anos, e denota que, rasgando os céus, Jesus virá buscar a igreja.
JC - A igreja vai fazer, então, 10 anos. A que atribui esse rápido crescimento?
Willians - É um milagre, só Deus para explicar. É uma igreja ética, que ama as pessoas, ama fazer obra social. Começamos com 116 pessoas, no Jardim Contorno. Quatro meses depois, alugamos o salão do fundo e ampliamos o espaço para 392 lugares. Após um ano, fomos para outro prédio no mesmo bairro, com 800 lugares. E, em fevereiro de 2019, mudamos para o prédio atual, na avenida Rodrigues Alves, com capacidade para 3 mil pessoas. São três cultos por domingo e um na quinta-feira, o Quinta Estabelece. Aprendi que quem abençoa é abençoado. Devemos tratar bem as pessoas e sermos felizes.
JC - Por que decidiu criar um projeto social em pernambucano e que frutos ele já deu?
Willians - A obra começou em agosto de 2017, depois que vi uma reportagem na TV sobre as cidades mais pobres do Brasil, no sertão de Pernambuco: Manari, Inajá e Ibimirim. E Deus falou para eu fazer algo por aquelas pessoas. Consegui contato com um pastor de lá e nos mobilizamos para arrecadar alimentos aqui. Em novembro, sem entender nada sobre o sertão, levamos uma carreta com 32 toneladas de alimentos e uma equipe de 14 voluntários, incluindo médicos e dentistas. Lá, vimos que havia falta de água, moradias precárias, de taipa, e, nessa mesma viagem, fizemos a primeira casa de alvenaria. Com o apoio de três missionários de lá, que identificam as demandas, construímos 12 casas e perfuramos 11 poços até 2023. E estamos construindo um centro social em uma área de 5 mil metros quadrados, que terá dormitórios, cozinha, salas de aula, clínica médica e odontológica, área para hospedagem e quadras esportivas.
JC - Os atendimentos de saúde continuam?
Willians - Na semana em que estamos lá, são 70 atendimentos médicos por dia, temos dentista, doamos remédios, itens de higiene, ração para cães e gatos e kits completos de material escolar para as crianças. Já fizemos oito viagens, com ajuda a cerca de 4 mil pessoas. Talvez eu faleça antes, mas acredito que o sertão, um dia, vai ter asfalto, saneamento, educação melhor, padaria, emprego, recursos. Eu digo que herança é o que os olhos veem e legado é o que você deixa dentro de alguém. Então, prego que as pessoas construam melhor o legado do que a herança, porque ele nunca acaba.
JC - A igreja também faz doações para Bauru?
Willians - Desde 2021, o projeto é o 'Eu amo o sertão e minha cidade', doando a mesma quantidade de cestas para o sertão e para Bauru e região. Distribuímos nos bairros mais pobres e em entidades que atendem crianças, adolescentes, pessoas em situação de rua, dependentes químicos, além de igrejas evangélicas e centros espíritas. Apenas em Bauru, já fizemos 49 entregas.
JC - Sua família participa destas ações?Willians - Sim. Minha esposa é líder das crianças na igreja. É uma pessoa sensacional, humilde e com um coração gigante. Somos casados há 25 anos e ela é meu ponto de equilíbrio. Meus filhos também são muito atuantes na obra. Os três participam de tudo, me acompanham no sertão e ajudam muito. Gostamos muito de ficar juntos e, embora não sejamos uma família perfeita, lutamos para sermos felizes.
Pastor Willians em culto na Igreja Rasgando os Céus
Pastor Willians com a esposa, Fúlvia, em ação social no sertão pernambucano
Comentários
1 Comentários
-
Marina Rodrigues Fernandes Souza 20/01/2024Este projeto social é maravilhoso e direcionado por Deus, assim como todos os projetos da igreja! Louvado seja Deus pela vida dessa família tão abençoada que conduz uma igreja que ama pessoas!