OPINIÃO

De casamento, bicicletas e cães

Por Zarcillo Barbosa | 28/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista e articulista do JC

A outra face da dúvida masculina já foi a bicicleta. Hoje, pode ser um cão. Mas nunca se viu qualquer menina viver o dilema de casar ou comprar uma bicicleta. Sendo mais objetivas, sabem que bicicletas e cães não preenchem vazios emocionais. Podem servir a exercícios, aquecer o corpo, distrair, mas não melhoram a alma.

Para os rapazes, entretanto, o medo do casamento chega às raias do pânico. Mesmo com separação de bens, os carinhas temem que a carga seja pesada demais para suas costas frágeis. Por isso, ainda que pareçam brincar, procuram opções mais confortáveis. E saem correndo para um canil, a procura do melhor amigo do homem.

Platão dizia que o que percebemos com a razão é de fato mais real do que o que percebemos com os sentidos. Num exercício de lógica, pensei (logo existo, Descartes!) quais seriam as melhores respostas à pergunta: "Por que os homens preferem os cães?"

Para começar: quanto mais o dono demora a voltar para casa, à noite, maior é a felicidade do cão, quando ele chega. Também não se viu até hoje um cão ofendido só porque você o chamou por outro nome. Além disso, se sentir em você o cheiro de outro, não ficará bravo ou infeliz. Vai achar até interessante.

Outra razão: o cachorro adora quem deixa roupas e objetos espalhados pela casa. Quanto mais, melhor. Ele adora brincar com sapatos, meias, toalhas molhadas e cuecas.

O cão tem o maior respeito pela sua autoridade. Se você fala alto e dá voz de comando, ele obedece prontamente, sem discutir, pois sabe quem manda no terreiro.

Não e preciso esperar um cão para sair. Dia e noite, ele está sempre pronto para passear. Não tem medo de baratas ou lagartixas e jamais o acordará, de madrugada, para perguntar: "Se eu morrer você vai arrumar outro cão?"

Num dos voos de repatriação de brasileiros, desde Tel Aviv, o avião da FAB também trouxe cães e gatos de estimação dos repatriados. Afinal, trata-se de uma operação humanitária patrocinada pelo governo. Não me pergunte se alguém deixou a sogra sob os mísseis do Hamas e trouxe só o cachorro.

Nem só de cães e gatos vive o casamento. Há homens que querem casar com outros homens e mulheres com outras mulheres. Aí surge um pastor deputado do PL e consegue parecer favorável da Comissão de Família da Câmara, em favor da tramitação de um projeto de lei proibindo casamentos homoafetivos. O Supremo Tribunal Federal reconhece, desde 2011 a união homoafetiva como um núcleo familiar. O Papa Francisco sugeriu bênção para uniões entre casais do mesmo sexo, embora não quer que confunda essa bênção com o sacramento do matrimônio. Foi um avanço. Agora, o político evangélico quer o retrocesso.

O Estado existe para garantir paz e tranquilidade aos cidadãos. Não tem nada que se meter nas preferências das pessoas por cães, gatos ou por pessoas do mesmo sexo. Casamento gay, aceita quem foi pedido. Os demais só têm que respeitar a vontade dos outros. Se vai dar certo, é problema dos nubentes, não do Estado. Quem quer fumar maconha que fume. O Estado não é babá das pessoas, já não dá conta das próprias mazelas.

É claro que nem tudo navega entre brahmas e brumas. Tenho a Júlia, minha Shih-tzu, que odeia futebol, gritos de gol e foguetes. Ficou mais aliviada quando soube que o Galvão Bueno se aposentou. O Wladmir, outro peludo de quatro patas lá de casa, não tolerava o jornal lançado na porta de casa. O vândalo urinava a ponto de ensopar da primeira à última página. Hoje, de tão velhinho, nem tem ânimo para descer três degraus da escada.

Dessas uniões homoafetivas não tenho muitas informações, mas se o seu cão for embora, por qualquer motivo, garanto que não vai quebrar pratos, queimar o Neruda que você emprestou, e ela nunca leu e, muito menos, se apossar de metade dos bens que você levou a vida inteira para juntar.

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1 COMENTÁRIOS

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  • Demerval Assis da Silva
    28/10/2023
    Que delicia de texto professor ,que merda de vida