COLUNISTA

Os Sete Pecados Capitais Parte VI - IRA

30/09/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Por Carlos Brunelli

Penne all'arrabbiata. Talvez esta seja uma das únicas versões em que o radical rabia - palavra em latim que significa raiva, zangado, nervoso, tenha uma conotação saborosa. O molho italiano, picante e apimentado, típico da região do Lazio, realmente é muito apreciado mundo afora.

A raiva ou ira, porém, no sentido de indignação que pode levar a uma agressão verbal ou física, nada tem de agradável ou apetitoso. Ao contrário, é condenável aos olhos humanos e, aos olhos de Deus, uma tolice: "Não se apresse em ficar irado, porque a ira se abriga no íntimo dos tolos" (Eclesiastes 7.9).

Sendo uma das emoções mais intensas e frequentes sentidas no dia-a-dia, não bastasse à ira a tipificação de tolice, tem ainda a propriedade de causar desavenças, divisões, brigas, sendo por isso classificada como um dos sete pecados capitais.

O evolucionista Charles Darwin, em seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, associa a ira à expectativa de sofrer alguma agressão ou ofensa intencional. Veja que a fúria humana, então, se manifestaria ante uma imaginada possibilidade de ataque, ou seja, seria desencadeada antes mesmo de uma investida real, a demonstrar que a raiva está à flor da pele do homem, sendo disparada por uma antevisão inconcreta de algo supostamente nocivo. Não à toa, psicólogos vinculam a ira a uma sociopatia denominada Transtorno de Personalidade Antissocial, caracterizada pelo comportamento impulsivo do indivíduo, desprezo por normas sociais e desrespeito pelos direitos e sentimentos dos outros. Traduzindo e adjetivando, temos agressividade, rebeldia e desamor. Nada mais demoníaco e pecaminoso.

O rei Davi, personagem bíblico que viveu, segundo descobertas arqueológicas mais recentes, entre 1040 e 970 a.C. escreveu cerca de 73 dos 150 salmos reunidos no livro de mesmo nome que integra o Antigo Testamento e, em um deles, já ensinava: "Deixe a ira, abandone a fúria; não se irrite; certamente isso acabará mal" (Salmo 37.8), não sem, no versículo imediatamente anterior, dar a receita para evitar tal pecado: "Descanse no Senhor e espere nele".

Descansar em Deus, nele esperando, é sinal de confiança e otimismo, a chave da paz que inunda a vida do verdadeiro cristão. Aquele que se entregou a Jesus, confessando o Filho de Deus como seu Senhor e Salvador, recebeu a graça da mansidão de espírito. "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra", proclamou Jesus no famoso Sermão do Monte e descrito em Mateus 5. Parece contraditório exaltar a mansidão em um mundo caracterizado pela prevalência da lei do mais forte. Um mundo onde ricos arrogantes, políticos inescrupulosos, ditadores impiedosos só querem tirar vantagem, e tiram. Jesus porém, longe de pregar subserviência ou uma índole derrotista, orientou seus seguidores a serem submissos ao Pai e a nele depositar toda a capacidade de reação, por estar Deus no controle de tudo.

Essa certeza é que rege a fé do convertido; de saber que ao fim e ao cabo prevalecerá o propósito divino, não a vociferação dos que destilam cólera e abominações por estarem dominados pela ira. Acalme seu coração e confie no Senhor.

Se o oposto da ira é a paciência, exerçamos nosso autocontrole diante de situações adversas, ante situações desagradáveis ou injúrias, sem perder a calma e a concentração nas verdades da doutrina bíblica, pois ela é o guia para uma vida plena e em paz. "Por isso, esforcemo-nos em produzir tudo quanto conduz à paz" escreveu o apóstolo Paulo em sua carta aos romanos.

Ou como assegurou Jesus antes de partir para o Pai: "Deixo-lhes a paz, a minha paz lhes dou" (João 14.27). O pecado da ira trava uma contínua batalha contra nós. A paz de Deus se move nos corações dos que quiserem aceitá-la, oferecendo alívio em lugar de turbulência, conforto em lugar de conflito.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

61 anos atuando Soli Deo Gloria

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.