COLUNISTA

O Natal é uma celebração pagã?

Por Hugo Evandro Silveira | 23/12/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Sim e não! A princípio, o Natal traz à memória o nascimento de Jesus Cristo. Os cristãos acreditam que, em Cristo, Deus se manifestou na humanidade, tornando-se Emanuel - "Deus Conosco" (Mateus 1.23). No entanto, alguns afirmam que as festividades natalinas tem raízes não cristãs. A origem dessa celebração de 25 de dezembro está longe de ser clara. O solstício de inverno (festividade que tem sua iniciação perdida na antiguidade) frequentemente associado ao Natal - o nascimento da luz do mundo - nunca ocorre em 25 de dezembro. Da mesma forma, a Saturnália (festival em honra ao deus Saturno), sugerida como origem do Natal, nunca foi celebrada em 25 de dezembro. A verdade é que o 25 de dezembro, para o nascimento de Jesus não tem base na Bíblia nem reflete a realidade do seu nascimento.

A experiência humana demonstra que o significado de qualquer palavra, símbolo ou costume, é determinado pelo uso e significado atuais, e muito pouco pela origem. Numerosas expressões e costumes se distanciaram de suas origens, e, com frequência, o significado atual delas difere consideravelmente do original. Dois rápidos exemplos: O símbolo da Suástica existe há séculos como um sinal de boa sorte; entretanto, seria absurdo usar a Suástica hoje, mesmo intencionando o seu significado original, que se tornou completamente irrelevante. Hoje, a Suástica é identificada com o Nazismo, com os horrores do Holocausto, um símbolo do antissemitismo e de todo mal. O nome NIKE representa hoje uma marca esportiva, mas poucos sabem que, em sua origem, é o nome da deusa grega da vitória. Quando alguém usa essa marca, não se presume que o usuário seja um adorador da deusa, absolutamente. Portanto, em geral, com as devidas precauções, os símbolos devem ser avaliados não somente em sua origem, mas também com base em seu significado e importância atuais.

No caso das festividades do Natal, é fato que se começou originalmente como uma cerimônia não cristã, mas foi assimilado com tanto sucesso pelos cristãos que qualquer ancestral pagão ficaria surpreso com a adaptação feita. As celebrações do Natal são tão diferentes do original pagão, que qualquer conexão entre os dois é sem sentido. Em tempo, a Bíblia não recomenda o Natal, mas ordena a celebração da morte de Cristo, ressurreição e sua segunda vinda (1ª Coríntios 11.25,26).

Agora, imagine os cristãos dos séculos II ou III ponderando sobre as "festividades da Saturnália" em sua era: "A cidade toda está celebrando a Saturnália, com festas e trocas de presentes, focando na 'libertação das almas imortais' na esperança de uma era vindoura. Esse é o momento ideal para organizarmos uma celebração, convidar amigos não cristãos e compartilhar como suas almas podem verdadeiramente serem libertas na eternidade do Reino de Deus através do nascimento, morte e ressurreição de Cristo! Seria ótimo também presenteá-los, em reconhecimento a Deus, que nos deu Seu maior presente, Seu Filho!". Desta forma, "a celebração do Natal" foi ressignificada para a glória de Deus, e os cristãos abriram uma oportunidade de culto na festa originalmente pagã. Fantástico! Os cristãos primitivos foram tão brilhantes na aplicação de um novo significado às festividades de Natal, que ninguém mais se lembra de sua origem.

Apesar da ampla celebração do Natal entre os cristãos atuais, é crucial evitar práticas excessivas: 1) a gula, considerada pecado; 2) embora Jesus não proíba o consumo de bebida alcoólica, a embriaguez é condenada; 3) apesar da aceitabilidade dos presentes, contrair dívidas ou gastar além das possibilidades vai contra os ensinamentos de Jesus.

Jesus nasceu em 25 de dezembro? Não! O Natal é uma festa capitalista? Sim. Papai Noel e a árvore fazem parte da cultura pagã? Sim. Logo, não vou comemorar o Natal? Certo? Não! Insistimos tanto para que as pessoas conheçam Jesus, e, agora, nessa oportunidade ímpar, iremos negar? Penso ser uma oportunidade de propagar o verdadeiro significado do Natal, proclamar Cristo como "a razão da época" e apontar para o Salvador do mundo.

É verdade que parte das tradições natalinas tem raízes em culturas pagãs. Nessa história existem cristãos sinceros em ambos os lados: Alguns aceitando a prática sem reflexão; outros rejeitando integralmente - presos a uma subcultura legalista; e os que ponderam cuidadosamente, aceitando o que podem e rejeitando o que não cabe. Se você não pode observar a tradição natalina porque acredita que ela está impregnada de paganismo, evite celebrar, mas respeite as convicções e a liberdade de cada um (Confira: Romanos 14.5).

• Paganismo "Crê ou adora vários deuses, ídolos" - (Priberam).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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