SEM ENERGIA

Na zona rural de Bauru, problemas na rede deixam produtores até 4 dias sem energia

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
André Fleury Moraes
Márcio Limão, Rogério Hideo, Márcio Shinohara, Noriaki Shinohara e Emílio Fanton. Se não há energia, cenário que se tornou comum, alternativa é recorrer à vela
Márcio Limão, Rogério Hideo, Márcio Shinohara, Noriaki Shinohara e Emílio Fanton. Se não há energia, cenário que se tornou comum, alternativa é recorrer à vela

A zona rural de Bauru sofre em silêncio - ou sem ser ouvida - quando há problemas na rede elétrica em decorrência de chuvas ou mesmo de ventos um pouco mais fortes. Empresários da região de Tibiriçá, distrito do município, afirmam que chegam a passar quatro dias sem energia e calculam prejuízos que superam R$ 20 mil por produtor.

Concessionária do serviço, por sua vez, a CPFL afirma que faz investimentos periódicos para evitar o problema. Mas o argumento não convence o produtor rural Márcio Limão, representante do setor e responsável pela representação que levou o Ministério Público (MP) de Bauru a instaurar inquérito para apurar as sucessivas quedas de energia no município.

"É um problema recorrente. A energia cai com qualquer chuva e ou vento. Isso ficou insustentável recentemente. Foi quando decidi ir à promotoria", conta. Empresário no setor de laticínios, ele explica que a falta de energia gera problemas em cadeia - do estresse sofrido pelo animal à perda do que foi produzido.

"Há horários certos em que fazemos a ordenha mecânica na vaca. Se houver mais de uma falha elas já se estressam", explica. Segundo Limão, há uma empresa que trabalha com porcos e eles ficam sem água quando há falta de energia - a captação é realizada por bombas, afinal.

Os refrigeradores também deixam de funcionar, e a alta temperatura pode colocar até mesmo a vida dos animais em risco.

Os prejuízos giram em torno de R$ 20 mil por produtor rural quando há problemas nesse sentido. O valor pode ser maior ou menor, a depender da quantidade e do produto perdido. "Na piscicultura, por exemplo, milhares de peixes podem morrer caso a água não receba oxigênio", explica.

Márcio e outros produtores conversaram com o JC na quinta-feira (23) nas dependências do recanto Shinohara, à beira da rodovia Marechal Rondon (SP-300) e em torno do qual há dezenas de propriedades rurais - todas impactadas pelo problema na rede elétrica.

O alerta veio ainda durante a entrevista. Não chovia forte naquele momento, mas mesmo assim as luzes do local piscaram, um sinal de que a energia poderia cair a qualquer momento. "Olha só", mostrou Limão ao apontar para uma luminária.

O médico veterinário Emílio Fanton cria e atende bovinos e equinos da região de Tibiriçá há décadas e ressalta para o risco que esses animais correm diante de altas temperaturas. "Há até a possibilidade de aborto [involuntário] dos filhotes", alerta. Uma única perda, explica o profissional, pode girar em torno de R$ 50 mil.

A instabilidade na rede elétrica ainda coloca em risco motores e outros equipamentos que exigem energia.

O produtor de hortifruti Rogério Hideo Yamada precisa molhar suas estufas pelo menos duas vezes por dia. Quando não há energia elétrica, as bombas não funcionam e a irrigação não funciona. "Até tenho um gerador, mas dá para duas ou três irrigações. Quando ficamos dias sem energia o prejuízo é inevitável", pontua. Ele estima ter perdido uma produção que gira em torno de R$ 20 mil.

A situação em Tibiriçá ficou tão insustentável na semana retrasada que uma festa de casamento precisou ser cancelada porque o fornecimento de energia elétrica foi interrompido pelos problemas na rede. Para piorar, relatam os moradores, a torre das operadoras não tem gerador próprio e, se não há eletricidade, o sinal simplesmente não funciona. "É impossível se comunicar", diz Márcio.

Noriaki Shinohara é proprietário do recanto homônimo ao sobrenome à beira da Marechal Rondon. E perdeu a conta das vezes em que sofreu com problemas relacionados à falta de energia. O local tem um gerador, mas o equipamento não cobre o espaço todo. "A câmara fria não funciona, por exemplo. E aí precisamos transferir os alimentos, que podem ser perdidos", lamenta.

Em nota encaminhada ao JC, a CPFL Paulista afirma que "realizou um monitoramento da região mencionada, em Tibiriça, onde foram identificadas árvores de grande porte (eucaliptos) plantadas de maneira irregular. A execução dos serviços mitigadores já está no cronograma estabelecido pela concessionária e será realizado com o objetivo de combater ocorrências relacionadas ao fornecimento de energia para os clientes da região".

A concessionária disse ainda que "atua periodicamente, dentro seu plano anual de vegetação, realizando o livramento de segurança da rede elétrica. Ainda assim, sempre que há ventos fortes, árvores de grande porte podem ser abaladas, atingindo a fiação elétrica e comprometendo o fornecimento de energia".

A companhia acrescentou que investe continuamente no setor e que "de janeiro de 2021 a outubro de 2023, foram investidos R$ 67,1 milhões" nas áreas urbana e rural de Bauru.

Rogério Hideo aponta para as ‘falhas’ em uma de suas estufas: prejuízo em torno de R$ 20 mil  (crédito: André Fleury Moraes)
Rogério Hideo aponta para as ‘falhas’ em uma de suas estufas: prejuízo em torno de R$ 20 mil (crédito: André Fleury Moraes)

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