COLUNISTA

506 anos da Reforma

Por Hugo Evandro Silveira | 04/11/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Nesse 31 de outubro celebramos os 506 anos da Reforma Protestante. O monge agostiniano, Martinho Lutero, confrontado por uma crise existencial em relação à salvação divina, teve uma revelação marcante em Romanos 1.17: "O justo viverá pela fé". A partir desse momento Lutero compreendeu que a dádiva da salvação não advinha de nenhuma outra autoridade além da fé em Cristo. Desde então começou-se a desenvolver-se a chamada doutrina da Graça, objeto de profunda reflexão dos Reformadores Martinho Lutero, João Calvino, Ulrich Zwinglio, Philipp Melanchthon, Thomas Müntzer, Martin Bucer, Johannes Brenz e outros, com implicações diretas na salvação pessoal.

A data icônica de 31 de outubro de 1517 marcou a afixação das 95 teses contra as indulgências na porta da Igreja do Castelo de Wittemberg, um marco inicial do movimento da Reforma Protestante. Esse movimento deu origem aos cinco pilares fundamentais da fé cristã - conhecidos como "AS CINCO SOLAS", em latim - princípios compartilhados por diversas denominações cristãs, como luteranos, batistas, metodistas e presbiterianos. Esses pilares foram definidos ao longo de um processo de discernimento e estudos de historiadores, pastores e teólogos, seguindo uma lógica sequencial: 1) Sola Scriptura (Somente a Escritura, ênfase nas Escrituras Sagradas), 2) Sola Fide (Somente a fé, salvação pela fé), 3) Sola Gratia (Somente a Graça, destaque para a graça soberana de Deus), 4) Solus Christus (Somente Cristo, ênfase na suficiência de Cristo) e 5) Soli Deo Gloria (Somente a Deus Glória, atribuição exclusiva de glória a Deus).

Em 1996, uma reunião em Cambridge, Massachusetts, EUA, reuniu aproximadamente 100 delegados eclesiásticos de diferentes denominações históricas, sistematizando cada um dos cinco pilares. Esse encontro resultou na Declaração de Cambridge, um documento emblemático que consolidou esses fundamentos teológicos.

Diante dessa evolução, cada pessoa deveria ser capaz de examinar os textos bíblicos que claramente afirmam o propósito soberano de Deus na eleição soteriológica, e se alegrar, louvando ao Senhor. Negar ou restringir a eleição soberana, rotulando-a como 'injusta' ou 'irreal' e relegando-a a prateleiras teológicas, é privar as pessoas da compreensão plena da soberania de Deus a meros limites humanos. Nossa adoração verdadeira e aceitável deve ser uma resposta à totalidade da verdade de Deus, revelando quem Ele é e o que tem feito.

Quando compreendida corretamente, a doutrina da eleição exclui a arrogância e fomenta a humildade. Tal postura é essencial para uma adoração autêntica. Diante da soberana bondade de Deus, o coração humano se curva humildemente, sem arrogância, direitos ou orgulho. Quanto a isso, o apóstolo Paulo ensina, em 1 Coríntios 1.24-31 que Deus nos escolheu e chamou. Logo, a presença de alguém em Cristo não é autogerada, mas é resultado da eficiência soberana de Deus (v. 30). A glória e a exaltação daquele que crê não vêm de si mesmo, de sua simples capacidade ou vontade, parentesco e escolha (Jo 1.13; Rm 9.16), mas exclusivamente de Deus. Toda a glória deve ser atribuída ao Deus que escolheu, predestinou e chamou um povo para adorá-Lo e louvar a glória de Sua graça.

O movimento da Reforma Protestante foi ratificado durante o Sínodo de Dort, realizado em Dordrecht, Holanda, em 1618 - 1619. Nesse concílio foram estabelecidos outros cinco pontos que deram origem ao acróstico TULIP ("tulipa" em inglês), conhecido como Doutrina da Graça, abrangendo de maneira simplificada a teologia reformada dos Cinco Solas: T: Total Depravity (Depravação Total); U: Unconditional Election (Eleição Incondicional); L: Limited Atonement (Expiação Limitada); I: Irresistible Grace (Graça Irresistível); P: Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos). Esse sistema dogmático, Cânones de Dort, trataram da área da salvação (soteriologia) claramente fundamentadas na revelação bíblica.

Com isso, ficou esclarecido que o ser humano não deve confiar em si, não deve contar com suas próprias ações, obras, obediência ou esforços no que tange a salvação eterna. Igualmente, não deve se apoiar em suas habilidades ou poder de atração. Motivos egoístas ou autorrealização devem ser rejeitados. A essência do cristianismo bíblico está em enaltecer Deus e diminuir o homem. Devemos afastar o humanismo, seja ele secular ou cristão. Deus não compartilhará sua glória com ninguém. A alegria e a plenitude para os filhos de Deus advêm de contemplar o amado Salvador, por sua graça soberana, concedendo misericórdia salvadora, gerando contentamento ao exaltar somente a Deus. A Palavra de Deus, sua Graça e sua Glória são o que realmente importa na vida. Que possamos vislumbrar o vasto quadro do plano redentor divino, e assim nossos corações transbordarão em louvor pela soberana salvação do Senhor.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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