OPINIÃO

Os assassinatos dos aquíferos de Bauru

Por Arq. José Xaides Sampaio Alves |
| Tempo de leitura: 3 min

Se tem algo que o próximo prefeito e vereadores de Bauru e de cidades vizinhas poderão optar em fazer é não continuarem a assassinar os aquíferos superficiais e profundos de Bauru. Mas é lamentável constatarmos, empírica e cientificamente, que vem havendo conivência e cumplicidade dos gestores, especialmente de 2009 para cá, com os processos de assassinatos dos aquíferos pela especulação imobiliária sobre áreas de recargas de rios e córregos urbanos, como na cabeceira do rio Bauru, e sobre a ocupação irracional das áreas de recargas rurais do aquífero Guarani e de rios como o Batalha.

Várias evidências como esta noticiada no JC (edição de 26/10), do próprio DAE, sobre o rebaixamento do Aquífero Guarani, através das queimas constantes de bombas do Reservatório da Cardia, como já ocorreu no do Altos da Cidade e outros, vem sendo sinais dos riscos para o futuro da sustentabilidade do fornecimento de água pra cidade. Água virará ouro e custará caro no deserto que por aqui estão querendo que retorne.

Por favor, tenha paciência leitor, continue lendo!

Por outro lado, temos assistido também o assassinato constante de córregos urbanos pela expansão irracional imobiliária, como já foi constatado no Córrego do Sobrado e Córrego das Flores, e que está ocorrendo com o rio Bauru e outros córregos da cidade. Os políticos e especuladores tradicionais os matam sem pudor, quando permitem a diminuição da capacidade de absorção das águas de chuvas pelos topos de morros e cabeceiras dos rios e córregos, permitindo unidos por seus interesses, as impermeabilizações derivadas de construções de condomínios horizontais. Será que ainda não enxergaram as outras soluções mais sustentáveis? Ou se fazem de desentendidos?

É lamentável vermos que os prefeitos "máscaras verdes" foram os que abriram, a partir de 2009, o assassinato do rio Bauru. Junto a essas ações insustentáveis para a produção de água, há aquelas políticos e especuladores que pregam mudarem as leis para destruírem as matas de cerrado - "Os moto serras".

Os "máscaras verdes" e os "motosserras" estão nem aí pras mudanças climáticas e suas consequências em Bauru. Muito menos para os estudos históricos e da nossa geografia, pouco importando-lhes que "a capital da terra branca" tivesse recebido esse título, por estar sobre solo arenoso que um dia foi deserto, como provou o dr. Aziz Ab'Sáber. Pouco importam-lhes que tenha demorado milhares de anos para que sobre o deserto nascesse gramíneas e depois nossas florestas de cerrado e junto com elas nascessem nossos rios e córregos.

Por "alguns trocados" derivados para o mercado imobiliário, pouco importam-lhes que a desertificação definitiva de Bauru aconteça no futuro próximo e as "águas de beber" se tornem "ouro no deserto". A falta dágua já é visível. Aliás, a água se tornando escassa e valiosa como ouro, interessará ainda mais à privatização, coisa de interesse do dito mercado, cujo debate já foi iniciado sobre o saneamento. Que se dane a maioria da sociedade mais humilde.

Mas ainda é possível corrigir isso com as novas possibilidades de regulamentações no uso e ocupação do solo na revisão do Plano Diretor Participativo. Tenho "martelado isso na cabeça dos políticos", acreditando que não se precisa de ouro, mas que "água mole em pedra dura, tanto bata até que fure".

Mas pergunto: há ainda nessa gestão, algum político estabelecido preocupado com a mudança de fato desses paradigmas para preservar nossas águas? Alguém de fato vai também por a cabeça no lugar e querer tocar nessa questão na revisão do Plano Diretor? E corrigir estes erros dos máscaras verdes e segurar os motos serras? Bauru precisa de mudanças radicais na política e na ocupação do solo para não virar deserto e continuar a ter água próxima e barata. Para nós, as mudanças climáticas já tem consequências visíveis. Tenho dito.

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