Será o sepultamento a única opção a ser considerada por um cristão quando se lida com o tratamento póstumo de um corpo? A Bíblia não oferece instruções específicas sobre como tratar um corpo após a morte. Nas culturas antigas, o sepultamento em túmulos, cavernas ou solo era comum para a disposição de corpos humanos (Gênesis 23.19; 35.19-20, 29; 2 Crônicas 16.14; Mateus 27.60-66). Os túmulos acima do solo eram reservados aos ricos, enquanto os menos privilegiados eram enterrados no solo. Nos tempos do Novo Testamento, os túmulos acima do solo também eram destinados aos mais influentes. No caso de Jesus, sem riquezas terrenas, ele foi sepultado em um túmulo emprestado (Mateus 27.57-60).
Entre os cristãos, quanto ao tratamento póstumo de um corpo, a cremação nunca foi a opção preferida ao longo dos séculos. De acordo com minhas leituras, somente em 1963 o Vaticano, por meio do Papa Paulo VI, autorizou a cremação para os católicos mortos. Nas igrejas evangélicas, embora a cremação nunca tenha sido proibida, o sepultamento é a forma póstuma frequentemente recomendada e preferida. Entre os espíritas, a cremação é aceita, desde que respeitadas as primeiras 72 horas após a morte, pois a crença sugere ser o tempo necessário para o espírito se desvincular do corpo material. O islamismo considera a cremação como pecado, enquanto no judaísmo, especialmente entre os ortodoxos, cremar é estritamente proibido. O budismo, por outro lado, favorece a cremação.
Hoje, no Ocidente, em linhas gerais, a conformidade com as leis locais relacionadas a cadáveres é crucial. Cada país ordena suas leis e regras no tratamento póstumo de um corpo. A prática cristã sugere o dever de cada fiel obedecer às leis do país em todos os assuntos (Romanos 13.1-6).
No campo da fé, nenhum dos métodos de tratamento do corpo pós-morte é explicitamente ordenado ou proibido na Bíblia. Contudo, indubitavelmente, o fato de judeus e cristãos primitivos praticarem exclusivamente o sepultamento influencia a escolha dos crentes atuais. Além disso, o fato de as únicas referências bíblicas à queima dos mortos estarem associadas à punição dos ímpios (Levítico 20.14; Josué 7.25) leva muitos cristãos a rejeitarem a cremação. Ademais, o grande receio gira em torno da não ressurreição; todavia, o ato da cremação não impede a ressurreição pelo poder de Deus, prometido por Cristo Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente" (Mateus 11.25,26) - "A vontade do Pai que me enviou é esta: 'Que nenhum dos meus se perca, mas que sejam ressuscitados no último dia', porquanto a vontade do Pai celestial é esta: 'Que todo aquele que... crê em Mim tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia'." (João 6.39,40). Logo, mesmo os corpos dos cristãos - "dos que creram em Cristo" - tenham falecido há milênios e tornado pó, isso não dificultará a capacidade de Deus ressuscitá-los. Trata-se da ação sobrenatural daquele que cria todas as coisas do nada, que traz à realidade aquilo que não existe. Com isso, a cremação apenas acelera o processo de decomposição de um corpo, que inevitavelmente se tornará em pó. Deus é totalmente capaz de ressuscitar os restos mortais de uma pessoa cremada, assim como é capaz de ressuscitar os de uma pessoa não cremada. A decisão entre sepultamento e cremação está dentro da esfera da liberdade cristã. Aqueles que ponderam sobre esse assunto devem buscar sabedoria em suas orações (Tiago 1.5) e seguir a convicção resultante.
Portanto, concluímos que essa é uma decisão pessoal. Embora o sepultamento fosse a prática comum bíblica, a Bíblia não o designa como a única forma permitida de disposição de um corpo. Não há nenhum mandamento bíblico explícito a favor ou contra a cremação. Além disso, o método utilizado para lidar com o corpo não é tão relevante quanto a verdade subjacente ao conceito cristão de sepultamento, que reflete a compreensão de que o corpo não mais abriga a pessoa falecida, sua alma e espírito. Paulo, o apóstolo, descreve nossos corpos como "casas", residências temporárias, e afirma que, quando esta casa terrena se desfizer, Deus nos proporcionará uma habitação eterna nos céus (cf. 2 Coríntios 5.1). Quando Jesus cumprir sua promessa de retornar, estabelecendo seu Reino eterno, os cristãos, a saber, todo aquele que creu no Filho de Deus, serão ressuscitados, e receberão corpos glorificados e eternos, como explica 1 Coríntios 15.42-43.
Comentários
1 Comentários
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Roberto Bastos 19/12/2023Nôs diz a Escritura, \"que o mar dará seus mortos ,o fogo do inferno também \",isto demonstra que quanto a primeira morte indiferente de como morremos é qual destino é dado ao corpo,o mesmo será restituído para o julgamento independente de idade,cor,raça,sexo ou posição social configurando aí a segunda é definitiva morte,assim nôs fala,\"Apocalipse 20-13,15.\",apenas creia e aguarde!